Pai é pai e algo mais

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No latim, genitor era pater. Virou padre no português. Como quem fica parado é poste, mudou de forma ao longo do tempo. Especializou-se. Padre passou a designar o sacerdote da igreja católica. Pai, o homem que gera filho. Meninos e meninas carinhosos o chamam de paizinho, painho ou paizão. Os tempos modernos lhe ampliaram o papel. Se necessário, ele também desempenha a função de mãe. É o pãe.

 

Da Grécia ao Vaticano
 
Você sabia? Os greguinhos não são diferentes de brasileirinhos, francesinhos, americaninhos. Carinhosos, chamavam pai e avô de páppas. A palavra chegou ao latim. Na língua dos Césares, virou papa. Significava pai e pedagogo. Depois, tornou-se título de autoridades eclesiásticas. No século V, o Sumo Pontífice bateu pé. Papa era só ele. PT saudações.
 

 
Padre-nosso
 
O pai está na mais bela evocação do cristianismo. No caso, pai é Deus. Por isso se grafa com maiúscula. Eis como Mateus ensinou a prece: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, faça-se a tua vontade assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa as nossas dívidas assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, pois teu é o reino e a glória para sempre. Amém”.
 

 
Com ele ninguém pode
 
“Vocês podem acreditar na conversa, mas o papai aqui não cai na esparrela.” Viu? Papai se presta a gírias. No caso, significa eu. Mas não é um eu qualquer, mediano, sem saber e sem charme. Trata-se do contador de vantagens, sujeito cheio de si que se julga mais importante que o rei. No caso, o dissílabo vem antecedido do artigo definido ou do pronome este. O advérbio aqui também serve: Este papai não nasceu ontem. O papai não vai nem que Deus lhe peça. Este papai aqui acerta todas.
 

 
A latina
 
O direito adora exibir-se. A língua se presta à necessidade incontida que advogados, juízes, ministros & cia. togada têm de expor-se como se tivessem melancias penduradas no pescoço. Uma das preferências é o latim. A língua dos Césares pega bem à beça. Por isso, em vez de dizerem “pai de família”, soltam “pater familias”. Chique, não?
 

 
Senhora prole
 
Pai formou baita família na língua. Padre é um dos seus membros. Paternal, outro. Padrinho e padrasto, mais dois. Patrimônio veio do mesmo berço. É o conjunto de propriedades, bens e haveres amealhados pelos que trabalharam sob o comando do chefe de uma família ou muitas que viviam agrupadas sob as ordens do mandachuva. O pai era dono e senhor de tudo. 
 

 
Vem comigo

 
Que coisa, hein? Pai é versátil como a língua. Se necessário, junta-se a hifens, preposições e outras palavras pra formar novos vocábulos. Vale a pena dar uma espiadinha no pai-de-todos-nós, injustamente chamado pai-dos-burros, pra se divertir com a diversidade.

Lá está pai-de-santo ou pai-de-terreiro. Quer dizer babalorixá. O feminino? É mãe-de-santo. O plural? Pais-de-santo, pais-de-terreiro, mães-de-terreiro. Lá está também pai-de-todos. É o dedo médio. O plural? Pais-de-todos. Mais uma? Pai-joão. É a fantasia de carnaval que representa um preto velho esfarrapado. O plural? Há dois — pais-joões, pai-joões
 

 
É festa

 
Dia dos Pais é data comemorativa. Nome próprio, escreve-se com as iniciais grandonas. As festas do mesmo time gozam do mesmo privilégio : Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia do Advogado, Dia da Criança, Dia do Professor.
 

 
Carinho
 
Olho vivo. O diminutivo de pai é paizinho. O de país, paisinho. A pronúncia é a mesma. Mas a grafia não. Paisinho, bom filho, sabe que na língua a família está acima de tudo. Mantém o s da palavra primitiva — país, paisinho.
 
 
Recado

“Ser pai é ensinar ao filho curioso o nome de tudo.”

Lêdo Ivo, poeta