Machão é machão e não abre

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“São consumidas 12 milhões de sacolas plásticas por dia”, alardeia o Ministério do Meio Ambiente. Rádios de norte a sul deste país tropical repetem o bordão sem cerimônia e sem piedade. Ouvintes se desesperam. Consideram a campanha justa. O plástico compromete o meio ambiente por milênios. Evitá-lo é preciso. Mas o ouvido fala mais alto que a consciência ecológica. Dói. E otite, não é novidade pra ninguém, maltrata tanto quanto dor de dente ou cólica renal.

A razão do desconforto? A agressão à língua. Milhão é macho sim, senhor. Não admite trocar de sexo nem a pedido dos deuses do Olimpo. Mas, por alguma razão que a própria razão desconhece, muitos teimam em vesti-lo de calcinhas de renda. O desrespeito se dá numa ocasião especial — quando o dissílabo é seguido de nome feminino. É o caso. O descuidado olhou para “sacolas” em vez de “milhões”. Resultado: escreveu consumidas no feminino. Bobeou.

Em respeito a Camões, Pessoa, Machado, Clarice e a nós, donos de ouvidos sensíveis, a mensagem deveria ser esta: São consumidos 12 milhões de sacolas de plástico. Notou a diferença? Consumidos se refere a milhões. Concorda com ele.

Mais exemplos? Ei-los: Cerca de dois milhões de crianças participaram do concurso. Muitos milhões de mulheres são arrimo de família. Os milhões de brasileiras que disputam vagas no mercado de trabalho precisam provar mais competência que os homens. Muitos milhões de moedas deixam de circular porque ficam guardadas nos cofrinhos.