Leitor esperneia

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    “Socoooooooooooooorro”, gritou Yuri ao ler a matéria da pág. 21 do Correio. O brado chegou ao blog e ficou registrado no comentário. Trata-se desta passagem: “O comandante da 11ª Companhia de Polícia Independente, major Alfredo Luney, interviu”.

 

    É de chorar. Nas páginas, a triste história do verbo desacreditado. Intervir revela a família na cara. Mas ninguém acredita. Todos maltratam o pobre coitado. Mas ele dá o troco. Desmoraliza os algozes.

 

    Não duvide da paternidade de intervir. O exame de DNA comprovou. Ele é filho legítimo de vir. Conjuga-se do mesmo jeitinho do paizão. Veja o presente do indicativo: eu venho (intervenho), ele vem (intervém), nós vimos (intervimos), eles vêm (intervêm).

 

    Reparou? Na terceria pessoa do singular, há uma pequena diferença. Vem não recebe acento. Mas intervém ganha o grampinho. Sabe por quê? Eles são seres obedientes. Seguem as regras de acentuação gráfica.

   

    Ambos terminam em -em. Mas não são iguais. Um é monossílabo. Joga no time de bem. Não se acentua. O outro tem mais de uma sílaba. Entra na equipe de alguém, ninguém, armazém.

   

    O presente é moleza. Mas o pretérito e os tempos dele derivados são verdadeiras ciladas. Com eles, todo o cuidado é pouco. O macete: não perca a família de vista:

 

    Pretérito perfeito: eu vim (intervim), ele veio (interveio), nós viemos (interviemos), eles vieram (intervieram)

 


  Imperfeito do subjuntivo: se eu viesse (interviesse), se ele viesse (interviesse), se nós viéssemos (interviéssemos), se eles viessem (interviessem)

 

    Futuro do subjuntivo: se eu vier (intervier), se ele vier (intervier), se nós viermos (interviermos), se eles vierem (intervierem)

 

    Moral da história: O Yuri teria mantido a paz se tivesse lido “o major interveio”. É que intervir desmente o provérbio. Com ele,  quem vê cara vê coração.