Inteligência, humor e sacação

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Paródia, pra que te quero? Pra rir e fazer rir. Chegar ao humor caricato não cai do céu nem salta do inferno. Exige talento. Com gozação, o autor imita uma composição literária, uma peça teatral, uma música famosa ou um provérbio pra lá de conhecido. O resultado é sempre cômico.

“Quem ri por último ri melhor”, diz o povo sabido. O parodiador discorda. “Quem ri por último é retardado”, diz ele. Deus ajuda quem cedo madruga? Nem pensar. Quem cedo madruga passa o dia com sono. De onde menos se espera é de onde vem? “Bobagem”, responde Millôr Fernandes. “De onde menos se espera é de onde não vem mesmo.” Quem espera sempre alcança? Não caia nessa. Quem espera sempre cansa.

Gonçalves Dias escreveu “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá; / As aves, que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá”. Oswald de Andrade não deixou por menos. Trocou palmeiras por palmares, em alusão ao Quilombo dos Palmares. Deu, assim, expressão ao nacionalismo crítico do movimento modernista: “Minha terra tem palmares / onde gorjeia o mar / Os passarinhos daqui / Não cantam como os de lá”.

“Que tal nós dois / Numa banheira de espuma / El cuerpo caliente / Um dolce farniente”, canta Rita Lee. “Que tal dois bois / Numa fogueira assando / Um porco bem quente / Farofa al dente”, parodia Dj Ameba. “Gosto muito de você, leãozinho, / caminhando sob o sol”, entoa Caetano. “Gosto muito de você, Ronaldinho, quando joga futebol”, goza Edson Moreto.

No domingo, a coluna lembrou o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira. O leitor Roberto Carvalho se inspirou: “Vou me embora pro Congresso / Lá sou amigo de Sarney / Lá tem a propina que eu quero / Na conta que escolherei. / Vou me embora pro Congresso / Lá tem guaraná e pizza / Lá é que se é feliz / Lá tem dinheiro a rodo / E horas extras em dobro / Pra fazer as CPIS. / Vou me embora pro Congresso / Antes que tenha um mal súbito / E queira trabalhar. / Aqui na terra de ninguém / Poucos muito têm / Muitos nada além / E os homens eleitos pelo povo / A tudo dizem amém / Vou-me embora pro Congresso.