Há filhos, filhos e filhos

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Dia das Mães tem muitos significados. Para uns é sinônimo de presentear. Eles fazem a festa do comércio. Restaurantes ocupam as mesas. Lojas batem recordes de vendas. Hotéis esgotam a lotação. Para outros é oportunidade de homenagear quem lhes deu a vida. Eles conjugam o verbo esbanjar. Esbanjam flores. Esbanjam elogios. Esbanjam juras de amor. Esbanjam abraços e beijos.
Há também os indiferentes. Cheios de culpa por ignorar a criatura que os abrigou no útero, eles aproveitam pra ventilar a consciência. Dão um telefonema. Ou mandam uma cesta de café da manhã. Ou contratam flores. Em suma: sonegam a presença, mas limpam a barra até o próximo ano.  
Na boca do povo
Vamos combinar? Mãe é pra lá de importante. Ela tem útero. Gera e dá à luz crianças que virarão adultos que obedecerão à ordem do Senhor: “Crescei e multiplicai-vos”. Sem ela, cadê a continuação da espécie? Não é por acaso, pois, que a senhora da vida caiu na boca do povo. Eis provérbios de Europa, França e Bahia: “Só existem duas opiniões — a da mãe e a errada.” “Mãe só tem uma.” “Em coração de mãe sempre cabe mais um.” “Coração de mãe não se engana.” “Amor de mãe não envelhece.” “Quem os meus filhos beija a minha boca adoça.” “Mãe magra cria filho gordo.” “Se quer conquistar a mãe, elogie o filho.”   O Talmude ensina


“Quando se casa, o rapaz se divorcia da mãe.”
 
Carlos Lacerda radicaliza
“Mãe é mãe. Genitora é a tua. Progenitora é a vó.”  
De ela você veio?
A palavra mãe veio do latim. Na língua dos Césares, escrevia-se mater. Daí os derivados materno, maternal, maternidade. Filhotes menos óbvios nasceram do mesmo útero. É o caso de matrícula e matrimônio. Há também madre, madrinha e madrasta, que chegaram a nós pelo espanhol.  
Ora veja!
Que curioso! Em português, mãe começa com a letra m. Em outras línguas também. É o caso do inglês mother, do francês mère, do alemão Mutter, do suaíli mama, do grego mitir, do russo mat, do chinês mu. Ufa!  
Pra dar e vender
“Mãe é mãe”, diz o povo sabido. Mas há mães e mães. Duas delas se destacam. Uma: a mãe judia. Outra: a mãe coruja. Conhece?
Mãe judia
A mãe judia transmite a hereditariedade. Só é judeu filho de mãe judia. Filho de pai judeu não chega lá. Com tanto poder, a ilustre senhora é cuidadosa e possessiva. O amor exagerado a torna chantagista. Contam que ela compra três camisas pro filho. Manda-o escolher uma. Ele obedece. Ela não deixa por menos: “Sabia que você não gostava das outras duas”.
Mãe coruja
Bonito? Feio? Depende. “Quem o feio ama bonito lhe parece”, dizem os defensores da subjetividade. E completam: “Para quem ama, urubu é branco”. Esopo deu vida ao fato na fábula “A águia e a coruja”. Lembra-se? A coruja comia os filhotes da águia. A águia chorava, chorava, chorava. Depois se vingava. Comia os recém-nascidos da coruja. A coruja chorava, chorava, chorava.
Um dia, as duas prometeram respeitar os pequeninos. Mas havia um problema. Como identificar as corujinhas? A coruja explicou: “É fácil. Elas são bonitas, alegres, de corpo bem-feito, nariz afilado, olhos vivos. Nenhuma ave tem filhos tão lindos”. Dias depois, a águia encontrou um ninho com três filhotes dentro. Eram muito feios. “Não podem ser os filhos da coruja”, concluiu. E papou-os.
Mais tarde, a coruja voltou pra toca. Não viu os pequeninos. Chorou, chorou, chorou. Depois, foi acertar as contas com a outra. “O quê?”, surpreendeu-se a águia. Aqueles monstrinhos eram seus filhos? Não se pareciam em nada com a descrição que você fez deles. Eu os comi. A culpa é sua.”
Daí nasceu a expressão mãe coruja. Todas as mães acham os filhos lindos, inteligentes, sem defeitos — como a coruja. Sua mãe é coruja? A minha é.