Há erros e erros (2)

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  Qual o erro mortal na redação? O blog de domingo (27.6) tratou de três tipos de tropeços possíveis. Nenhum deles mata a criatura. Os de ortografia são pra lá de primários. Sem familiaridade com a escrita, a pessoa troca, engole ou acrescenta letras. Às vezes esquece acentos. Ou põe agudos e circunflexos em lugares indevidos. Leitura é a melhor receita para o mal. Por quê? É o olho que fixa a cara dos vocábulos.
  Os de sintaxe jogam em outra equipe. Nela figuram concordâncias, regências, colocação de pronomes. Superar as falhas exige visitinhas à gramática. Os lógica ocorrem quando o autor não diz coisa com coisa. Às vezes, uma frase não conversa com outra. Outras, um parágrafo não dialoga com outro. Pode ocorrer de a introdução anunciar um assunto, o desenvolvimento falar de outro e a conclusão cair de paraquedas. É o samba do texto doido.
  Exemplo? Trabalho em grupo. A turma se divide. Um escreve a introdução. Outro, o desenvolvimento. O último, a conclusão. No dia da entrega, eles juntam tudo sem harmonizar as partes. E torcem para que o professor não leia a obra.
  A adequação
  Mas um erro paira sobre todos. Ele não tem a ver com o certo ou o errado. Mas com a adequação. É como se a língua fosse um armário cheio de roupas. Escolher esta ou aquela? Depende. Se vamos à piscina, o biquíni terá preferência. Se ao baile de gala, o longo ou o smoking. Se à missa, a veste discreta. Trocar os trajes? Pega mal. A criatura cai no ridículo. Ou passa por louca. Ou acaba no xilindró.
  A língua também exige versatilidade. Poliglotas no nosso idioma, escolheremos o melhor para o contexto. Vou escrever um horóscopo? Preciso de palavras genéricas. Com elas, o texto dá a impressão de que está falando a cada leitor:
  PEIXES (20/2 a 20/3) Nada poderia garantir que seus bons sentimentos fossem transmitidos e aceitos por outras pessoas. Às vezes ocorre o contrário. Um bom sentimento acaba evocando respostas desagradáveis em certas pessoas.
  Vou participar de chat na internet? Preciso do internetês. Eis um trecho do Ronaldo:
  – Fala galera, blz?! (1)
– Td certo aki… e com vcs? (2)
– Tb!! Oq vcs contam de novo? (1)
– Ah, comigo, sem novidads…
-Poise… por aki as coisas ñ andam mto bem… Vcs ñ fazem ideia do q aconteceu hj.. Bati o carro… (3)
  Vou preparar uma petição? O juridiquês pede passagem. E por aí vai. Trocar as línguas, como trocar os trajes, custa caro. Adiam-se promoções. Perdem-se empregos. Enterram-se amores. Convenhamos: ninguém merece.