Eu sou mais eu

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De ego nasceu o eu. E deu origem a conhecida prole. Egoísta é um de seus membros. Egocêntrico, outro. Ególatra, mais um. Todos têm um ponto comum: o olhar posto no próprio umbigo. Ou na ponta do nariz. Adorar a si mesmo não é coisa nova. A mitologia grega tem até um deus pra representar a egolatria. É Narciso. Belo entre os belos, ele esnobava corações. Não estava nem aí pras ninfas suspirosas.

Mais tarde, os contos de fadas exploraram o mito. Um deles é a Branca de Neve e os sete anões. O cinema também se nutre do filão. Lembra-se de Uma bela mulher? Artistas são ególatras por natureza. Políticos idem. O que fazem Dilma, Serra & cia. na telinha? Elogiam-se. Exibem obras. Acumulam promessas pra inglês ver. Em suma, abusam do eu. O debate da Record confirmou a regra. Não vairou nem no discurso. Os candidatos surraram o português sem piedade.  

À flor da pele

Dilma e Serra estavam tão porcos-espinhos que tropeçavam na própria língua. Ambos bateram na regência do pobre verbo chegar. (Aliás, ele virou freguês.) A rodovia dela “chega em dois rios”. A dele “passou por vários governos e chegou no governo Lula”. Mentira. Sem a preposição a, a estrada não chega a nenhum lugar. O que fazer? Mudar os rumos: a rodovia dela deve chegar a dois rios. A dele, ao governo Lula.  

Fidelidade sovina

Ela não trai a origem. Mineira fantasiada de gaúcha, Dilma mostrou que o sangue das Gerais lhe corre nas veias. Foi nesta frase: “A população queixa da gestão da saúde”, disse e repetiu. Queixar? É bater com o queixo. Ela quis dizer queixar-se. Mas, econômica, poupou o pronome se.

Seguiu o conselho do velho pai que, quando o garotão sai pela primeira vez à noite, aconselha-o: “Meu filho, não saia. Se sair, não gaste. Se gastar, não pague. Se pagar, pague só a sua”. Ela foi além. Não pagou.  

De famas e camas

FHC tem fama de pão-duro. Dizem que não come ovo pra não jogar a casca fora. Não dá adeus pra não abrir a mão. Se convida um amigo para um cafezinho, divide a conta. Serra aprendeu a lição. “Ele sequer foi chamado para depor”, desculpou Pedro Preto. Poupou a primeira negativa. Sequer reforça a negativa. Cadê? Ficou no bolso. Que tal tirá-la? Assim: Ele nem sequer foi chamado para depor. Ele não sabia, sequer, o apelido do auxiliar. Não comprei sequer um refrigerante.  

Maçãs iguais

Político tem vícios e vícios. Um, tão antigo quanto o rascunho da Bíblia, é falar difícil. Se pode complicar, pra que facilitar? Dilma e Serra não deixam por menos. Em vez de perguntar, ela “quer fazer uma formulação”. Em lugar de planejadas, as obras dele “estão colocadas há muito tempo”. Cruz-credo! Valha-nos, Deus! “Quem não simplifica se trumbica”, ensina Paulo José Cunha aos alunos da UnB.