No verso de Vinícius de Moraes “Que não seja eterno, posto que é chama” o termo “posto que” está empregado de forma correta?
Marina Senra Rabello
Pra quem não se lembra, eis o “Soneto da fidelidade”, referido pela Marina:
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
As gramáticas classificam o posto que como locução conjuntiva concessiva. Joga no time de embora, mesmo que, apesar de. Mas a ideia do verso é causal. “Que não seja imortal porque é chama”. Vinicius errou? Artista tem licença poética. Pode pisar a língua sem susto. O poetinha empregou o posto que como popularmente se emprega, mas não como manda a norma culta.
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Na oração “Por amor ao filho lançou-se o pai ao rio”, quais os termos que exercem a função de sujeito e objeto, visto que “o pai” é agente e paciente da ação?
Denny Elder Peixoto
Denny, a ordem inversa é calo no pé. Pra fazer a análise sintática, ponha a frase na ordem direta (O pai lançou-se ao rio por amor ao filho.) Vamos à análise?
Sujeito: pai
Predicado verbal: lançou-se ao rio por amor ao filho
Núcleo: lançou
Objeto direto (quem lança lança alguém ou alguma coisa): se
Adjunto adverbial de lugar: ao rio
Adjunto adverbial de causa: por amor ao filho
Núcleo: amor
Complemento nominal: ao filho
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Estão corretas as frases: “A entrada no parque é proibida” e “É proibido entrar no parque”? Qual a função sintática de “entrada” e “entrar”?
Georgia Almeida Magalhães
Georgia, as duas construções merecem nota 10. Ambas dão o mesmo recado. Só muda o jeitinho de dizer. Vamos à análise dos ilustres enunciados?
É proibido entrar no parque.
O período tem duas orações:
Oração principal: é proibido
Oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de particípio: entrar no parque
A entrada no parque é proibida.
Aí temos uma oração:
Sujeito simples: a entrada no parque
Predicado nominal: é proibida
Predicativo: proibida
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“Se tiverem que ser decididas no último instante as questões ainda não discutidas, não me responsabilizo mais pelo projeto”. As orações estão na ordem inversa. Como reescrevê-las na ordem direta? Qual das duas formas é preferível?
Meyrianne Almeida Barbosa
A ordem direta torna o enunciado mais claro e, em consequência, mais fácil. Veja: Não me responsabilizo mais pelo projeto se as questões ainda não discutidas tiverem de ser decididas no último instante.
A classificação fica mole, mole:
Oração principal: Não me responsabilizo mais pelo projeto
Oração subordinada adverbial condicional: se as questões ainda não discutidas tiverem de ser decididas no último instante