Estudante pergunta 1

Publicado em Geral, Leitor pergunta

 

A dança que o povo gosta é alegre ou a dança de que o povo gosta é alegre? (Ana Carolina Távora)

Carolina, acontece com as palavras o mesmo que com os homens. Algumas têm olho grande. Avançam nos bens das outras. Os relativos são vítimas de roubo pra lá de impiedoso. Muita gente os priva da preposição que os deve anteceder. O resultado é um só. Perde a língua. Perde o leitor.

O pronome relativo detesta repetição de palavras. Para evitá-la, substitui o vocábulo dose dupla. E, claro, assume a função do termo substituído. Pode ser sujeito, objeto, adjunto, complemento. Se o original for acompanhado de preposição, ela se manterá.

Que termos exigem preposição? Em geral, o objeto indireto e o adjunto adverbial:

A dança é alegre. O povo gosta da dança.

O termo repetido? É dança. Funciona como objeto indireto. (Quem gosta gosta de alguém.) O objeto indireto pede preposição. No caso, de. Na substituição, o pronome será objeto indireto e manterá o de:

A dança de que o povo gosta é alegre.

Outro exemplo:

Paulo Coelho fez sucesso na Europa. Os críticos duvidam da qualidade literária de Paulo Coelho.

Termo repetido: Paulo Coelho (indica posse). Funciona como objeto indireto. (Quem duvida duvida de alguma coisa.) No troca-troca, o de permanece:

Paulo Coelho, de cuja qualidade literária os críticos duvidam, faz sucesso na Europa.

Mais um:

Na palestra, os presentes puderam apreciar melhor os slides.

Na palestra, o expositor se sentou na mesa.

Termo repetido: na palestra (indica lugar). Funciona como adjunto adverbial do objeto indireto. (Quem se senta se senta em algum lugar.) O em fica firme e forte antes do relativo:

Na palestra em que o expositor se sentou na mesa, os presentes puderam apreciar melhor os slides.

O último:

O livro foi escrito no século 19. Referi-me ao livro.

Termo repetido — livro. Funciona como objeto indireto (quem se refere se refere a alguma coisa ou a alguém). A preposição original não arreda pé:

O livro a que me referi foi escrito no século 19.

Resumo da ópera: quem foi rei nunca perde a majestade. Na reestrutura, a preposição mantém o cetro e a coroa.