De solidões e companhias

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    A origem é incerta. A classificação também. Alguns dizem que é advérbio. Outros, simples palavra designativa. Apesar das dúvidas, o eis tem acepção e empregos definidos. As três letrinhas significam “aqui está”. É desnecessário dizer “eis aqui”. Ele, sozinho, dá o recado: Eis o livro. Eis o resultado da pesquisa.
 
    Um dia, o eis se cansou da solidão. Saiu em busca de companhia. Quem procura acha, dizem os entendidos. Ele achou um quezinho perdido na multidão. Juntou-se a ele. Nasceu, aí, a locução eis que.
 
    Quando usá-la? Só quando há idéia de surpresa ou imprevisto. Veja os exemplos: Demorou a conseguir emprego. Quando chegou lá, eis que bateu o carro. Quando ninguém mais esperava, eis que apareceu boiando o corpo do piloto.
 
    A mensagem não tem nada de inesperado? Então, não complique. Use uma conjunção causal vira-lata. Vale “porque”: Eu canto porque o instante existe. O senador é a bola da vez porque está envolvido em falcatruas pra dar e vender.
   
 
As artes do eis não param por aí. Há vezes em que ele se junta ao “por que”. Assim, separadinho. Aí, quer dizer “eis a razão pela qual”: Ganhou na loteria. Eis por que (a razão pela qual) trocou de carro, casa e marido.
 
 Mais. Volta e meia, o eis se faz acompanhar do pronome o. Ele, então, banca o invejoso. Imita os verbos terminados em r, s e z. Perde a consoante final e transforma o o em lo: Desejou fazer o trabalho (desejou fazê-lo). Quis o vestido vermelho (qui-lo). Fiz a pesquisa (fi-la). Eis o livro (ei-lo).