De olho no eleitor

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    Dad Squarisi   O vocabulário de Dilma e Serra nos debates é pobre? Não. É adequado. Eles precisam atingir os 135 milhões de eleitores. São pessoas com variados graus de escolaridade – de analfabetos a doutores. Entre os  extremos, existe uma gama de homens e mulheres que dominam pouco, mais ou menos ou muito a língua nossa de todos os dias. Excluir este ou aquele grupo? É luxo proibido aos candidatos. O voto de todos tem o mesmo peso. Ninguém pode ser deixado de lado.   Ser adequado é a regra. A língua se assemelha a armário com milhares de peças. Que roupa escolher? Depende da situação. A piscina exige biquíni. O baile de gala, longo ou smoking. O cineminha do fim da tarde, traje esporte. O falante enfrenta o mesmo desafio. Se quer se comunicar com a criança de 4 anos, usa uma língua. Se com os colegas de trabalho, outra. Se com os participantes da sala de bate-papo da internet, mais uma.   Os candidatos não fogem à regra. Para atingir cabeças e corações, dispõem de 400 mil palavras. Quais selecionar? As adequadas ao veículo, à situação, ao público e ao objetivo principal — a persuasão. O brasileiro médio usa 2 mil vocábulos. Eles têm de sintonizar o discurso com o maior número de telespectadores. Como? Evitam linguagem técnica. Jargões econômico, político, jurídico & cia. não têm vez. Esquecem palavras difíceis, sofisticadas ou politicamente incorretas.   Para que todos entendam o que falam e, sobretudo comprem a tese apresentada, circulam no vocabulário médio da população. Repetem. Repetem. Repetem. A redundância desempenha papel importante. De um lado, fixa a ideia. De outro, pesca os telespectadores que zapeiam ao longo da programação. Querem promover interação com o público e, principalmente, convencer o eleitor.   Nem sempre acertam. Sob tensão, têm recaídas.  No debate da Band, Dilma contestava cada resposta do adversário com “está tergiversando”. O Twitter se entupiu de perguntas sobre o significado do verbo. No da Record, ela não tergiversou. Preferiu “enrolar”.  Mas teve outra queda. Em vez de perguntar, “fez uma formulação”. Serra foi atrás. Em lugar de “planejadas”, as obras dele “estão colocadas há muito tempo”. Político adora falar bonito.