De macacos e galhos

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  “Cada macaco no seu galho”, dizem os conservadores. “Cada macaco no meu galho”, contestam os subversivos. Eles querem mudar a ordem das coisas. Por acreditar que água parada apodrece, vão à luta. Provocam marolas, marolinhas e vagalhões. Com determinação e sorte, chegam lá.

Mudar de galho não constitui novidade no português. As palavras passeiam pela frase com desenvoltura. A ordem direta vira inversa num piscar de olhos. As idas e vindas de sujeitos, objetos, predicativos quase nunca alteram a mensagem. Em “bicicletas passavam nas ruas” ou “nas ruas passavam bicicletas”, o recado se mantém.

Mas certos adjetivos têm caprichos. A posição deles lhes define o significado. É o caso de grande. Colocado depois do substantivo, fala de tamanho. Antes, de afeto, emoção, valor. Yasser Arafat media 1,5m. Alexandre Magno, 1,57. Napoleão Bonaparte, pouco mais de 1,60m. Não eram homens grandes. Pela obra, se tornaram grandes homens. Foram grandes homens pequenos.

A altura de Charles de Gaulle e Pedro o Grande ultrapassava os dois metros. Para dormir, ambos precisavam de camas feitas sob medida. Eram homens grandes. Eles não vieram ao mundo a passeio. Fizeram história. Foram grandes homens grandes.   Mesma manha

Novo joga no time de grande. Ao dizer “comprei um carro novo”, informo que estou com um zerinho na garagem. Mas, se disser “comprei um novo carro”, o dissílabo quer dizer “outro”, não necessariamente com aquele cheirinho das tentações à venda em concessionárias. Beth Baracat cita dois exemplos que fazem parte do dia a dia do setor onde trabalha. Um deles: inventou novo método. O outro: fez-se novo lançamento. Certo? Certíssimo. Em ambos, novo não significa novo. Significa outro.   Mais uma

Comprei o livro certo. Comprei certo livro. Diferente, não? Livro certo é o correto, que não admite outro. Certo livro? É determinado livro, sabe-se lá qual.