Alá não tem nada com isso

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@dabr.com.br
A condenação de Sakineh Ashtiani prejudicou mais o Islã que os delírios de Ahmadinejad. Ao justificar o apedrejamento até a morte da mulher considerada adúltera, o Irã alegou razões religiosas. Estaria obedecendo ao Corão. Já o programa nuclear não tem relação com as leis divinas. Trata-se de estratégia de Estado que o Ocidente julga pôr em risco a segurança mundial. O tema dividiu a opinião pública. De um lado, ficaram os que se opõem à pretensão de Teerã. De outro, os que defendem o direito de o país desenvolver a tecnologia para fins pacíficos.
Sakineh foi unanimidade. A sentença mereceu repúdio internacional. Resultado: jogou lenha na fogueira da islamofobia. O ódio ao muçulmano, tendência crescente na Europa e nos EUA, aumentou com os ataques de 11 de setembro. Mas tem raízes mais remotas. A mais importante responde pelo nome de ignorância. O Ocidente confunde islamismo com a corrente fundamentalista que recorre ao terrorismo como arma política. Nada mais equivocado. O fundamentalismo é braço armado de uma parcela de muçulmanos. Da mesma maneira que o IRA foi do catolicismo. Uns e outros não representam o pensamento da maioria.
Vale o lembrete. Muçulmano, do árabe muslim, quer dizer quem se submete a Deus. Última das três religiões monoteístas, o islamismo tem dois princípios centrais. Um: a onipotência de Deus. O outro: a necessidade de bondade, generosidade e justiça nas relações entre as pessoas. Cinco pilares compõem o credo islâmico. O 1º: dizer, diariamente, “Há só um Deus e Maomé é seu profeta”. O 2º: orar cinco vezes ao dia voltado para Meca e participar do culto das sextas-feiras. O 3º: oferecer esmola aos pobres e necessitados. O 4º: jejuar durante o Ramadã. O útimo: peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida.
No Irã, república islâmica, não há separação entre Igreja e Estado. O Estado, entidade político-religiosa, rege-se pela lei de Deus. As coisas se confundem. Insatisfação política encontra expressão religiosa. Dissensão religiosa pode adquirir implicações políticas. A falta de fronteira entre Deus e homem enrola a cabeça dos ocidentais. E leva a interpretações esdrúxulas do Corão. É o caso de Sakineh. Ela foi condenada pelos homens. Alá não tem nada com isso.