Cosette Castro & Claudia Lessa
Brasília – Com o aumento da longevidade, precisamos pensar no trabalho e projetos após os 60 anos.
Por isso, a convidada desta edição é a administradora de empresas com Mestrado em Psicologia Social, Cláudia Lessa. Ela é consultora especializada na Orientação Profissional e Planejamento de Vida e Carreira para jovens, adultos e pessoas 60+.
Claudia Lessa – “Segundo Harry Braverman, autor de “Trabalho e Capital Monopolista” , o trabalho é fonte de realização do ser humano, pois é por ele que ocorre a intervenção na natureza e no mundo, teoricamente em benefício dos homens.
As pessoas com 60 anos ou mais foram movidas pelo trabalho intenso, em geral sem a bem-vinda realização.
Elas sofreram com excesso de trabalho. Segundo especialistas, o século XX foi o período onde mais horas-vida foram dedicadas ao trabalho. Isso ocorreu em função da abertura do mercado para homens e mulheres e pelo aumento da população mundial.
De um lado havia mulheres cuidando da casa, criando os filhos e atuando em muitas frentes profissionais.
De outro, homens destinados a ter um emprego seguro, responsáveis por prover a família, ficando nesse ritmo por anos a fio sem se dar conta da passagem do tempo. Ou empreendedores se aventurando em pequenos espaços que se transformaram em grandes empresas. Todos ansiando por melhores condições de vida para realizar os sonhos represados.
Quando falamos sobre a população 60+, sabemos que muitos continuam na ativa e que a população só poderá se aposentar, de acordo com a nova legislação, aos 62 anos, como é o caso das mulheres e aos 65, no caso dos homens. Mas muitas pessoas ficarão mais tempo vinculados ao emprego e aos negócios. E outros, mesmo com a aposentadoria pelo INSS, vão precisar seguir trabalhando para sobreviver.
Algumas pessoas se assustam com a chegada dos 60 anos. Outras ignoram a idade e procuram “deixar acontecer”, sem planos. Já a sociedade organizada, através do Estatuto da Pessoa Idosa, há 20 anos criou os direitos para os 60+, entre eles o direito de utilizar filas especiais a partir dos 60 anos e ter prioridade a partir dos 80.
Por outro lado, pessoas idosas vêem o mercado restringir o seu ingresso a algumas posições nas empresas. Além disso, o corpo reclama, sendo importante consultar o calendário do tempo para assumir um posicionamento realista frente a vida e planejar o uso do tempo futuro.
No século XXI, o tempo rei corre acelerado.
O futuro chega rápido e no balanço, parte da população registra realizações, bens adquiridos, filhos criados e sucesso profissional. Esse grupo, sente a sensação de que a missão está cumprida.
Apesar do sucesso, causa estranheza a carreira encerrada e a saúde, muitas vezes debilitada, mesmo que o tempo acene com o aumento da longevidade. As horas e dias poderão ser ociosas caso não sejam preenchidas com movimentos produtivos, prazerosos e novos projetos de vida.
Nem sempre é tempo de “pendurar as chuteiras”. A vida pode abrir oportunidades para novos projetos e atividades, exigindo disposição para a usar a experiência acumulada e abrir novas frentes. Essa experiência pode gerar renda, prestigio e novos desafios.
Temos exemplos de pessoas bem-sucedidas em atividades distintas das áreas em que atuaram profissionalmente. E aqueles que despertaram o talento em novos campos de atuação a partir dos 60 anos podem ser premiados pelo inesperado.
As dúvidas vivenciadas no início da vida profissional podem se repetir no novo estágio profissional. Depois dos 60 anos, pensar em planejar o futuro pode soar algo pouco estranho, pois representa sair da zona de conforto.
Um bom começo é fazer um balanço dos pontos favoráveis e desfavoráveis da atual vida pessoal e profissional. Somente depois disso sugiro elaborar um planejamento de vida e carreira, considerando aspectos que contemplem conhecimentos, desejos, expectativas, oportunidades negócios e parcerias.
Dependendo do que a pessoa busca e da força que lhe move, surgem opções para empreender, para se engajar em empresas, instituições, atividades filantrópicas ou artísticas, voltar a estudar, etc.
A busca por um novo projeto exige empenho para se posicionar no tempo e perceber que o caminho percorrido no passado já se modificou e não tem volta. Por isso, a importância de se repaginar para continuar na ativa.
Sugiro alguns pontos para quem deseja começar uma nova trajetória, São eles:
- Cuidado com a saúde, alimentação e atividade física para assegurar a vitalidade
- Cuidado com a aparência, higiene e apresentação pessoal, modernizando o vestuário e o corte de cabelo. Nosso tempo é hoje e não nos anos 60, 70 ou 90
- Aperfeiçoamento da comunicação, adaptando o vocabulário sem saudosismo. Algumas sugestões: enxugar a escrita e a fala, evitando as repetições; cuidar da vocalização. Aulas de canto, teatro e dança dão leveza ao corpo e soltam a voz
- Alfabetização digital com domínio da microinformática aprendendo também a produzir conteúdos
- Realizar balanço financeiro que inclua os seguintes pontos: o que tenho, o que preciso, o que quero e para que?
- Avaliar os riscos que podem trazer uma nova atividade (perdas e ganhos)
- Participar de grupos de 60+ entrando em sintonia com pessoas da sua idade, mas reconhecendo a sabedoria das crianças e dos jovens para formar parcerias e manter a jovialidade
- Ter um marcador de prazos para cumprir os planos e usufruir os resultados
- Planejar sua vida e carreira, definindo propósitos, ações, metas e prazos
- Valorizar a vida participando da transformação do mundo e cultivando o trabalho como arte, como sugere o filósofo francês Felix Guatarri”.
Claudia Lessa tem 75 anos e continua na ativa dando consultorias em todo país, presencial ou online.
E você, o que anda planejando para o futuro?
PS: Na quarta-feira, dia 17, das 15h30 às 17h, começam as oficinas gratuitas de samba no pé do Coletivo Filhas da Mãe, no Centro Longeviver ( Quadra 601 Sul, Ed Previdência, 2o. Andar, Brasília).
2 thoughts on “O Trabalho Após os 60 Anos”
Excelente! Tenho 64 anos, beirando os 65, e estou aposentada há 14 anos. Sinto que ainda tenho muito a dar, contribuir e fazer. Energia e ideias não me faltam, mas faltam oportunidades. Enquanto elas não aparecem sigo estudando. Já conclui uma segunda graduação e estou partindo para a terceira. O “a sala de aula” mexe comigo!!
Olá Thereza Cristina, parabéns pelas graduações e pelo desejo de aprender. Quem sabe você faz uma pós-graduação? Pode ser uma especialização ou um mestrado profisional, caso não tenha interesse em mestrado acadêmico, mais voltado para quem quer fazer pesquisa. Bj