Quando a Solidão Não É uma Questão Privada

Publicado em Cuidado e Autocuidado

Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Em um país cuja população idosa será maior que a população entre 0 e 14 anos em apenas 09 anos, seguimos em estado de negação. De costas para o futuro.

O envelhecimento populacional é uma preocupação dos países desenvolvidos. Mas ainda não entrou na pauta de países com desigualdade social, como o Brasil, cujos dirigentes mantém o mito do “país jovem”.

Não é por acaso que os casos de demências sejam muito maiores em países em desenvolvimento, com governos sem políticas públicas de prevenção em saúde ou políticas de cuidado intergeracionais. Não há preocupação com o futuro, com o envelhecimento nem com a longevidade.

Na Inglaterra, além das políticas públicas de saúde,  em 2018 foi criado o Ministério da Solidão com políticas públicas para pessoas solitárias, em especial pessoas com 70 anos ou mais.

Um estudo, encomendado pela Cruz Vermelha daquele país mostrou que 01 em cada 03 pessoas na faixa dos 75 anos revelou que os seus sentimentos de solidão estavam fora do controle. Oito em cada 10 cuidadoras de idosos se sentiam isoladas do convívio social, por causa da profissão. Isso em um país de apenas 55, 9 milhões de pessoas com uma forte política pública de saúde.

Imaginem esses percentuais em um país como o Brasil com uma população de 214,3 milhões de habitantes e sem políticas públicas implementadas para o envelhecimento saudável, ativo e participativo.

Cinquenta por cento das pessoas com algum tipo de deficiência contaram que se sentiam abandonadas e 58% dos imigrantes e refugiados de Londres apontaram que a solidão é o maior desafio na adaptação. Isso sem contar a discriminação e o preconceito que todos os grupos sociais citados enfrentam: idadismo, capacitismo e xenofobia.

Embora o estudo não comentasse sobre cuidadoras familiares, a solidão é um tema relatado com frequência em rodas de conversas. É um sentimento comum entre mulheres e homens que cuidam, independente da enfermidade do familiar.

Acrescente a isso a sobrecarga física e emocional com que lidam cotidianamente e o resultado, a curto e médio prazo,  são mais pessoas adoecidas na mesma família.

Muitas dessas pessoas buscam refúgio na religião, procurando em diferentes deuses e deusas um amparo para a falta de amor, para a falta de afeto individual e coletivo.

Apesar da prática laica do Coletivo Filhas da Mãe levamos em consideração que a espiritualidade contribui para a resiliência das famílias e, em muitos casos, ajuda a encontrar o sentido do divino que existe em cada um de nós, muito além da escolha por uma religião (ou da falta de religião).

Acreditamos que também contribui para o estímulo à solidariedade, ao sentimento de grupo e de coletivo que é tecido em rede, cotidianamente.

Exatamente por isso, e por levar em conta o aumento dos diferentes tipos de violência contra as pessoas idosas, estamos organizando um ato inter religioso para o mês de agosto com os seguinte propósito:

1. Estimular a cultura paz em momentos de tanta violência,

2. Promover o respeito à diversidade em todos os seus aspectos, inclusive no que diz respeito à idade,

3. Valorizar a pessoa idosa que se encontra em uma nova fase da vida, valorizando também a sua experiência e possíveis contribuições para a vida comunitária,

4. Promover a cultura do cuidado coletivo e o respeito às pessoas idosas,

5. Estimular o diálogo inter religioso e inclusive o direito a não ter religião

6. Estimular o diálogo intergeracional e o diálogo entre as diferentes religiões

Nas próximas semanas estaremos contando mais detalhes.

Ps:  Para quem está conhecendo agora o Blog, escrevemos no feminino porque 96% da atividade de cuidado no Brasil é realizada por mulheres, segundo o IBGE.

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