Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Hoje dedicamos o blog ao filme “Medida Provisória”, do diretor e ator Lázaro Ramos. O filme entrou em cartaz na semana passada, dia 14, e está lotando as salas de cinema.
Vivemos em um país onde 67% das cuidadoras são negras ou pardas. E onde a maioria não pode parar de trabalhar, apesar da pandemia. Paradoxalmente, é o grupo populacional que recebe os menores salários.
Nada é por acaso. No país onde foi forjada a “cordialidade brasileira”, a população negra é a que mais sofre violência policial. É a única que corre o risco de ser barrada e presa a qualquer hora do dia e da noite, caso saia de casa sem documentos.
A chegada aos cinemas de um filme produzido e estrelado majoritariamente por brasileiros negros é um alento em meio a salas de cinemas abarrotadas por narrativas audiovisuais brancas. (Veja o trailer aqui: https://youtu.be/f0uND6Lx5ZE)
É um alento ainda maior depois de saber que a Agência Nacional de Cinema (Ancine) reteve o filme por mais de um ano. Mesmo com atraso, a espera compensou.
O filme mostra a diversidade racial do Brasil que a mídia e a propaganda oficial teimam em escamotear. Mostra a realidade da maioria da população, relata o IBGE, ao apontar que 54% das brasileiras e brasileiros são negros ou pardos.
Mas o filme mostra mais. É baseado na peça “Namíbia, Não”, de Aldri Anunciação, que ajudou a adaptar o roteiro para o cinema.
A obra recorda a negação da dívida histórica do Estado brasileiro com a população negra escravizada e marginalizada ao longo dos anos. Escancara a falácia do mito do “brasileiro bonzinho”, as humilhações e desvalorização acumuladas ao longo dos anos.
O filme conta a história de um Brasil distópico, muito próxima ao que já acontece na realidade atual.
Na ficção, o governo decide “reparar” sua dívida com a população negra. E encontra a “solução final” para embranquecer o país.
Uma política de embranquecimento que, no Brasil real, vem ocorrendo desde 1888.
Um dos “estímulos” foi a vinda de imigrantes da Europa empobrecida para repovoar o país. Diferente da população negra liberta, os imigrantes europeus recebiam salário e/ou terras para trabalhar.
A história de ficção entristece, emociona e causa vergonha, ainda mais se a pessoa que assiste é branca. Uma pessoa que nunca passou pelas constantes experiências abusivas sofridas pela população negra e parda.
No filme “melanina acentuada” é um eufemismo para negar as cores, as etnias e a diversidade brasileira. Na vida real, Melanina Digital é o maior portal de resgate da produção de autores e artistas negros que existe desde 2011 no país. (Veja aqui: https://melaninadigital.com/ ).
Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, acreditamos que a diversidade é uma das grande forças deste país, assim como a solidariedade, o respeito e o afeto.
Também acreditamos que precisamos de um país com igualdade e com políticos que nos representem em todos os setores: etnia/raça, gênero e idade, sem estereótipos.
Enquanto isso não ocorre, seguimos escrevendo e promovendo cuidado e autocuidado coletivo. E resistindo contra qualquer tipo de preconceito.
Para encerrar, deixamos aqui uma história do Brasil real (https://youtu.be/HjuH1NJMjTg).