Um réquiem para o Rio Amazonas

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Alex Pazuello/Secom/Governo do Amazonas

 

Já é consenso entre muita gente que, num futuro não muito distante, a luta pelo domínio de fontes de água potável será o principal motivo de guerras devastadoras entre as nações. Em alguns locais do planeta, hoje em dia, essa é uma realidade visível. O aquecimento global, que para alguns é uma ficção, cuida de apressar a escassez de água. A poluição dos cursos d’água em muitas partes do mundo e especialmente no Brasil é mais um fator a precipitar esses acontecimentos.

Não há, nem como intenção do governo, nem da população em geral, ações que visem proteger nossos rios e córregos. Isso quando se sabe que o descuido com esses cursos d’águas irão ter efeitos seríssimos para as próximas gerações, inviabilizando a permanência de populações em vastas áreas do país. A agricultura intensiva, realizada em grandes latifúndios e que têm como objetivo principal a exportação de grãos e de proteínas, tem ajudado também, e a seu modo, nesse processo acelerado de desertificação de nossas terras. Somadas a essas ações de destruição gradativa de nosso meio ambiente, o fogo, que tem surgido com cada vez mais frequência em toda a parte, vai tratando de reduzir a pó nossas riquezas naturais.

Muitas partes no interior de nosso país apresentam os resultados de nosso descaso secular com nossas águas. Rios e outros importantes cursos d’água, simplesmente desapareceram, deixando rastros que mostram os antigos leitos rochosos e arenosos expostos ao Sol. Servem hoje de caminho para os animais e homens, indiferentes a esses acontecimentos.

Toda a paisagem à nossa volta se apresenta hoje repleta de sinais e de maus presságios de que algo muito sério está prestes a acontecer. Esperar que toda essa nova realidade cruenta venha nos arrebatar, quando não haverá mais recursos possíveis de reverter essa situação, é uma insanidade e um crime contra o futuro. Somos igualmente todos responsáveis.

Obviamente que os governos federal, estadual e municipal são os maiores culpados desse descaso. As diversas fotos que mostram o raro fenômeno da seca extrema no Rio Amazonas, não deixam dúvidas de que estamos indo rumo a um novo e desconhecido mundo seco. Os institutos de meteorologia preveem que esse ano a estiagem será ainda maior.

Para se ter uma ideia dessa calamidade, quase 10% do território amazônico enfrenta seca severa. Em todo o território nacional, a área com seca extrema aumentou de 28% para 37%. O Norte do país é o que mais tem sofrido com essa situação. Também este ano, imagens de satélite indicam que mais de 517 mil hectares de área do Pantanal foram consumidos pelo fogo. E pensar que essa imensa área, era, até pouco tempo, uma grande região coberta por água, praticamente o ano todo.

Mas, voltando ao Rio Amazonas, o maior curso d’água do mundo em volume e com uma extensão de quase 7 mil quilômetros corre sério risco de, num futuro próximo, transformar-se em lembrança. A situação que vinha sendo apressada pelas intensas queimadas e pela criminosa derrubada de árvores está sendo intensificada também pelo aquecimento global, que vem provocando um acentuado recuo das geleiras nos Andes, onde está a nascente desse fabuloso rio. O pior é que esse derretimento das geleiras, que antes se acreditavam eternas, tem sido muito mais rápido do que o previsto.

A nascente desse imenso Rio, que, no passado, foi motivo de muitas dúvidas e incertezas, hoje, com a tecnologia de satélite, foi localizado exatamente na nascente do Rio Apurinac, na encosta do Nevado de Mismo, na Cordilheira dos Andes, no Peru. A 5.600 metros acima do nível do mar. O derretimento rápido das geleiras dos Andes acende um alerta de que esse fenômeno irá ter sérias implicações sobre o Rio Amazonas.

Evidências levantadas pelo professor Jeremy Shakun, da Universidade de Boston, levam a crer que essas geleiras são muito menores agora do que em qualquer outro momento nos últimos 11 mil anos. Todas as pesquisas indicam que estamos de fato imersos na nova era do Antropoceno, em que as ações humanas passaram a influir profundamente nos destinos do planeta. Para o cientista não há dúvidas de que o recuo dessas geleiras está diretamente ligado a ações humanas, especialmente decorrentes da Revolução Industrial e das consequentes emissões de gases do efeito estufa.

A queima de combustíveis fósseis é o principal fator desse aquecimento. E pensar que ainda hoje, em pleno século XXI, estamos prestes a inaugurar a prospecção de petróleo justamente na bacia do Rio Amazonas, celebrando assim, com vela preta e caixão, o desfecho da epopeia nacional rumo a destruição do nosso país e de restante do planeta. Nossos músicos, que tanto apreço têm demonstrado à destruição do Amazonas, bem que poderiam compor agora um réquiem para esse rio que agoniza diante de nossos olhos. Como outros fizeram no Titanic.

 

A frase que foi pronunciada:
“Nunca foi tão urgente retomar e ampliar a cooperação entre os países que têm a floresta em seu território.”
Lula, na abertura da Cúpula da Amazônia

Presidente Lula. Foto: REUTERS/Adriano Machado

 

História de Brasília

No pequeno espaço de tempo em que esteve como presidente da Repúbica, o sr. Ranieri Mazzilli fêz um número grande demais de nomeações, superior às necessidades, para quem ocupa a cadeira por poucos dias. (Publicada em 15.04.1962)

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