Transformação da Terra

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Imagem: reprodução da internet (neofeed.com)

 

Aqueles que se dedicam a pensar o destino humano — filósofos, cientistas, economistas, historiadores — divergem em detalhes, mas convergem em uma certeza incômoda: o mundo que emergiu depois da pandemia não é o mesmo que tínhamos antes, e tampouco poderá sê-lo. O caos, que muitos receiam e outros tantos veneram como estágio necessário antes da ordem, passou a ser não apenas uma metáfora, mas uma realidade cotidiana, vivida em ruas vazias, economias paralisadas, consciências abaladas e instituições enfraquecidas.

Para os pessimistas, a pandemia apenas acelerou o fim de um ciclo já em decomposição. Para os mais realistas, o século XXI começou de fato em 11 de setembro de 2001, com a queda das Torres Gêmeas, e desde então não fez senão aprofundar crises sucessivas, econômicas, ambientais, políticas, sanitárias, e agora uma crise mundial que revela o esgotamento de um modelo civilizatório. O vírus, microscópico e invisível, foi capaz de paralisar o abstrato e gigantesco edifício global.

Onde antes se falava em crescimento incessante, agora pairam palavras como recessão prolongada, colapso estrutural e deflação. O próprio planeta, em estado avançado de deterioração ambiental, parece rumo a uma transformação de hábitos que não nasce da virtude, mas da urgência: reduzir consumo, reaproveitar recursos, reciclar práticas, retornar ao comunitário, desarmar, amar.

Não é raro ouvir, de alguns analistas, que estamos diante do prelúdio do fim do capitalismo tradicional. No lugar de sua velha engrenagem movida pela acumulação e pela desigualdade, surgiria uma ordem ainda incerta, talvez marcada pela autoprodução, pela frugalidade, pelo compartilhamento. Alguns chegam a cogitar a volta às pequenas comunidades, à vida menos urbana e mais próxima da terra, como se o próprio ritmo acelerado das metrópoles já não pudesse sustentar-se. Não se trata, como alertam, de previsões místicas feitas em bolas de cristal, mas da constatação de que os sistemas que nos mantinham coesos, Estado, política, economia, já não oferecem garantias.

A filosofia, como de hábito, não se furtou ao desafio de nomear o abismo. Franco Berardi, pensador italiano que há tempos reflete sobre os limites da modernidade, descreveu o fenômeno como uma “epidemia de solidão”. Para ele, a quarentena e o isolamento produziram não apenas uma interrupção material da vida social, mas também uma fixação psicótica coletiva, na qual o inconsciente de milhões foi capturado abruptamente.

Nesse cenário, a política perde ainda mais o pouco de prestígio que lhe restava: o Estado não aparece mais como guardião da vontade coletiva, mas como administrador, operador financeiro e agente de repressão aos movimentos sociais. A democracia, palavra tantas vezes evocada, parece ter sido absorvida por um mecanismo automático de controles digitais, senhas, algoritmos e vigilância.

Eis, então, um paradoxo de nosso tempo: o inimigo da liberdade não é mais o tirano de carne e osso, que se podia nomear e enfrentar, mas sim os vínculos matemáticos da finança e os tentáculos invisíveis da conexão obrigatória. Os novos grilhões não tilintam como correntes de ferro, mas se impõem como cálculos e códigos, frios e inescapáveis. A liberdade, tal como sonhávamos, talvez tenha morrido em silêncio. No seu lugar, resta apenas a busca por igualdade, um mínimo de humanidade entre humanos.

O que torna a situação ainda mais grave é que a esperança no futuro, essa energia que sempre moveu civilizações mesmo nos períodos mais sombrios, foi atingida em cheio. O vírus transformou-se numa doença psicológica, corroendo expectativas, impondo uma sensibilização fóbica, como a definiu Berardi. Nem mesmo a vacina, celebrada como saída redentora, parece ter encerrado de todo o capítulo, já que seus efeitos não tocam as consequências econômicas, sociais e subjetivas. Diante disso, a política, já impotente, torna-se apenas um jogo de raivas e ressentimentos, incapaz de oferecer respostas consistentes.

No entanto, o filósofo lembra que o imprevisível pode, sim, alterar o inevitável. Se há uma saída, ela não virá de planos grandiosos, mas da imaginação coletiva, da invenção de novas formas de vida baseadas não em acumulação, mas em sobrevivência.

O retrato do mundo pós-pandemia é, portanto, um retrato de transição. Vive-se um tempo em que o chão parece se desfazer sob os pés, em que as elites políticas mostram sua impotência, em que a economia revela seus limites, em que a solidão se impõe como experiência universal. Se há uma certeza, é que o velho mundo já não pode retornar. Resta-nos, com mais ou menos fé, esperar que o novo, ainda que nasça do caos, seja menos desumano que aquilo que deixamos para trás.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Não existe algo como as Nações Unidas.”

John Bolton

John Bolton. Foto: Jonathan Drake/Reuters

 

Absurdo

Vaga do idoso se transformou em local para colocação de container. Pelo menos, o fato aconteceu na 508 Sul, perto do Big Box. Veja a foto a seguir.

Foto: Arquivo Pessoal

 

Insalubre

Falta conservação no parquinho da 214 Norte. O local mais parece uma possibilidade de machucados. Veja no blog do Ari Cunha a foto do escorregador, que era o preferido da garotada.

Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

 

História de Brasília

A Polícia inaugurou as lanchas no Lago. Excelente idéia de policiamento lacustre, para socorrer e ajudar as lanchas particulares que sofrem danos em funcionamento. (Publicada em 10.05.1962)

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