Cheiro de pólvora no ar

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: euronews.com

 

Dos fatores a induzir guerras generalizadas, ainda mais quando o caldo está prestes a entornar, nenhum outro é mais importante quanto o intervalo entre as apreensões e medos e o estalar do conflito. Submetidos entre o suspense e o pânico, qualquer sinal fora do habitual leva a população a esperar pelo pior. Desde a invasão da Rússia à Ucrânia, a Europa toda espera pelo pior. Países como a Alemanha, antes distante de quaisquer conflitos, desde o fim da 2ª Grande Guerra, estão se armando perigosamente. De fato, a Rússia vem desestabilizando a Europa aliada à OTAN, desafiando-a a entrar nesse conflito. E a razão é que a Rússia começa a se dar conta de que entrou num atoleiro de areias movediças ao pretender conquistar a Ucrânia em três dias. Lá se vão três anos de aventura bélica que tem custado prejuízos incalculáveis aos russos.

Há poucas horas, drones invadiram o espaço aéreo da Polônia e Estônia, obrigando esses países a fecharem seus aeroportos. Há também relatos de drones fazendo incursões na Dinamarca e Noruega, paralisando aeroportos e deixando a população amedrontada. O governo russo nega a autoria dessas provocações.

Vivendo noites de crescente apreensão as últimas semanas trouxeram uma sucessão de incidentes aéreos drones não-identificados, aviões de guerra entrando sem autorização, aeroportos fechados e o alarme ativado nas capitais europeias. Alguns governos tentam manter a calma; outros já falam em “ataques híbridos”, em operações de provocação profissional. Mas ninguém ignora: estamos num intervalo perigoso, entre o medo e o estalar do conflito. E cada alerta falso, cada violação de espaço aéreo, cada negação oficial alimenta um risco real de escalada. O que se sabe até agora já é preocupante.

Recentemente, aeroportos na Dinamarca; Copenhague, Aalborg, Billund, Skrydstrup, entre outros, fecharam suas atividades por horas após observaram drones sobre ou próximos às pistas. Noruega também suspendeu o tráfego aéreo no aeroporto de Oslo ao ver drones. Violação de espaço aéreo por aviões militares tem sido noticiados. Na Estônia, três caças MiG-31 russos invadiram o espaço aéreo nacional durante doze minutos, sem plano de voo nem transponder ligado interceptados por jatos aliados da OTAN. Em outros casos, a Polônia derrubou vários drones sobre seu território depois que estes invadiram seu espaço aéreo, alguns durante ataques russos à Ucrânia. Também há registro de incursões aéreas pela Rússia na Noruega, embora menores e com duração breve, algumas claramente atribuídas por Erros ou discrepâncias de navegação, outras ainda em investigação. A OTAN reagiu as provocações convocando consultas sob o Artigo 4 do seu tratado nos casos de Polônia e Estônia, quando esses países consideraram que sua segurança estava ameaçada por essas violações.

Na Dinamarca, está em discussão uma espécie de “barreira anti-drone”, cooperação entre países europeus para detectar, rastrear, identificar e neutralizar ameaças aéreas de pequena escala. O risco de escalada acidental: quando aviões militares ou drones penetram espaço aéreo de países da OTAN ou da União Europeia, mesmo sem intenções declaradas de ataque, há probabilidade elevada de mal-entendidos. Se uma aeronave for confundida com ameaça, pode haver resposta militar — com jatos ou sistemas antiaéreos e uma situação de incidente virar confronto real. Desgaste político e militar: as fronteiras se tornam linhas tênues. Cada país aliado confrontado com violações precisa decidir até onde reagir  o que pode gerar tensão interna, pressões para reações mais duras, apelos públicos por defesa reforçada, sanções, ações diplomáticas.

Tudo isso exige recursos e logística, além de acarretar riscos de condenações mútuas. Ansiedade civil e vulnerabilidade psicológica: quando aeroportos fecham, voos são desviados, populações ficam sem informação clara cresce o medo. Em tempos de guerra, o pânico pode ser tão prejudicial quanto o conflito militar direto: provoca corrida por recursos, desconfiança, boatos, políticas precipitadas. Normalização de “violação de fronteira”: se tais incursões se repetirem sem respostas proporcionais, corre-se o risco de que violações de espaço aéreo passem a ser vistas como algo “aceitável”, instrumentalizado como forma de intimidação. Uma fronteira pode deixar de ser reconhecida como inviolável, e isso é uma erosão perigosa de princípios internacionais. Preparo defensivo inadequado: muitos países não têm sistemas eficientes de defesa contra drones ou intrusões técnicas menores. Drones pequenos ou médios, com voos furtivos ou trajetórias próximas, podem passar despercebidos ou sem resposta rápida. Há lacunas de radar, de legislação, de cadeia de comando que favorecem a surpresa.

A Rússia está, muito provavelmente, testando os limites da resposta da OTAN e dos países europeus: quão longe se pode penetrar, quanto se demora para reagir, quanta evidência é necessária para atribuição clara de culpa. A tentativa evidente é gerar dúvida, insegurança, calcular o risco de escalada. E, a cada invasão aérea  mesmo que pequena  o custo da hesitação cresce. Não se trata só de patriotismo ou de orgulho nacional, mas de segurança coletiva: qualquer ataque híbrido bem-sucedido, qualquer erro de cálculo, pode servir de ponte para algo muito mais sério.

Líderes europeus, a OTAN, a União Europeia, e os aliados, precisam agir com clareza: fortalecer alianças, melhorar defesas aéreas, estabelecer protocolos claros de resposta imediata a incursões, e deixar patente que violações não serão toleradas. Mas sobretudo, as mensagens precisam ser transparentes  ao público, aos provocadores e aos aliados para que não haja espaços para ambiguidade, que são os terrenos mais férteis para o desastre. Nestes tempos, não basta estar preparado para a guerra: é preciso evitar que ela comece por engano e que uma série de violações seja a fagulha que deflagre  um incêndio a se alastrar por toda a Europa de consequências impensáveis.

A frase que foi pronunciada:

“Não são só os drones que sobrevoam países da Europa. Mentiras também.”

Primeiro ministro da Estônia, Kristen Michal

Primeiro-ministro da Estónia, Kristen Michal. Foto: euronews.com

 

História de Brasília

A prova maior de indisciplina do sargento da Marinha foi quando dirigindo-se ao guarda, apontando para um fotografo, exclamou: tire êsse fotografo dai, senão eu dou um tiro nele. (Publicada em 10.05.1962)

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