O evitável mundo novo

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Ilustração: andreassibarreto.com

 

          Quer se queira ou não, chegará um tempo em que a interligação instantânea dos meios de comunicação, propiciada pelos avanços na tecnologia de computação e da própria Internet, ao unir o planeta numa só e pequena aldeia global, irá impulsionar os dirigentes políticos e as grandes instituições em busca de um governo único, tal como anunciado hoje pelos chamados globalistas.

         Trata-se de um futuro distópico que assusta muita gente e que trará, como consequências diretas, a perda da identidade das nações. O que se anuncia é o advento do grande reset, tal como foi proposto pelo fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, em 2020. Nesse ponto, os entendidos desse tema concordam que o desenvolvimento da computação quântica, que agora começa a mostrar seus resultados, terá um papel fundamental nessa empreitada global.

         Especialistas e pesquisadores de todo o planeta e do Brasil, que ultimamente vêm analisando as possibilidades geradas pelo advento do mundo digital na organização das sociedades, vislumbram, por detrás do enorme sinal de interrogação que vai escondendo a realidade, a possibilidade de o mundo atual estar caminhando, a passos largos, ao encontro do Grande Irmão onisciente conforme delineou George Orwell, no romance 1984.

         Para países dominados ainda por um fortíssimo e antigo sistema burocrático, como é o nosso caso, comandado pelo Estado, com o auxílio de cartórios e outras instâncias que sobrevivem justamente da complicação e guarda dos trâmites de documentos e processos, a possibilidade de estarmos rumando em direção a uma nova e inusitada forma de governo do tipo Datacracia parece cada vez mais real e inexorável.

         A transformação paulatina da gestão pública em algo tecnocrático, impessoal e dominado por nova burocracia digital, ao dificultar o acesso direto dos cidadãos aos responsáveis pelo governo, poderá retirar, dos gestores públicos, a responsabilidade e até a imputabilidade por suas ações. Nesse caso, as responsabilidades por qualquer ato lesivo ao cidadão, decorrente da labiríntica burocracia, poderá caber unicamente ao “sistema”, ou seja, a um “ser” virtual, impossível de ser levado fisicamente aos tribunais.

         Para um país como o Brasil, atalhado por uma burocracia endêmica, herdada ainda da fase colonial, as ameaças desse processo de digitalização são ainda maiores e mais preocupantes do que em outras partes do mundo. O antropólogo francês Levi-Strauss costumava dizer que o Brasil era um caso único de país que passou diretamente da barbárie à decadência, sem conhecer a civilização. No nosso caso, apanhados de surpresa por um mundo em processo rápido de informatização digital, corremos o risco de adentrarmos totalmente despreparados numa nova era, comandada por programas de computadores, sem antes termos resolvido o problema histórico da burocracia onerosa.

         E para não renunciarmos nem uma coisa, nem outra, ao invés de eliminarmos, pura e simplesmente, todo e qualquer traço de burocracia, vamos em busca de digitalizar a burocracia existente, dando nova vida e nova dinâmica aos diversos cartórios. Uma atividade predadora que já deveríamos ter eliminado a muito tempo está sendo turbinada, dando nova vida a um sistema parasitário que se beneficia, há séculos, do descaso do Estado, de quem é sócio na criação de dificuldades e na venda de facilidades.

         A Datacracia que seria um governo comandado das profundezas do oceano digital, aliado aos traços já conhecidos de casos sequenciais de corrupção avassaladora, poderia produzir, entre nós, uma espécie de Frankenstein tão sui generis como extremamente perigoso para os cidadãos. Aliás, o próprio status de cidadão, com todos os seus direitos e deveres, conforme conhecemos hoje, deixaria de existir, substituído por um código sequencial de algorítimos, só inteligível por máquinas sofisticadas, instaladas nas nuvens distantes. As teorias e até a prática na consecução do grande reset falam de um tempo muito próximo, em que o globalismo financeiro, com a instituição de um Banco Central Mundial, trará um controle severo a toda e qualquer movimentação de dinheiro eletrônico, eliminando, do sistema, toda e qualquer movimentação não de acordo com as novas normas globais.

         Será esse um tempo em que a palavra “Sistema” passará a ganhar um status de grande irmão onipresente, sendo que todo aquele que for apontado como suspeito, ou estranho a essa nova ordem, sofrerá as penalidades draconianas previstas, sendo literalmente deletado do “sistema”, ou, como se dizia nos velhos tempos: virará adubo de planta. Quem viver verá.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A fim de se adaptarem nestas organizações, os indivíduos viram-se, eles mesmos, forçados a se desindividualizarem-se, renegaram a sua diversidade nativa, e se conformaram com um modelo padronizado, fizeram o máximo, em suma, para se tornar autômatos.”

Aldous Huxley

Foto: biography.com

 

História de Brasília

A situação das professôras, com relação ao horário de trabalho não tem nada de anormal. O horário antigo era de 40 horas, e passa, agora, para 36. (Publicada em 13.03.1962)

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