Olhem nos olhos delas

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Reprodução/Facebook

 

         Pudessem as comemorações do último dia 8 serem estendidas para todo o mês de março, o que seria mais apropriado e de acordo com a importância que as mulheres têm para a perpetuação da espécie humana, as homenagens se fariam de modo mais justo e democrático e, quiçá, abrangeriam figuras que a escassez de tempo deixou fora dessa importante celebração.

         Nesta importante data, o foco da maioria das mídias se dá, como todos os anos, sobre mulheres de destaque na vida nacional. Mulheres ditas empoderadas, que ocupam altos cargos seja na política, na administração pública ou em empresas, sempre enaltecendo o desempenho dessas vencedoras em meio a um país ainda majoritariamente dominado e controlado pelos homens.

         Pouco se viu no entanto, em meio a essas homenagens relâmpagos, destaques àquelas mulheres que, por suas difíceis condições econômicas e sociais, lutam bravamente na base da pirâmide, para manter as engrenagens sociais funcionando. Cumprem, a essas mulheres, tarefas da maior importância, embora não sejam vistas, por muitos, principalmente, por aqueles que têm os olhos fixados permanentemente para o alto.

         É possível notar que são as mulheres o principal contingente a dar suporte naqueles serviços invisíveis, que pouca gente percebe. São elas, em sua grande maioria, que se encontram nas creches, dando suporte a outras mulheres que precisam trabalhar fora de casa para o sustento da família. São elas que se movem nos bastidores dos hospitais, quer como enfermeiras, cuidando de tudo e, não raro, fazendo o papel dos próprios médicos, cuidando para que o enfermo tenha um atendimento mais digno. São elas também que se apresentam invisíveis nos labirintos dos hospitais, cuidando de uma aspecto importantíssimo dentro dessas instituições, que é a manutenção da limpeza e da ordem. Sem esse árduo trabalho de higienização hospitalar, nenhum desses estabelecimentos poderiam manter as portas abertas.

         Mesmo nas ruas, de batom e camufladas com as roupas típicas dos garis, essas profissionais da limpeza, errônea e pejorativamente chamadas de lixeiros, cuidam para que as cidades também não adoeçam, em meio à sujeira e à proliferação de ratos, moscas e outros inimigos da saúde.

         Ao contrário das grandes executivas, que atraem para si os holofotes das mídias e que servem de modelo para muitas jovens, que sonham também em se tornar uma delas, as mulheres que se movem nos bastidores, improvisando, dentro do próprio lar, empresas domésticas de fornecimento de refeições, bolos, bombons e outros alimentos, num esforço diário para manter um negócio digno, pouco são vistas ou saudadas como exemplo de empresárias.

         Mesmo nas forças de segurança, lá estão elas, de soldado a altos oficiais, realizando serviços com a mesma bravura e eficiência que os homens. Curioso destacar aqui que, nesse tipo específico de trabalho de combate ao crime, combate a incêndios, atendimento de emergência e outros de alta complexidade, não se vê a disputa disfarçada e o antagonismo entre homens e mulheres, com todos correndo o mesmo perigo com destemor e eficácia semelhantes.

          Esse fato deixa à mostra que a rivalidade e disputa de sexos só existe por conta de uma cultura que ainda insiste em permanecer entre nós, herdada de um tempo em que nossos bisavós eram ainda crianças de colo.

         À florista, à senhora que vende panos de prato, às meninas que vendem doces nos pontos de ônibus, às ajudantes em casa, nossas pequenas Coras Coralinas, mulheres invisíveis que povoam nossa cidade, uma homenagem sincera desta Coluna.

 

A frase que foi pronunciada:

“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar”

Cora Coralina

Cora Coralina. Foto: Luis Elias

 

Gaiato e competente

Lendo a História de Brasília abaixo, veio à memória o que contava Ari Cunha sobre o engenheiro Atahualpa Schmitz da Silva Prego, que faleceu aos 94 anos no Rio de Janeiro. Ele era um homem importante da engenharia na construção de Brasília. Certo dia viu que o grupo enorme de trabalhadores estava observando Juscelino Kubistcheck e ele, andando afastados, revisando uma obra. Parece que Atahualpa tentava convencer Juscelino do que seria melhor. Ele andava atrás do presidente fazendo gestos bruscos como se estivesse se impondo para o presidente sua ideia, de uma forma que ninguém tinha coragem. Mas na verdade, nenhum som saía de sua boca e o presidente nem imaginava que aqueles braços estivessem brigando contra o vento. Ao chegar para dar a notícia aos trabalhadores que o presidente havia aceitado a obra como estava, foi aclamado pelo povo com um sorriso de soslaio.

Engenheiro Atahualpa Schmitz da Silva Prego.    Foto: correiobraziliense.com

 

História de Brasília

As chuvas darão maior trabalho ao dr. Atahualpa e à equipe do DVO. No trevo de distribuição sul há dois buracos conjugados, em boa disposição para quebrar molas. (Publicada em 17.03.1962)

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