VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Nestes tempos mimizentos
De muito patrulhamento de ideias
e de pouca reflexão
Vivemos a angústia de ter que escolher
o que pode ser dito e o que não pode não
A palavra amordaçada
perdeu a verdade e força
acorrentada em grilhões de ferro
na mais brutal das censuras
preferiu então se recolher
a ter que concordar
com tamanha impostura
Nesses tempos cinzentos
a palavra calada
mostra sua melhor expressão
Ao dizer que não disse nada
nem que sim nem que não
Melhor então emudecer
recolhendo a pena e o pensar
E com toda a prudência e atenção
livrar-se de ser mais uma vítima
de tão feroz repressão
A censura sempre pouco ilustrada
só enxerga e teme
seja o cargo que ocupa ou a mão fraca no leme
De tanto podar aqui e ali
e de tanto o texto esfacelar
encontra em frases escritas
o que de fato lá não há
Por isso mesmo
A censura e a repressão
vivem sempre em harmonia
em perfeita união
uma atalhando o texto
a outra esfaqueando a mão
Se é nesse tipo de democracia
que viemos dar
isso depois de tanta luta
depois de tanto penar
melhor então voltarmos ao dia exato
em que tal abertura foi prometida
quem sabe naquela ocasião
Alguma coisa foi esquecida
Que rumo é esse que agora tomamos
sem propósito, ânimo ou paixão?
Será que n’algum atalho do passado
perdemos o sentido e a direção?
desviamos do caminho sonhado
dispersos em algum abismo distante
agora, cegos e mudos, não podemos seguir adiante
Quem sabe perdermos o mapa da liberdade
esquecido n’alguma dobra desses últimos trinta anos
era o que tínhamos em mãos
era todo o nosso plano
Uns lhe chamavam de Carta Magma
outros de Constituição
Alguém sabe por onde anda
esse desejo da nação?
até mesmo o noticiário
que antes se atinha em informar e ilustrar
agora por linhas tortas
se contenta em bajular
fazendo propagandas
de olho na aprovação
daqueles que nada querem
a não ser a perdição
Se já não podemos falar, pensar e escrever
melhor buscar em outras bandas
quem possa nos socorrer
Há tempos já se sabe
que a tirania para prosperar
necessita de mil bocas
e mil olhos a vigiar
A frase que foi pronunciada:
“É melhor escrever errado a coisa certa do que escrever certo a coisa errada…”
Patativa do Assaré
História de Brasília
Quando o dr. Jânio estava no gôverno, mandou retirar as buzinas a ar de todos os ônibus chapa brancas. Agora, a moda voltou, e os carros, principalmente da Câmara, incomodam tremendamente a população. (Publicada em 01.03.1962)