Cidadãos de segunda classe

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Charge do Mário

 

         Quando a questão é o relacionamento entre o cidadão e o Estado, é lícito dizer que pouca coisa mudou de fato desde o Brasil colônia. Ao longo dos séculos, desde que por aqui foram estabelecidos os governos gerais pela metrópole portuguesa, as relações entre a população, tanto no seu coletivo, como individualmente, sempre foram desiguais, para dizer o mínimo.

         Essa dissimetria decorre desde que, por essas bandas, foram estendidas as relações mercantilistas, que orientavam a economia mundial naquele período, colocando a metrópole no centro das decisões e tornando a colônia uma economia complementar, submetida às diretrizes dos monarcas lá em Lisboa.

         A noção de Estado e cidadania é, entre nós, uma experiência recente que ainda parece engatinhar, tal a dominação e ascendência do governo sobre toda a população. Temos, em nosso caso e em pleno século XXI, um modelo político desigual em que o Estado se apresenta como uma entidade dotada de grandes poderes e que age com certa onipotência sobre a população, que é, em sua maioria, indefesa e sujeita aos humores dos governos e sempre tutelada por uma elite política que controla, com mão de ferro, a máquina do Estado no momento das cobranças.

         Dessa forma, substituímos o antigo mercantilismo da era moderna, pelo estatismo, com o Estado empreendendo e atuando febrilmente onde deveria estar a iniciativa privada, produzindo riquezas que, ao fim e ao cabo, são drenadas e apropriadas, em sua grande parte, pela elite no governo e em seu entorno imediato, formado pelos campeões ou, mais propriamente, por uma camada de oligarcas escolhida a dedo, por critérios de compadrio ou outros relacionamentos pouco ou nada republicanos.

         Qualquer cidadão da base da pirâmide social ou aquele que acredita ainda sê-lo pelos “poderes da Constituição”, que tiver a má sorte de ficar em dívida com o Estado, por qualquer motivo, e vier a cair em arapucas do tipo “malha fina” da Receita ou for mandado para o purgatório eterno da dívida pública, por débitos junto aos fornecedores de água ou de eletricidade ou mesmo tiver questões pendentes na área de trânsito ou de licenciamento de veículos, isso para ficar no básico, poderá experienciar na carne o quão é desigual perante a lei e o quão é pequeno e indefeso perante o Estado leviatã.

         Esse mesmo cidadão de segunda classe custa a acreditar quando observa que, para aqueles que estão no alto da pirâmide e que devem bilhões de reais ao Erário, por falcatruas diversas, incluindo corrupção e lavagem de dinheiro, o Estado age com mão leve, fazendo todo o esforço para amenizar as agruras momentâneas do rico devedor. Para esses, existem os mecanismos brandos da falência assistida e dos empréstimos amigos para solucionar a insolvência.

         Para os devedores de segunda classe, a lei, para os devedores vips, todos os esforços do Estado para apaziguar a questão. Observe bem o que ocorreu com os irmãos Batistas, da Friboi. Compraram, literalmente, toda a República, com o dinheiro dos contribuintes, em forma de renúncia ou incentivos e outras benesses via BNDES, confessaram os crimes, graças à Lava Jato, e foram para os EUA cuidar da vida. Um outro Batista, o Eike, milionário, amigo do governo, meteu-se pelos mesmos caminhos tortos. O que ocorreu depois ainda é incerto. Tudo isso e mais outros milhares de casos dessa natureza, envolvendo os amigos do rei, poderiam ficar como estão, não fosse por um detalhe: no fim das contas, quem irá ficar com o prejuízo e terá que pagar por esse e outros rombos espetaculares, feitos à luz do dia e com aval expresso da elite do Estado, é você.

         A você, caberá a tarefa de cobrir por essas falcatruas bilionárias, ao mesmo tempo em que deverá arranjar uma maneira de quitar sua dívida irrisória junto aos fornecedores de luz e de água ou do Detran. E é melhor andar logo por que a sua dívida, ao contrário do que ocorre com os poderosos, é entregue para bancos ou agências agiotas que irão cobrar juros diários, transformando um atraso que era de R$ 50,00 em um novo passivo de mais de R$ 50 mil.

A frase que foi pronunciada:

“Verdadeiro” e “falso” são atributos da fala, não das coisas. E onde não há fala, não há ‘verdade’ nem ‘falsidade”.

 Thomas Hobbes, Leviatã

Thomas Hobbes. Foto: Wikimedia Commons

 

Bolsonaro

Tucker Carlson, ícone da TV norte americana, veio conhecer o outro lado da notícia face a face. Vamos ver o que diz quando estiver nas telas novamente. Pode falar muito bem ou muito mal. É independente nos seus editoriais.

O presidente Jair Bolsonaro e o jornalista norte-americano Tucker Carlson                Foto: Reprodução/Twitter

 

História de Brasília

As crianças de Brasília estão empinando papagaios com uma linha protegida por uma película metálica. Com isto, cortam a linha dos que não possuem proteção, dando sequência a uma brincadeira de muitos anos. (Publicada em 02.03.1962)

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