Isso é o Brasil

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com Circe Cunha com MAMFIL

Se é difícil para os estrangeiros entenderem o Brasil, para a população que aqui vive, majoritariamente, composta por trabalhadores de baixa renda, é perda de tempo buscar sentido racional para o que acontece no dia a dia, principalmente com relação à escalada dos preços. Mesmo para os padrões americanos e europeus, os valores cobrados por diárias de hotéis e restaurantes de padrão médio no Brasil são extremamente mais elevados do que os preços desses mesmos serviços no exterior. São inúmeros os impostos e tributos que incidem sobre todos os bens de consumo. No ciclo fechado dos impostos, o único beneficiário direto é o governo, ou, mais precisamente, a gigantesca máquina administrativa do país que absorve o grosso da renda.

Além disso, o povo brasileiro não exerce a cidadania como outros povos. Associações, institutos, até agora, ninguém foi capaz de unir a população para cobrar do Estado o cumprimento de suas obrigações. Na década de 1960, sem Twitter, Facebook ou WhatsApp, as donas de casa conseguiam se mobilizar propondo boicote instantâneo aos produtos com preços abusivos ou a estabelecimentos com atendimento a desejar. Hoje, curiosamente, com todo esse aparato tecnológico, o máximo que se vê são piadas engraçadíssimas, mas sem efeito prático algum.

Difícil explicar em qualquer língua que apesar de possuirmos enormes jazidas de petróleo e contarmos com uma empresa com grande expertise na exploração, refino e distribuição desse mineral, temos o combustível mais caro e misturado do planeta. Como fazer entenderem outros povos quando afirmamos ter o maior rebanho de bovinos e frangos do planeta, se, nos supermercados, esses são artigos que só podem ser comprados por uma minoria?

Impossível que os estrangeiros entendam que somos o celeiro do mundo e temos milhões de quilômetros quadrados de terra perfeitamente agricultáveis, exportando grãos diversos para todos os cantos do planeta e nas gôndolas dos supermercados e nas feiras de rua o quilo do feijão, que é o alimento básico da população, chega a custar mais de US$ 6?

Qual a explicação para o fato de possuirmos 7.491 quilômetros de extensão de litoral e 200 milhas náuticas de mar territorial e termos uma produção e um consumo irrisório de pescado e derivados do mar? Como explicar os preços exorbitantes desses produtos para o consumidor? Como pode encontrarmos no mercado peixes vindos da China? Pior. Como um povo que vê na Constituição artigos que lhe garante saúde, transporte e educação e apesar disso ter que buscar plano de saúde, escolas particulares e usar o próprio carro por falta da mobilidade e esse mesmo povo reage com samba e futebol?

Nossos cientistas precisam deixar o Brasil para poder trabalhar e desenvolver projetos. Quem entende isso? Somos a Pátria Educadora que não educa; e que permite campanhas, comerciais, novelas e programas totalmente deseducativos. Nada foi feito efetivamente contra as baixarias na televisão. Talvez porque baixaria já não seja a mesma coisa. Valores e preços são substantivos que se misturam.

As mesmas interrogações se repetem para tudo o que produzimos e consumimos. Se repetem também para a complacência ao saber que há corrupção no samba, no futebol, na educação, na saúde, no transporte e, mesmo assim, a troca de informações nos meios eletrônicos se resumem em piadas ou, no máximo, colheres batendo em panelas. Melhor resumir essas questões com a frase enigmática: Isso é o Brasil.

A frase que foi pronunciada

“Os estrangeiros, eu sei que eles vão gostar, tem o Atlântico, tem vista pro mar. A Amazônia é o jardim do quintal e o dólar deles paga o nosso mingau.”

Raul Seixas

Até quando?
Por falar nisso tudo, a Secretaria de Educação do DF ainda não adotou nas escolas o livro de Marcelo Capucci e Marcos Linhares, Faço, separo, transformo. Tem gente em Londres que já se interessou. Precisa ser assim? Nunca vamos valorizar os nossos escritores, atores, músicos, cientistas, pintores, escultores…

História de Brasília

Estão falando muito em moratória para o comércio em Brasília. Será um descalabro. Basta que a Novacap pague suas dívidas, e o comércio de Brasília funcionará que é uma beleza (Publicado em 12/9/1961)

* Expecionalmente, republicamos a coluna de 9 de agosto de 2016

Ensino público não é prioridade

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Com o passar dos anos, um fato vai ficando evidente: o ensino público em nosso país, em todas as séries, incluindo, as universidades, não é prioridade de nenhum governo, em tempo algum. Não é por outro motivo que o Brasil continua patinando num eterno subdesenvolvimento, dependente de outros países quando o assunto é ciência e progresso tecnológico. Enquanto prosseguimos como exportadores de matérias-primas, vendidas a preços de irrisórios e que vão exaurindo, para sempre, nossos recursos naturais, outros países, menores territorialmente do que muitos estados brasileiros, lucram muito mais apenas com a formação de gerações de cérebros aptos a trabalhar com pesquisas científicas. Os nossos cérebros não encontram por aqui vantagens para dedicação a pesquisas.

A partir principalmente da revolução industrial, muitos países começaram a enxergar no desenvolvimento das ciências o lastro e o caminho mais seguro para o alcance do progresso e da riqueza. Países, como o Japão, a Alemanha, a Coreia do Sul, praticamente transformados em ruínas pelas guerras e pelas bombas, ergueram-se dos escombros apoiados por um massivo e prolongado programa de educação. Basta uma visita às escolas no interior das regiões mais pobres do Brasil para constatar o grau de precariedade com que esses estabelecimentos funcionam. Algumas escolas nem teto têm, outras faltam carteiras e material didático básico. Alunos têm de viajar quilômetros, as vezes a pé, para frequentar as aulas. Merenda escolar também é item de que muitas escolas não dispõem. Há prefeitos com coragem para subtrair a verba do lanche das crianças para outra finalidade.

Acesso à informática ainda é apenas sonho em muitos grupos escolares pelo interior do país. Em pleno século 21, nossas escolas públicas seguem sendo exatamente como eram em séculos passados. Com tal descaso, gerações, uma após outra, são obrigadas a permanecer atoladas no atraso e no subdesenvolvimento, reféns da vontade de políticos demagogos que usam o analfabetismo como ferramenta para permanecer eternamente explorando a população.

Em 2015, após a realização da Prova Brasil, que avalia alunos do ensino básico, constatou-se que quase 70% dos alunos do quinto ano das escolas públicas não sabiam, sequer, reconhecer um quadrado, um círculo ou um triângulo. Mais de 60% não conseguiam localizar informações colocadas de forma explícitas nas historinhas. Cerca de 90% dos alunos do 9º ano não sabiam converter uma medida dada em metro para centímetros. Educadores são unânimes em reconhecer que no ritmo atual o Brasil levará décadas para atingir as 20 metas de ensino propostas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), a serem cumpridas até 2020.

A proposta de destinar 100% dos royalties do petróleo e recursos, ditos infindáveis, do pré-sal, que os governos petistas anunciavam como uma panaceia redentora, mostrou-se um engodo, após as revelações da Operação Lava-Jato. Destruída pela corrupção avassaladora, a Petrobras, que poderia patrocinar esse imenso plano, é hoje uma empresa falida, assim como o ensino público deste país.

A frase que não foi pronunciada

“Ah, Marechal Deodoro da Fonseca, era por esse tipo de República que o senhor esperava?”

Pergunta imaginária de cidadãos brasileiros que, independentemente da forma de governo, continuam com problemas na saúde e educação, e enfrentam o péssimo exemplo dado pelos governantes

Que figura!

» Simpatia, simplicidade e muito trabalho. Karina Curi Rosso andava com os óculos despencando do rosto a todo momento. A falta de tempo e a preocupação com o volume diário de trabalho estavam sempre tomando o lugar da óptica. Até que alguém fechou a agenda por algumas horas para que Karina cuidasse do apetrecho. Por ela, estaria na sua simplicidade, segurando as lentes até hoje.

História de Brasília

Lama atola Jeep. Caiu a rampa do Senado, e a lama foi até a Vila Amaury. Vamos usar o atalho. Que nada, ninguém passa. Liga a reduzida! Até que enfim…(Publicado em 15/9/1961)

Um Brasil justo para Lula

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com Circe Cunha com MAMFIL

Fosse tomada ao pé da letra e num país ideal, a campanha, lançada pelo ex-presidente Lula e sua claque, intitulada Um Brasil justo pra todos e pra Lula, prestar-se-ia, a priori, como movimento legalista em defesa dos princípios constitucionais de igualdade de todos perante a lei e — quem sabe? — contra privilégios, como foro privilegiado para as autoridades. Mas num país que foi tomado como propriedade particular de um partido e de uma ideologia incipiente, o significado e o objetivo reais da campanha deixam subentendido que se trata, isso sim, de mais uma tentativa de desvirtuar o trabalho histórico do Ministério Público, criando e reforçando a falsa noção de que as investigações miram, seletivamente, apenas nos governos petistas, e, particularmente, no ex-presidente.

Trata-se, como já deixou claro, em diversas outras oportunidades, de construir uma narrativa crível de que a Justiça tem agido, atiçada por uma direita raivosa e vingativa. Pelo conteúdo dos discursos feitos na ocasião, fica claro que se trata de manifestação visando apenas blindar o ex-presidente, que já é réu em três processos relacionados a casos de corrupção e obstrução da Justiça.

Em seu discurso, Lula partiu logo para cima dos procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato, acusando-os de formarem, juntamente com a mídia e a Polícia Federal, “um pacto quase diabólico”, visando desconstruir sua reputação e seus 8 anos de governo. “Eu penso, disse Lula, que eles cometeram um pequeno erro. É que eles mexeram com a pessoa errada. Eu não tenho nenhuma preocupação de prestar contas à Justiça brasileira. O que eu tenho preocupação é quando eu vejo um pacto quase diabólico entre a mídia, a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz que está apurando todo esse processo.”

Analisando apenas a expressão “eles mexeram com a pessoa errada”, fica claro que o ex-presidente se considera diferente e acima dos demais brasileiros e que, portanto, não pode ser alvo de investigação. Já a colocação de que está sendo alvo de um pacto diabólico, iguala o discurso de Lula às pregações feitas por muitos pastores neopentecostais para amedrontar os fiéis e, assim, transformá-los em presa fácil para as igrejas caça-níqueis.

“Eu me sentiria confortável participando de um ato de acusação à força-tarefa da Lava-Jato, que está mentindo para a sociedade brasileira”, afirmou o ex-presidente, para quem os delegados que o investigam agem comprometidos ideologicamente com determinados partidos. Somada a essa campanha de blindagem, os movimentos sociais, orquestrados pelo Partido dos Trabalhadores, realizaram manifestações em algumas capitais brasileiras, queimando pneus em vias públicas e paralisando os serviços de transporte público. Como sempre, sobrou para os verdadeiros trabalhadores. Um dia de caos.

A frase que não foi pronunciada

“Ambiente universitário é local de debates acadêmicos de ideias… Não é lugar de impor a força, mas o convencimento. Foi isso o que aprendi estudando aqui.”

Professor Alex Araújo, da UnB na Assembleia dos Professores contra atos de força na UnB

Perigo

» Atenção, motoristas! A engenharia de trânsito do Distrito Federal descuidou da construção de recuo para a parada de ônibus na lateral do Shopping Iguatemi, na descida para o Varjão. O embarque e odesembarque dos passageiros são feitos no centro da pista, interrompendo o fluxo de veículos.

Lei cega

» Os moradores da 715 norte estão aterrorizados com a onda de assaltos à mão armada na quadra. Em apenas uma semana, três assaltos aconteceram na área, mas até o momento ninguém foi preso. A maioria dos casos aparenta ser, segundo testemunhas, praticada por menores de idade. A pergunta que fica é: o crime praticado por menores é menor

Lava a jato

» É uma tristeza andar pela UnB e ver prédios novos como a Face, o Bsan e o Irel pichados com frases de ordem ideológicas. Depredar o patrimônio público é crime. Quem fará com que a lei seja obedecida?

Estresse

» Exagerada a quantidade de outdoors pela cidade. A poluição visual, assim como a sonora e a ambiental, causa problemas de saúde na população.

História de Brasília

E a distribuição do O Jornal, como vai? Se o Calmon chegar aqui e não encontrar o jornal no aeroporto, e no Hotel, você acaba sendo demitido. Era a luta dia a dia. Todos os horários de aviões na cabeça. Real, às 9h30, e Panair, às 10h. Se não vier num, virá no outro.(Publicado em 15/9/1961)

Os fios das Ariadnes

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Colocada ao lado da realidade, a ficção se mostra apenas como uma sombra. No Mito da caverna, de Platão, o que os prisioneiros acorrentados veem e aceitam como fato não passa de ficção projetada contra o fundo da parede. A realidade, ofertada a poucos, arde lá fora. Recém-formada em direito, Ariadne divulgou pela internet o que é apresentado aos milhares de navegantes acorrentados: um mundo como ele é e que muitos ainda insistem que é delírios oriundos da imaginação. No texto enxuto, escrito em forma de despedida e que logo será capturado por alguém, como roteiro de um thriller, o que se apresentam são as pegadas meticulosas de um serial assediador.

O uso da posição hierárquica, como arma afiada, da inteligência, como armadilha, capaz de encurralar a presa num canto escuro. O assédio moral nas suas infinitas formas e que muitos tribunais não julgam com a rigidez necessária, os projetos de lei sobre o assunto que repousam no Congresso, cheios de lacunas na tipificação do crime, e a própria sociedade continuam torcendo o nariz. Por isso, fazem vítimas a todo o instante. Os alvos param de agir como se estivessem em uma areia movediça. Gritam, mas no lugar do socorro vem o pedido de silêncio. Toda a história incomoda muito. De um lado a indústria do dano moral e de outro o assédio moral mal compreendido, com sequelas psicológicas, como se a vida fosse se desbotando.

Quem vence o episódio de assédio moral carrega sempre uma cicatriz. É inegável. Ariadne não tinha o apoio da família. Com a autoestima frágil, o desfecho dificilmente seria outro. Para os mais sensíveis e indefesos, o fim do caso pode ser fatal. Quem entende da questão relata que é comum, em muitos casos, que a presa passe a se sentir como que atolada numa areia movediça. A cada movimento feito para se libertar, corresponde uma ação contrária, com a pessoa afundando mais e mais, até ser completamente tragada pela areia. Paralisada , com o encantamento aterrorizante da serpente, a presa não encontra ação para resistir.

Se o alvo do assédio moral tiver o azar de encontrar psicólogos ou psiquiatras que tratam da mente, da alma sem o conhecimento necessário para agir corretamente, aí o desastre é certo. Aqueles que agem dentro da ética na medida do possível devem ser execrados o mais cedo possível.

Que forças ocultas e inexplicáveis seriam capazes de fazer uma jovem, recém-formada e com uma longa estrada pela frente, viajar propositadamente dezenas de quilômetros para se pôr à beira do precipício e de lá empreender um salto para o vazio? O que temos agora, queimando em nossas mãos são as linhas de Ariadne. Escritas, como se fossem um novelo de lã, parecem querer nos conduzir para fora desse labirinto do Minotauro. Ariadne da mitologia teceu a solução para a saída desse emaranhado de entradas e saídas. Ariadne de Brasília deixou o fio da meada para trás. Ninguém conseguiu ajudá-la.

O testamento de Ariadne é o derradeiro grito dado por uma menina desesperada, que, para além do pavor, ainda encontrou coragem para alertar outros do grande perigo. Agora, o dedo silencioso de um cadáver apontando determinada direção parece indicar o algoz próximo. Mais são muitos. Qual deles? O que poderá toda inteligência humana contra um dedo de cadáver apontando em várias direções? Muitas Ariadnes por todo o canto experimentam neste exato instante terror psicológico semelhante e não encontram a saída do labirinto. O que poderá todo o monumental edifício do direito contra um dedo rijo e morto que insiste em apontar?

A frase que foi pronunciada
“Assédio moral não é uma
foto. É um filme.”

Marie-France Hirigoyen

Novidade
» Uma cartilha foi a solução para explicar a políticos, congressistas, empresários, jornalistas e outros contatos da Embaixada do Brasil em Washington. O tema é a transição política e econômica no Brasil. Quais os passos para recuperar a economia e como se deu o impeachment.
Sem surpresas
» A pesquisa do Ibope que o Ministério da Educação encomendou apontou que 70% da população apoia a reforma no ensino médio. Alguma coisa precisa ser feita. Professores universitários são os que mais reclamam do baixo nível dos alunos nos últimos 10 anos.

História de Brasília
Éramos três: Antônio Honório, Jairo Valadares e eu. Para um pouco, chega! Vamos ao hotel tomar alguma coisa! A gente enlouquece, nessa nostalgia. Vinham aos sábados as visitas. Era o único dia de passeio. A gente iria mostrar a cidade. Cuidado, não beba água sem limão. Dá dor de barriga! (Publicado em 15/9/1961)

Alea jacta est

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com Circe Cunha com MAMFIL

Fossem os países do Ocidente um grande tabuleiro de xadrez, o que estaríamos assistindo agora seria à enorme reorganização das peças para nova rodada de jogos estratégicos que parecem estar prestes a começar. Os cidadãos americanos fizeram suas apostas e depositaram nas urnas. No entanto, o que emergiu da contagem de votos, não foi um enxadrista cerebral, que seria a escolha mais racional, mas um antigo magnata dos cassinos.

Nos próximos quatro anos, a nação mais poderosa e rica do planeta será comandada literalmente por uma espécie de crupiê que dará as cartas com uma mão e recolherá o dinheiro com a outra. Quem visita as cidades americanas de Las Vegas e Atlantic City, com seus enormes cassinos, decorados com o que existe de mais luxuoso e cafona, pode assistir, a cada manhã, à chegada sucessiva de dezenas de caravanas de ônibus, na sua maioria repletos de americanos da terceira idade. Assim que desembarcam, rumam apressados para a jogatina que se estende até ao final do dia.

Durante horas seguidas, idosos, a maioria aposentados e solitários, ficam defronte às máquinas caça-níqueis (slot machines) acionando as manivelas da engenhoca, à espera da sorte grande, que, obviamente, jamais virá. Muitos manejam mais de uma máquina ao mesmo tempo, depositando nelas a aposentadoria depois de décadas de trabalho. Economias de toda uma vida são instantaneamente tragadas pelos dragões de metal, sob o olhar frio dos seguranças que transitam desconfiados pelos salões repletos.

Quando a noite cai, os disciplinados grupos de cabeças brancas regressam aos ônibus e partem para uma longa jornada de volta. Retornam para suas cidades de origem, depenados e mais leves. Todos os dias a cena se repete, com levas de idosos tentando a sorte nos cassinos. Para muitos, é diversão e aventura. Para os donos, a certeza de muitos milhões diariamente.

Parte da fortuna do futuro presidente americano, agora eleito, foi montada às custas do empobrecimento voluntário de seus conterrâneos de mais idade. Afinal, tudo é feito sem remorso e a partir da decisão livre de cada um. Também no Brasil a sorte está sendo lançada. Com a aprovação pela Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional do Senado do projeto de lei que legaliza os jogos de azar no país, de autoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI), em breve teremos espalhados por todo o território nacional nossos próprios cassinos, bingos, jogos de bicho e outras modalidades de jogos de azar.

A sorte, claro, ficará apenas para os proprietários das casas de jogos. Quem sabe um dia alguns dos novos magnatas dos jogos não venham se lançar na política e concorrer a presidente da República do Brasil? Por esses caminhos, teremos também a nossa versão de Trump. A sorte está lançada.

A frase que foi pronunciada

“No Brasil, temos a operação Lava-Jato e a Operação Lava-Cérebro”

Alguém vendo estudantes em manifestações repetindo mecanicamente frases de efeito.

Catetinho

» Já se passaram 60 anos da construção do Catetinho, primeira sede do governo federal em Brasília. Parece que quanto mais simples o palácio, mais realizações são feitas.

Mulheres

» Por todo o país, há muitas músicas compostas com o objetivo de denunciar violência contra a mulher. Paulo Diego de Sousa, de Samambaia, compôs Meu pai é um monstro; Drika Ferreira e Micheli Hansen, de São Paulo, são as autoras da canção Lei Maria da Penha. Em uma só voz foi composta por Lidiane de Jesus, de Planaltina. Está na hora de promover essas pessoas. A música é um bom instrumento de conscientização.

Mulheres

» Quem detesta fila e engarrafamentos para assistir a bons shows tem uma oportunidade amanhã. No Setor Comercial Sul, Edifício Presidente Dutra, Teatro Silvio Barbato, Sesc, show de Célia Rabelo e noneto da Brasília Popular Orquestra. A batuta é do maestro Manoel Carvalho de Oliveira. A melhor parte: O show é às 11h30 e vai ter um bolinho para Célia, que faz aniversário.

História de Brasília

Observância ao Plano Piloto. Na W3, há diversas oficinas, principalmente de automóveis (Folks, DKW, Willys) tudo isto irregular. No Setor Escolar, há uma estação de rádio. Em frente à Novacap, residências são transformadas em casa de comércio, e os cartórios dão mau exemplo. Nos SCL, a área de trânsito público é ocupada por bares, com mesas ao ar livre. Sobre o ajardinamento, a área total reservada para jardins de Brasília atinge a milhões de metros quadrados, incluindo a margem do Lago. É um dos Departamentos que merecerá maior verba, para útil aplicação. (Publicado em 17/9/1961)

A marcha da humanidade

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com Circe Cunha com MAMFIL

Em tempos passados, as eleições norte-americanas não ocupavam muito espaço na mídia brasileira. Vivíamos num mundo disperso e as ideias de globalização eram ainda apenas ideias na cabeça de alguns pensadores e teóricos. Nosso interesse no grande irmão do Norte se prendia ao cinema, moda, novidades no mundo automobilístico e coisas do gênero. Com o processo de interação mundial, provocada pela globalização dos mercados, com a consequente formação de grandes blocos comerciais, a interdependência econômica entre os países se transformou numa realidade presente e inescapável. Países que, a princípio, rejeitavam a ideia de uma Aldeia Global, foram levados pela correnteza de um mundo em rápida transformação. Também a emergência de uma nova tecnologia, interligou todo o planeta de modo instantâneo, encolhendo distâncias geográficas e temporais.

Hoje, tudo interessa a todos e a todo momento. Isso porque o que ocorre a milhares de quilômetros daqui interfere no nosso dia a dia. Nesse sentido, é possível inferir que a chegada do novo presidente nos EUA, com um conjunto de promessas de campanha flagrantemente protecionista e xenófobo, e com um perfil pessoal, para dizer o mínimo, discutível, trarão consequências para o Brasil. Em primeiro lugar, porque os EUA representam o segundo mercado para as exportações brasileiras.Também é sabido que naquele país residem mais de um milhão de imigrantes brasileiros, em sua maioria, em situação irregular. De toda forma, se fôssemos estabelecer um ranking para aferir quem mais perdeu com a eleição de Donald Trump, talvez venha a ocupar o topo da lista os analistas políticos, que em sua grande maioria, e até o último minuto, acreditavam na derrota do candidato fanfarrão.

Colhidos de surpresa, muitos ainda estão zonzos, procurando uma explicação racional para o acontecimento. Ainda assim, fica evidente para muitos que dentro do ritmo constante, da sístole e diástole que leva o mundo a período de maior e menor fechamento econômico, o que se assiste parece ser um retorno às teses do protecionismo antigo, associado à uma onda crescente de xenofobia, que passa a enxergar no imigrante, principalmente aqueles vindos de países pobres, uma causa para a recessão econômica mundial e, por tabela, para o próprio processo de globalização que passa a ser repensado.

Numa coisa todos parecem concordar: não se trata de ascensão da direita no mundo, como muitos creem, já que a escolha por lideranças nacionalistas, em parte do Ocidente, foi feita livremente pela própria população desses países, cansada da política tradicional. O que parece é que o mundo começa a reagir de forma uniforme, optando por caminhos ainda pouco claros. É marcha irrefreável da humanidade por trilhas que parecem ainda obscuras. Pelo sim, pelo não, melhor acender uma vela para iluminar esses caminhos.

PEC 241

» Em conversa no corredor das Comissões, Maria Lucia Fattorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida, colocou suas ideias sobre alguns pontos ainda obscuros para a opinião pública sobre a PEC do Teto, PEC 241. Primeiro esclareceu que a oposição ao projeto é técnica e não ideológica como tentam colocar para fechar de imediato a discussão.

Autoridade

» A ex-auditora da Receita, convidada pelo Syriza para analisar a dívida grega, esclarece que os senadores brasileiros estão votando a PEC do Teto enganados. Eles não sabem tecnicamente o que essa PEC trará como consequência. Despesa primária é a chave mestra para o entendimento. Os juros ficam de fora. O teto é apenas para as despesas primárias e juros não são despesa primária.

O que é

» Fattorelli diz ainda que essa PEC só tem um objetivo. Colocar um teto, uma amarra nas despesas primárias. Prende o nosso desenvolvimento econômico por 20 anos. É o que diz o texto que está mudando a Constituição. Infelizmente, não trata da corrupção que corrói a pouca verba que ainda existe; não trata de gestão, contrapartidas, auditorias. Ela congela o volume de recursos e permite daqui para frente será só o IPCA.

Como será

» Despesas primárias são tudo menos as despesas financeiras. Acabou investimento em ciência e tecnologia. Tudo o que o país vier a crescer só vai poder ser destinado para as despesas não primárias por 20 anos. Tudo o que a União arrecadar só vai poder ir para despesas não primárias. Nossos senadores não sabem o que estão votando, porque não entendem. Agora vai ser Constitucional destinar dinheiro para tudo isso enquanto a Saúde e Educação, Ciência e Tecnologia vão penar por falta de verbas, conclui Fattorelli

Denúncia

» Emendas para controlar os juros, limites para os juros, limites para as empresas estatais não dependentes que estão sendo criadas como uma praga pelo país. Em Porto Alegre, está sendo criada a Investe POA. A PEC deixa livre, fora do teto. Recursos para empresas estatais não dependentes. É preciso urgência na distinção de empresas estatais não dependentes legítimas, que atendem aos pressupostos do art. 173 da Constituição e das empresas fraudulentas, com maracutaias. Isso aqui é muito grave, e só estará aberto a mudanças daqui a 10 longos anos.

Sem esclarecimentos

» Essa dívida nunca foi auditada. Há centenas de denúncias de fraudes, ilegalidades e inconstitucionalidades. Sindicatos, parte do judiciário, instituições sérias estão tentando chamar a atenção das autoridades para o que está acontecendo, mas todos fomos bloqueados. A imprensa não comprou a briga. Nas audiências públicas o governo não enviou representantes, reclama a auditora.

Salários no serviço público definem nossa República

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com Circe Cunha e MAMFIL

Nos 127 anos que nos separaram da Proclamação da República, muito mudou, obviamente, mas muita coisa permanece inalterada. Pela resistência que se observa nos três Poderes do Estado, ainda vai levar um bom tempo para que tenhamos de fato uma República conforme preceituada lá nas suas origens e onde a igualdade formal dos indivíduos e o respeito à coisa pública sejam de fato acatados.

Houvesse, desde sua origem no Brasil, tomado o caminho natural da austeridade nos gastos , com a simplificação da máquina do Estado e a cessação definitiva dos privilégios herdados após um longo período de monarquia, nossa República seria modelo para o mundo Ocidental. Infelizmente enveredamos pelo caminho que parecia mais fácil e natural à nossa formação histórica.

Criamos, para desfrute das classes mais abastadas e influentes, um misto de República e monarquia, de modo a atender às pressões das elites destronadas e acomodar todo mundo na ante sala dos cofres públicos. Não é por outro motivo que ainda temos um Executivo onde os presidentes, ao longo desse tempo, sempre demonstraram um comportamento tipicamente monárquico, faltando-lhes apenas o uso do cetro e da coroa.

Blindados contra as bisbilhotices alheias pela prerrogativa de foro, nossos parlamentares vivem num mundo à parte e refutam qualquer tentativa de enquadrá-los dentro dos princípios republicanos. Também o Judiciário, principalmente aquele alojado nas altas cortes, vive em um período anterior a 1889. Pesquisa feita na folha de pagamento dos juízes dessa Corte, ainda no ano passado, mostrou magistrados recebendo salários com superligas de nióbio com as chamadas “vantagens eventuais” que chegam a R$ 700mil mensais.

Para um país com 12 milhões de desempregados, e milhões vivendo de subempregos e trabalhos eventuais, um servidor da Justiça exibir um provento dessa magnitude chega a ser pornográfico. Em regra geral, nas instâncias superiores, que deveriam ser exemplo, os salários ultrapassam o teto limite fixado pela própria Constituição, o que convenhamos, é contrário a Lei Maior do país.

Fossem adotados limites racionais para estes salários escandalosos, e dentro do que um país moderno pleiteia, o salário mais alto deveria caber aos professores-pesquisadores universitários em fim de carreira, com todos os títulos acadêmicos possíveis incorporados.

Os altíssimos salários não explicam o gasto com o funcionalismo que, só neste ano, consumirá R$ 161 bilhões e nem explicam também a crise econômica atual atravessada pelo Brasil. O que nos distancia de uma República ideal é a preguiça de mudar e os interesses em manter as coisas como estão.

A frase que não foi pronunciada

“Não!”

Possível resposta de organizadores ao aluno que perguntou: “Eu posso não querer ocupar a UnB?”

Votação

» No Gama, foram 60 votos a favor e 378 contra a ocupação nas universidades.

Vicente Pires

» Os moradores de Vicente Pires — bairro que abriga 90 mil pessoas — estão preocupados com a ameaça de desativação do único Posto de Saúde da cidade. É que a Secretaria de Saúde está há 20 meses sem pagar o aluguel do posto, os telefones estão cortados por falta de pagamento e a diretora Regina foi exonerada, além dos demais profissionais serem obrigados a prestar serviços em hospitais. A revolta é geral. Com a palavra o governador Rollemberg.

Efeito

» Alexandre Zaghetto, professor da UnB, peitou. Deu aula ao ar livre, já que as salas estavam ocupadas por quem não quer estudar. Alunos não faltaram! O mesmo aconteceu no Departamento de Música. Aulas debaixo das árvores. Pelo menos para alguma coisa esse movimento serviu! Sair da mesmice é ótimo!

Prevenção

» II Fórum Ser Homem no Brasil — Um novo olhar sobre a saúde, acesso e tratamento ao homem com câncer. O oncologista Igor Morbeck participou do encontro, representando o Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês — Unidade Brasília. O encontro foi promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida. Em pauta, a prevenção de tumores masculinos. O evento teve o apoio do Senado Federal e reuniu parlamentares, governantes, representantes do Ministério da Saúde, população e profissionais da área. O evento foi realizado no auditório Senador Antônio Carlos Magalhães, Interlegis, do Senado.

História de Brasília

Veio, depois, a construção. Dois prédios, um de tevê e outro de jornal. As fiscalizações semanais. O desespero do nosso Nereu Bastos, e a preocupação do dr. Edilson Varela. (Publicado em 15/9/1961)

Panelinhas de pressão

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com Circe Cunha com MAMFIL

No jargão popular, panelinha significa grupelho fechado de pessoas que se juntam para atingir determinados objetivos e alijar aqueles que não comungam de suas ideias e intenções. Normalmente, as panelinhas se concentram e se formam em torno de alguém que possui algum grau de mando ou ocupa qualquer cargo de relevo, quer na máquina pública, quer na iniciativa privada. No mundo político as panelinhas se formam em torno daquelas lideranças mais poderosas e normalmente compõem o que chamam de base de apoio. No serviço público é denominada panelinha o ajuntamento de funcionários menos graduados em torno do chefe do setor, formando uma espécie de clube fechado, onde só é permitido entrar quem comunga das mesmas ideias e tem as mesmas intenções.

Onde quer que existam as panelinhas – e existem muitas – o objetivo é sempre o mesmo e nunca é feito dentro dos princípios da ética. No popular é chamado de roda de puxa-sacos, composta sempre de pessoas que se utilizam da proximidade de alguém influente, a quem rendem falsos salamaleques, para obter vantagens, mesmo às custas de prejudicar outras pessoas. Normalmente, as panelinhas são compostas de pessoas que, no íntimo, não acreditam na própria capacidade e talento, necessitando, para seu sucesso, de outra pessoa que é usada como simples degrau para sua escalada. Infelizmente, as panelinhas estão presentes em toda e qualquer atividade humana onde haja competição.

No mundo das artes, onde a maioria das pessoas acredita existir a paz de anjos banhados pela luz da inspiração, as panelinhas se formam com mais energia. Grupos fechados em reuniões, exposições, mostras e muita coincidência nos concursos para escolha de pinturas e esculturas com os nomes de sempre. Não é por outra razão que vemos a repetição de nomes, em todas as atividades de grande monta que são organizadas e apresentada à sociedade.

É como se existissem apenas determinados artistas, num universo que na realidade é muito mais amplo do que parece. Não por outra razão que, por toda a cidade, repetem-se, de forma monótona, obras com as mesmas assinaturas como se não houvessem muitíssimos outros talentos do mesmo calibre ou superiores. Foi uma lei do ex-senador Gim Argello que obrigou todo prédio público a dar uma oportunidade para os artistas plásticos da cidade. Mas passeando pela capital, nota-se que trata-se de uma arte padrão, contrariando a iniciativa da lei e a própria origem da arte. Criatividade, novos pensamentos, originalidade e, acima de tudo, solidariedade.

A formação de panelinhas oficiais, ao prejudicar os talentos preteridos, afasta do grande público todos aqueles que, por razões de foro íntimo, se recusam a participar de clubinhos fechados e preferem manter-se à margem dessa prática. Perde Brasília, perdem os que gostariam de viver da arte.

A frase que foi pronunciada

“A arte diz o indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível.”

Leonardo da Vinci

Retardatários

» Correria na Câmara dos Deputados para a votação da Lei de Responsabilidade Educacional. Uma lei com esse teor é uma das exigências do Plano Nacional de Educação (PNE – Lei 13.005/14). Dois anos depois de aprovada, interesses diversos não permitem que a lei seja votada.

Nova pauta — dignidade

» Antes de se preocupar com fim dos corredores para motos e legalização do Uber, os parlamentares deveriam se reunir na comissão especial da Câmara dos Deputados, que discute o novo Código de Trânsito, para proibir em todo o país que trabalhadores exerçam a profissão pendurados atrás de um caminhão, com o rosto voltado para o lixo e tendo como única segurança as mãos, nem sempre com luvas, agarradas a uma barra de ferro enquanto lutam contra o sono e contra o enjoo.

Ponteiros

» Essa história de Brasília publicada na coluna do Ari é a prova maior de que o tempo passa e os problemas não mudam. Olhem a situação de hoje e a historinha publicada há 55 anos. Comentário do amigo Felipe de Mattos.

História de Brasília

Plano de Obras. Já está pronto. Falta dinheiro para executar. Era de 17 bilhões. O sr. Jânio Quadros reduziu para 13 bilhões. Veio, depois, nova ordem para 9 bilhões. Agora, querem reduzir para sete. Com sete bilhões, mal se pagarão as dívidas da Novacap, que são de 5 bilhões. (Publicado em 17/9/1961)

Bancada do bem

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com Circe Cunha com MAMFIL

Com a ocupação de escolas do ensino médio e agora das universidades públicas pelos alunos em todo o país, vai ficando claro para toda a sociedade que o governo, por mais melindrado e preocupado que esteja com essa questão, está, literalmente, de mãos amarradas, impossibilitado de dar resposta satisfatória para os manifestantes, mesmo ciente dos enormes prejuízos que as ocupações acarretam para todos. A razão dessa imobilidade e cautela do governo tem uma explicação singela e ao mesmo tempo complexa: os estudantes, de modo geral, têm ocupado espaço que naturalmente lhes pertence e, portanto, agem dentro de território próprio. Essa espécie de imunidade extraterritorial conferida aos estabelecimentos de ensino é fundamental para o livre exercício da docência, dentro dos preceitos democráticos que arduamente perseguimos.

A escola, por sua própria definição, pertence a um mundo à parte, situada no território das ideias, da experimentação. Estado nenhum do planeta pode almejar o futuro se prescindir da preparação de seus cidadãos. Da mesma forma, todo e qualquer Estado democrático de direito que se preze tem o dever de assegurar, entre os itens que compõem as qualidades de um bom ensino, o livre pensar.

Infelizmente, as fotos publicadas na edição do CB desta semana mostraram alunos encapuzados acenando sobre o telhado da Reitoria da UnB, o que fez lembrar as imagens das muitas rebeliões de presos nas penitenciárias do país, onde os detentos sobem nas coberturas, para demonstrar que dominaram o território. É sabido que toda a manifestação é, em si, um ato político, passível, portanto, de tratamento eminentemente político.

No caso das ocupações das escolas de ensino médio e das universidades, o mote dos protestos tem sido as PECs da reforma do ensino médio e da limitação dos gastos públicos. Parece certo que o governo não tem intenção de recuar nas duas propostas, que, inclusive, contam com o apoio da maioria dos políticos. Também os alunos, principalmente nas universidades, parecem dispostos a não recuar de suas posições. Criado o impasse entre a liberdade de pensar e as imposições obrigatórias e legais que cabem ao Estado, resta à sociedade, situada nessa fronteira, assistir ao embate entre o futuro, que não se sabe ao certo como virá, e o presente, representado por um governo recém-chegado ao poder de forma pouco usual. Todo o cuidado é pouco para tratar do assunto.

O que está em cena talvez seja o primeiro e maior desafio da era Temer. Para os estudantes metidos nesse impasse político, talvez a solução esteja justamente em pelejar com as mesmas armas dos políticos, por meio — quem sabe? — da formação de uma base ampla no Congresso em favor do ensino, com a confecção de uma bancada da educação, a exemplo de outras bancadas de pressão que agem dentro do Legislativo. Se a questão é política, melhor agir no âmbito do parlamento. Enquanto isso não se concretiza, melhor liberar as escolas, perdendo uma primeira batalha, mas se preparando adequadamente para a guerra no foro próprio.

» A frase que não foi pronunciada

“Gente! Alguém sabe o que que é família?”

Pedrinho, em 2066.

Sem caráter

» Prova maior da encenação nas ocupações dos locais de ensino público são os líderes xingando e provocando os repórteres filmando com o celular em punho. Mostram descaradamente a má-fé na intenção.

Identidade

» Eliana Calmon foi homenageada pela passagem do aniversário por vários admiradores. Em conversas no cafezinho do Senado, da mesa ao lado, ouviu-se. Eliana Calmon é uma espécie de Sérgio Moro de saia.

Para todos

» Imprensa anuncia o absurdo de moradora de Samambaia que cerca a calçada impedindo o trânsito de pedestres. Mais perto da sede dos jornais, estão casas por todos os lados que fazem o mesmo e a Agefiz nunca conseguiu manter o padrão. No Lago Norte, o avanço deixou os postes no meio das calçadas. Culparam a CEB.

» História de Brasília

Ontem cedo, o general Pedro Geraldo estava no Palácio do Planalto, apresentando as despedidas que não pôde fazer no dia da renúncia. Cordial, cortês, explicou para a imprensa por que tantas vezes não foi o mesmo amigo daquela hora. Homem bom. ()Publicado em 29/8/1961

Ordem progresso

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com Circe Cunha e MAMFIL

Mudam-se os tempos ,mudam-se as vontades. Os grandes figurões da República que até ontem davam as cartas de nariz empinado vão saindo aos poucos de cena. A maioria, escoltada pela polícia que foi buscá-la em casa dormindo ou na sede de seus partidos, ainda atabalhoada ,tentando se desvencilhar das derradeiras provas comprometedoras. Neste tempo bicudo ,marcado pelo vaivém de agentes da lei, o que os brasileiros vão assistindo ao vivo e em cores é o desmanchar de um grande edifício, solapado pelo desgaste profundo de suas bases éticas. Em tempos assim, melhor não perder o que resta de compostura diante das lentes, quem sabe simulando as algemas de aço no pulso, sob o casaco de cara grife ou da estola de pele fina.Mesmo perfilado em fila indiana, com as mãos para trás feito meninos travessos, melhor escancarar os dentes para as câmeras, num sorriso que transpareça que nada demais está acontecendo. É tudo um grande engano. São apenas suspeitas infundadas. As notas oficiais, prontamente apresentadas pelos literalmente caríssimos advogados de defesa, repetem a mesma toada, tudo não passa de ilações infundadas, assacadas contra a honra desses nobilíssimos brasileiros. Em situações tão inusitadas como essas, melhor ainda é cuidar o quanto antes da construção coletiva de uma narrativa crível, capaz de seduzir o maior número possível de fiéis. Depois do golpe, a fantasia que melhor cabe vestir em público agora é a de perseguidos políticos, cassados por uma elite perversa, encastelada no Judiciário e que não tolera quem ousa se colocar ao lado dos menos favorecidos. Outra narrativa, confeccionada sob medida, que urge propagar aos quatro ventos para justificar o dilúvio, é o do fim de um ciclo virtuoso, no qual os pobres tiveram voz pela primeira vez. Esse ciclo agora, dizem em uníssono, será ocupado, novamente, pela mesma direita insensível que vem governando a América Latina e o país há séculos. Todo o Continente está sendo varrido por uma onda avassaladora composta por uma direita conservadora e pérfida. Feitas as construções das novíssimas verdades do partido, e ainda de acordo com cartilha escrita pelos donos dessas mesmas legendas, resta esperar que versões se espalhem como penas ao vento. Sem as narrativas providenciais, ditas sem pudor, todo o espetáculo pareceria o que é: o epílogo de uma história, em que a polícia chegou e acabou com a festança, prendendo todos os presentes, inclusive o sanfonista cego, que jura não ter visto nem ouvido nada.

A frase que não foi pronunciada

“Há pegadas que nos levam para um Brasil melhor.”

Pensamento do juiz Sergio Moro

Pulso firme

» Em tempos de crise, algumas pessoas se destacam pela coragem. Esse é o caso do diretor do Centro Educacional do Lago Norte, Jorge Ary Marques da Silva. Ele informou aos estudantes grevistas que a escola não seria ocupada por dois motivos: primeiro porque os alunos foram absolutamente contra a ocupação, opinião dada por meio de votação, e segundo, não podia permitir que menores de idade acampassem sem a permissão dos pais.

Lazer

»Toda quarta-feira, os moradores do CA Norte se encontram-no estacionamento próximo ao Banco do Brasil .No fim das contas, a reunião dos food trucks serve para lanchar por um preço mais atrativo e deixar o celular de lado.Uma boa opção para quem tem saudades de conversar tête-à-tête.

Conhecimento

» STF, STJ e TSE poderiam melhorar como anfitriões da sociedade. A falta de bibliotecas na cidade faz com que os órgãos públicos sejam a alternativa para os concurseiros. Infelizmente, as portas das bibliotecas das Cortes citadas só abrem para o público externo ao meio dia.

Chega!

» Se os bailes tipo pancadões e festas rave são claros ambientes de consumo de drogas ilícitas, o que está faltando para acabar com a folia? Pelos decibéis fora do padrão, o local é facilmente localizável.

Caos e perigo

»Depois de um acidente por alta velocidade no balão entre o Setor de Mansões e o Paranoá, uma placa de sinalização inscrita “Pare” foi derrubada.Meses após o ocorrido, nova placa foi instalada, mas no sentido errada da via. O resultado é que os motoristas que tinham a preferência têm que parar.