Banquete da fome

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Imagem: focorural.com

 

Difícil é explicar para qualquer dona de casa, dessa que diariamente vai ao mercado, ou a outros interessados na questão, as contraditórias razões que levam o nosso país, transformado, segundo a propaganda ufanista do governo, em celeiro que abastece o mundo, a vender, internamente, os alimentos básicos da dieta dos brasileiros a preços extorsivos e bem acima daqueles cobrados em outros países.

Falar em commodities, em terra de famintos, equivale a apontar fictícios oásis em meio ao calor árido do deserto. Essa questão ganha ainda mais dramaticidade, quando se observa que, do continente, a contemplar, de olhos e estômagos vazios, as milhões de toneladas de alimentos, em forma de grãos e proteínas que todo o ano embarcam em gigantescos navios cargueiros, rumo ao exterior, estão perfilados, logo na primeira fila, quase 8 milhões de cidadãos que experimentam. Somam-se, a estes despossuídos e desesperançosos, outros trinta milhões de conterrâneos subnutridos e a caminho do desespero, que veem a comida sumir na linha do horizonte, entre o céu e o mar. Já se disse que o chamado agronegócio não produz, propriamente, alimentos para quem tem fome de comida, mas lucros para aqueles poucos que têm fome de moeda estrangeira.

A situação fica ainda mais surreal quando entram na discussão elementos como balança comercial superavitária e outros dados econômicos abstratos que, entra e sai governo, não enchem a barriga de nossa gente. Alguns estudos, como o elaborado pelo pesquisador e professor do Departamento de Economia do Campos de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos, Danilo Rolim Dias de Aguiar, revelam que a produção de alimentos do nosso país seria mais do que suficiente para nutrir, com fartura, toda a população brasileira de aproximadamente 210 milhões de habitantes. O que ocorre no mundo paralelo do nosso agrobusiness não tem efeito positivo algum sobre uma situação famélica de milhões de brasileiros, que cresce ano a ano. Mais perturbador é verificar que o aumento seguido da produção de grãos e proteína, realizado em desfavor do meio ambiente, é acompanhado de perto pelo aumento no número de famílias em situação de fome e de desnutrição. Não se sabe, nem o próprio governo explica, em que ponto as linhas ascendentes desse gráfico antilógico se cruzam e em que patamar irão repousar.

Se, para a classe média, que dia a dia vai vendo sua renda minguar, essa já é uma situação irracional, para aqueles que não ligam e não entendem o mundo dos dados da economia essa é uma situação limite, capaz de conduzir o país para o beco sem saída da instabilidade social. Obviamente que, nesse quadro desolador da fome e da desnutrição, que nada mais é do que um estágio anterior da falta total de alimentos, há ainda fatores como a desigualdade e a concentração absurda de renda, o desperdício e perda de alimentos, além da má gerência em programas de assistência nessa área, todos eles voltados para atender interesses político e eleitoral momentâneos e que não vão ao centro do problema.

Há ainda evidências que transformam todo esse cenário distópico em uma espécie de filme felliniano, quando se verifica que o Brasil ocupa o quinto lugar mundial no quesito obesidade. Talvez, essa triste ironia possa explicar o fato de sermos encarados como um país impróprio para amadores e inocentes de todo o tipo. Ainda mais quando se transforma o total de alimentos exportados anualmente pelo Brasil em calorias. Segundo Dias de Aguiar, essa quantidade daria para alimentar 700 milhões de indivíduos, entre famélicos, obesos e aquela dona de casa para quem a explicação dos porquês já não são necessários e de nada adiantariam.

A frase que foi pronunciada:

Quase um bilhão de pessoas – um oitavo da população mundial – ainda vive com fome. A cada ano, 2 milhões de crianças morrem de desnutrição. Isso está acontecendo em um momento em que os médicos britânicos estão alertando sobre a disseminação da obesidade. Estamos comendo muito enquanto outros passam fome ”.

Jonathan Sacks

Pratas da Casa

Aryzinho venceu o pai no Campeonato Brasiliense de Golf 2021. Ary Martins Costa Alcântara, desde pequeno, dedica-se ao esporte, seguindo os passos do pai, Ary Carvalho de Alcântara. Veja as fotos a seguir.

Levanta-te

Impressionante a obra no asfalto do Lago Norte. Além da qualidade duvidosa, desde a forma como parte da obra é entregue, com meio-fio arrebentado, até dias e dias com três gatos pingados trabalhando a passo de bicho preguiça. Agora, impede a entrada do Setor de Mansões do Lago, que também dá acesso ao Paranoá, Itapuã e vários condomínios. Filas enormes enquanto a obra posa estática.

História de Brasília

Até hoje não foi feita a campanha pela vacinação Sabin em Brasília. Em Goiânia já foram registrados diversos casos de Pólio, e seria conveniente a preservação da saúde em Brasília.(Publicado em 04.02.1962)

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