Ser novo é…

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com Circe Cunha  e Mamfil

Aqui e ali aparecem políticos, no seu sentido real e necessário à comunidade, que se destacam em meio ao mar de egoísmo que inunda a atual legislatura no Congresso Nacional. São esses indivíduos que, justamente por terem luz própria, adquirida tanto na árdua formação intelectual como na experiência de vida, repleta de dissabores e desafios, fazem a diferença e acabam por justificar a própria existência do tão desgastado Poder Legislativo.

Seguidor das ideias de Darcy Ribeiro, também senador e um dos fundadores da Universidade de Brasília, Cristovam Buarque é um desses raros homens de ideias a habitar o mundo iletrado, primitivo e desleal da política nacional. Talvez por essas características pouco usuais, Cristovam não tenha se destacado como um igual junto aos pares, sendo pouco prestigiado e até alvo de críticas injustas, principalmente vindas de ex-companheiros do Partido dos Trabalhadores.

Seus ex-correligionários não perdoam o fato de o senador ter despertado para o grande engodo que é Lula e seu entorno imediato. O fato de ser atacado agora por petistas só aumenta a certeza de que o representante de Brasília no Senado fez a coisa certa ao despir a fantasia da ilusão, afastando-se do seu conterrâneo, cego de poder e vaidades vãs.

Tampouco a bandeira agitada por Cristovam no Congresso faz sucesso. Falar em educação, em meio a pessoas cujo interesse imediato não vai além das próximas eleições, é como pregar no deserto. Nesse sentido, tanto Darcy Ribeiro como Cristovam Buarque e mesmo outros educadores como Anísio Teixeira, por suas pregações pela importância do saber na vida humana, discursam para plenários vazios, povoados por gente de orelhas moucas e pouco interessada nas coisas do humanismo, da ciência e da cultura.

Por certo, nesta altura de vida, o velho senador já tenha se convencido da ineficácia de revolucionar o país por meio da educação de massa, a partir do Legislativo. A ideia de que o Brasil possa repetir o sucesso da Coreia do Sul, que, pela educação, libertou o país do subdesenvolvimento, parece sonho distante, principalmente nestes tempos em que a falta de alma de nossas lideranças é exposta à luz do dia, para o horror de todos.

No derradeiro artigo em que tratou da importância do novo para a construção do futuro, Cristovam mandou um recado para seus pares ao aconselhar que “o novo está mais no dinamismo decorrente da coesão social do que na disputa de interesses de grupos, corporações e classes”. Na sua opinião, “ser moderno é servir aos interesses do público”. O novo, diz, está na educação de qualidade capaz de construir uma sociedade do conhecimento, da ciência, da tecnologia, da informação, da cultura. Obviamente que pregações com esse teor não possuem o dom de atrair a luz da mídia, muito menos a adesão dos mandatários, mas, sem dúvida, marcam a única direção possível, justamente aquela que, por uma maldição divina, por séculos insistimos em recusar.

 

A frase que foi pronunciada

“A diferença entre um estadista e um político comum é que o primeiro deixa seu país e o mundo muito melhores do que encontrou.”

Mário Vargas Llosa, escritor peruano

 

Do leitor

» As Quadras 108/308 Norte são as únicas fechadas, ou seja, em que a W-1 é interrompida pela existência de uma escola. Se, de um lado, é bom pela tranquilidade de não termos o fluxo de veículos grandes, proporcionando maior segurança às nossas crianças, o mesmo não ocorre em relação às motocicletas (leia-se os motoboys), pois, para evitarem a volta pelo Eixo-N ou pela W/3, o que fazem? Passam sobre as calçadas, grama e ciclovias, pelas laterais da escola, por trás dos prédios das quadras mencionadas ou entre os blocos dos comércios locais, infernizando, à noite principalmente, com mais intensidade nas sextas, sábados e domingos, o sossego dos moradores com o ronco barulhento das motos que, seguramente, ultrapassam os 80 decibéis legalmente estabelecidos. Opinião de José Airton de Brito.

 

Estudos

» Hoje termina a segunda chamada para os CILs. Os Centros Interescolares de Línguas são o que há de melhor na educação pública oferecida pelo governo. O projeto recicla alunos e professores da rede que têm a oportunidade de aprender novo idioma. Só há elogios para essa iniciativa.

 

Metrô

» Por falar em elogios, as estações de metrô continuam limpas e agradáveis. Pena que tenha pouca arte integrada.

 

Estranho

» O caso aconteceu no BRB. Ao depositar um maço de dinheiro recém-retirado de outro banco, com a cinta de papel descrevendo o valor, o cliente recebeu um aviso. Havia uma nota suspeita no conteúdo e por isso foi retirada do valor total do depósito. E ficou por isso mesmo.

 

História de Brasília

Lamentável foi a presença do Departamento Federal de Segurança Pública nesses acontecimentos. Uma nota inverídica, forjada sob o espírito do DIP, falava em princípio de incêndio logo debelado, quando toda a cidade viu o avião se queimar durante uma hora, até que nada mais restasse. (Publicada em 1º/10/1961)

Bancadas do atraso

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Para onde quer que se olhe, é possível divisar o avanço inevitável das tropas do atraso que, desde 1500, prosseguem no afã de desconstruir o Brasil. No comando dessa quinta coluna, cuja missão é manter o país na vanguarda do passado, estão as inúmeras bancadas políticas que vão proliferando dentro do próprio Congresso, ao sabor das ocasiões e das melhores ofertas do dia. Os nomes são sugestivos e fazem alusão clara a quem servem e o que pretendem. Bancada da Bala, Bancada da Bíblia, Bancada Evangélica, Bancada do Boi, Bancada Ruralista, Bancada do Agronegócio, Bancada da Mineração, Bancada Sindical, Bancada dos Movimentos Sociais e por aí vai.

Muito mais representativa do que os partidos políticos, a movimentação das bancadas obedece a ritual próprio e atende a interesses que, na maioria das vezes, dista milhas daquilo que sonha o cidadão comum. Na verdade, formam um congresso paralelo dentro do Poder Legislativo, agindo e se comportando segundo interesses que de democráticos pouco ou nada têm. Obviamente, a formação desses blocos é resultado direto das fontes de financiamento de campanha. Em outras palavras, de onde vem o dinheiro, vem a ideologia e a pregação. São, portanto, grupos de interesse, verdadeiros clubes fechados e, claro, só devem explicações àqueles que lhes franquearam o acesso ao poder.

Segundo o professor de ciência política da Universidade de Minas Gerais Dalson Britto, a opção é clara: “Entre escolher a fidelidade às diretrizes ideológicas do partido e a lealdade aos financiadores, os parlamentares escolhem a fonte de recursos. Afinal, campanhas eleitorais custam caro e têm que ser arcadas por aqueles que suportam esses custos”.

O resultado prático do trabalho desses grupos fechados pode ser visto e sentido por toda a população e, não raro, conflita com os interesses do eleitor. Um caso emblemático é com relação à bancada da mineração. Formada por parlamentares financiados por grandes mineradoras e com interesses específicos, ela vem se empenhando ferrenhamente na aprovação do Programa de Revitalização da Indústria Mineral, que atende aos interesses imediatos por lucros dessas empresas, muitas, como é o caso da BHP Billiton, com matrizes no exterior.

Problemas como os ocorridos em Mariana, em 2015, em Bento Rodrigues, onde morreram mais de 20 pessoas, não interessam. Da mesma forma, a Bancada Ruralista faz cara de paisagem para o que acontece no outrora rico e multiprodutivo estado de São Paulo. Invadida pela monocultura da cana-de-açúcar, a antiga terra da garoa vive hoje problema típico das regiões do interior do Nordeste, com rios secando, terras destruídas e reservatórios contaminados por agrotóxicos, resultante da loucura e da irracionalidade do programa do álcool. Outras propostas estapafúrdias estão prestes a passar: pagar o trabalhador rural com casa e comida, sem salário, ou permitir que estrangeiros comprem a extensão de terra que quiserem no Brasil.

 

A frase que não foi pronunciada

“Novas eleições se aproximam. Velhos eleitores aguardam os favores.”

Círculo vicioso eleitoral brasileiro

 

Release

» Em parceria com o Conselho Regional de Farmácia do DF, a UnB vai realizar processos seletivos para ingresso no programa de extensão Universidade do Envelhecer — UniSer. As inscrições começam em 7 de agosto. São 300 vagas para candidatos a partir dos 45 anos de idade. O curso ministrado será de educador político social em gerontologia, a ser realizado nas unidades da Candangolândia, Taguatinga e Estrutural. Mais informações no portal uniserunb.com.

 

Chamado

» ParkWay, Lago Norte e Lago Sul estão resolutos em lutar contra a liberação de comércio em área residencial. Qualquer estratégia que o GDF crie para convencer a população será veementemente rechaçada. O ideal seria o governo preservar as áreas públicas, nascentes, como defenderia Rodrigo Rollemberg se não fosse governador. O que vale mais para Brasília? O apoio dos moradores ao governo ou as promessas empresariais? Volte para Brasília, Rodrigo Rollemberg!

 

Muda já!

» Foi bonita a festa dos garis no ginásio de Sobradinho. O governador esteve presente. Festa é festa, realidade fica à parte. A coluna reforça a campanha de segurança no trânsito. Se é proibido o braço repousar na janela enquanto o carro estiver em movimento, por que até hoje é permitido que os garis andem pendurados com a respiração em cima do lixo?

 

Estranho

» Parece exploração pagar alto valor por uma viagem internacional e ainda ter que se preocupar em marcar assentos com novo dispêndio financeiro. Normal seria que a cobrança fosse feita no ato do pagamento.

 

Ensurdecedor

» Nosso leitor acrescenta na nota sobre os motoqueiros barulhentos que eles decidem remover o silenciador da moto ou substituí-lo por outro mais barulhento, operação que leva algumas horas, custa dinheiro e é ilegal de acordo com o Conama e o Código de Trânsito, que é lei, ignorada, mas é lei. A poluição sonora das motos é assunto de saúde pública e de polícia. Em cidades do interior, são o terror das noites. Traficantes se fazem anunciar com o barulho estralado de motos.

 

História de Brasília

Pela primeira vez, uma comissão de inquérito de uma empresa de aviação trabalhou no local do desastre cercada de jornalistas, esclarecendo a verdade sem subterfúgios, confiando na segurança do seu trabalho, na elite de sua organização. (Publicada em 3/10/1961)

Brasília já é anciã

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Com mais de meio século de inaugurada, pouquíssimo se comparada às grandes capitais do planeta, Brasília já apresenta sinais visíveis de envelhecimento e decadência precoces. O crescimento desordenado, a partir de meados dos anos 80, propiciado sobretudo por medidas como a emancipação política da capital, acelerou o processo de desurbanização.

A especulação imobiliária desenfreada e a transformação das terras públicas em moeda de troca política em pouco tempo ajudaram a descaracterizar a capital planejada, aproximando-a das demais cidades brasileiras no quesito favelização e caos urbano. A crise econômica, detonada pelos governos petistas no plano federal e local, fizeram o resto.

Hoje a escassez de recursos e o pouco interesse das autoridades só fazem aumentar e prolongar a deterioração da urbe, ameaçando o status de Patrimônio Cultural da Humanidade, reconhecido pela Unesco. O processo de conurbação, interligando as cidades do DF ao Plano Piloto, ocasionado pelo inchaço populacional sem controle e incentivado por falsas lideranças políticas, contribuiu para aumentar, ainda mais, as mazelas da capital, que hoje sofre com problemas típicos de cidades grandes e antigas, como congestionamentos de trânsito diários, superlotação de hospitais e escolas, além de problemas nas áreas de transporte, segurança e de abastecimento de água, de energia e de coleta adequada de lixo.

O resultado do declínio anunciado é que a capital planejada de todos os brasileiros é, hoje, uma cidade caminhando a passos largos para a decadência, sem ter conhecido o apogeu. O mais preocupante é constatar que os bilhões arrecadados anualmente da população, somados aos repasses da União, que totalizam aproximadamente R$ 30 bilhões, não são suficientes para recolocar a cidade nos trilhos da normalidade.

Para uma urbe que ainda é capaz de despertar a curiosidade do mundo pelo arrojo da arquitetura, Brasília fica a dever muito. Nossas ruas são mal-iluminadas, sujas, sem calçadas e sem segurança. Os turistas, quando anoitece, não se aventuram a sair dos hotéis. Nossa principal avenida (W3 Sul e Norte), cortando o Plano Piloto de ponta a ponta, é o retrato do abandono e da falência.

Os principais pontos culturais como o Teatro Nacional, Espaço Renato Russo, Museu de Arte de Brasília (MAB), Biblioteca Demonstrativa e outros se encontram abandonados e em forma de escombros. O mais triste é que esses problemas, que vão se avolumando aos poucos e ganhando proporções de uma catástrofe, foram previstos há muito tempo, aqui mesmo neste espaço, sem bola de cristal e sem exoterismos. Bastou observar o vaivém enlouquecido das saúvas locais, quando se anunciou que Brasília havia, finalmente, atingido a maioridade política. Não deu outra.

 

A frase que foi pronunciada

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos.”

Bertolt Brecht, dramaturgo alemão

 

Beleza

» Festa do Morango é sucesso em Brazlândia. Produtores rurais se reúnem para mostrar o melhor da produção. O pessoal do artesanato aparece também com todo tipo de criatividade em torno do morango. É uma festa bonita que vale para os moradores e para os turistas com ônibus fretados pelos hotéis do Plano Piloto. O evento completa 40 anos com participação das principais entidades representativas da cultura japonesa no Distrito Federal, a Associação Rural e Cultural Alexandre de Gusmão.

 

Mais uma

» Por falar em Japão candango, começa no primeiro fim de semana de agosto a Quermesse do Templo Budista. A festa mais concorrida e organizada da cidade. Atendimento rápido nas filas para a compra das fichas e entrega dos alimentos, além do atendimento atencioso.

 

Arrastão

» Passageiros de ônibus para algumas satélites passam por apuros principalmente à noite. Começaram a agir na capital os bandidos que assaltam ônibus. Com o motorista na mira de uma arma, os criminosos, geralmente menores de idade, entram nos coletivos e levam o que podem dos trabalhadores. Alguns ladrões de moto começam o serviço nas paradas. Não há como chamar a polícia. Depois do apuro, são poucos os que acreditam que um Boletim de Ocorrência vá resultar em alguma solução.

 

Mediador

» O apoio do PSDB a Temer tem provocado racha entre correntes do partido. Um grupo quer rompimento imediato, outro defende a permanência na base do governo. O senador cearense Tasso Jereissati, presidente interino da legenda, tem sido mediador dos diálogos. Ele tem defendido o “compromisso com o Brasil”.

 

Pouca verba

» Em Fortaleza, os músicos se reúnem durante o pôr do sol à beira-mar atraindo a população e turistas. O sucesso é tão grande que a Secretaria de Turismo de Fortaleza resolveu apoiar o projeto. O custo-benefício valeu.

 

Xadrez

» O jogo da política traz cenários inesperados. O PSDB ainda está com cada pé em um barco em relação ao apoio ao governo Temer. Quem está no centro do fogo cruzado é o senador Tasso Jereissati, tentando administrar a crise. A frase-chave que ora convence o político mais responsável é: “Nosso compromisso tem que ser com o país.”

 

História de Brasília

Outra posição simpática foi a da Varig, que defendeu o seu prestígio internacional com esclarecimentos cristalinos, fugindo ao rifão já batido de notas oficiais iniciando com o “lamentamos comunicar…” (Publicada em 1/10/1961)

TCU na UTI

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Uma coisa é certa: após a passagem da tormenta, provocada pelas revelações dos inúmeros casos de corrupção no seio do Estado, será necessário doravante refazer, por completo, o modelo de funcionamento da máquina pública, sobretudo no que diz respeito ao aperfeiçoamento das instituições, de modo a blindá-las do assédio de políticos inescrupulosos livrando, assim, o dinheiro dos pagadores de impostos da sanha criminosa das aves de rapina.

O que ficou mais do que provado com o desenrolar desses tristes episódios é que as instituições que compõem o Estado não possuem mecanismos suficientemente adequados nem para prever, nem tampouco para deter a dilapidação do patrimônio público. A prova é que, durante mais de uma década em que ocorreram os desvios de bilhões de reais dos cofres públicos, com malas recheadas de dinheiro voando de um lado para o outro, em nenhum momento os órgãos de fiscalização e controle detectaram a revoada incomum dos recursos.

Mesmo as instâncias que suspeitaram da movimentação bizarra de numerário pouco ou nada fizeram para deter a sangria. O pior é que alguns desses órgãos que tinham como missão zelar pelo dinheiro público não raro foram lançados também na fogueira comum em que ardiam os demais acusados de corrupção e outros crimes contra o país. Um caso especial, que chamou a atenção de todos, não só pela displicência e descaso com o bem público, como pelo fato de ter alguns de seus responsáveis aparecido nas listas da corrupção, é o do Tribunal de Contas da União (TCU).

Essa instituição, pelas importantes atribuições nesse quesito, jamais poderia ter fechado os olhos para a pilhagem que correu solta por anos. Não é por outra razão que volta a se ouvir agora, entre os especialistas e entre membros da própria Corte, a voz dos que pretendem uma reforma significativa e urgente na Instituição, principalmente quanto ao modelo de composição da corte.

Para Marcos Bemquerer, presidente da Associação Nacional dos Ministros e Conselheiros-Substitutos dos Tribunais de Contas (Audicon), “não há como falar em reforma do Tribunal de Contas sem falar em composição. Do contrário, seria só perfumaria. Esse é o ponto central”. Em sua avaliação, novo desenho no Tribunal traz uma proposta no sentido de aumento maior da participação técnica, havendo quem defenda que os nove ministros do TCU e os sete dos Tribunais de Contas sejam oriundos das áreas técnicas.

Alguns ministros entendem que a crise pode catalisar aprimoramentos há muito pensados e nunca postos em prática. Para Júlio Marcelo de Oliveira, procurador do Ministério Público de Contas e presidente da Associação Nacional do Ministério Público de Contas (Ampcon), é preciso urgentemente qualificar a composição dos Tribunais de Contas, tanto na formação técnica como na idoneidade moral e na reputação ilibada de seus membros. Trata-se, na opinião de muita gente, de missão quase impossível, já que muitos membros dessas Cortes são oriundos justamente do Poder Legislativo, em que mais de um terço dos componentes estão enrolados, até o pescoço, nos casos recentes de corrupção descobertos pelas investigações policiais.

Por essa lógica, reformar os Tribunais de Contas, que consomem dos contribuintes mais de R$ 10 bilhões por ano, só terá efetividade se antes for reformado também o Poder Legislativo. Como ensina o filósofo de Mondubim, não dá é para amarrar cachorro com linguiça esperando encontrá-la inteira.

 

A frase que foi pronunciada

“É claro que os brasileiros vão compreender o aumento de impostos. Desviam R$ 200 bilhões por ano praticando corrupção. Agora querem colocar a conta disso tudo no nosso bolso.”

Deltan Dallagnol, procurador que coordenada a força-tarefa da Lava-Jato em primeira instância, ironizando o presidente Temer, no Facebook.

 

Ceará

» Para o presidente do Tribunal de Contas dos Municípios, conselheiro Domingos Filho, a PEC que pretende extinguir o tribunal traz 4 pontos discutíveis sobre a constitucionalidade. A Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) e o TCM aguardam apenas a segunda votação no plenário para ingressar novamente no Supremo contra a medida. “Se na 1ª ação houve vício de formalidade, nessa houve ainda mais”, disse.

 

Zero

» De repente, um cabo de luz partiu no Hospital Santa Helena, onde havia pedestres e motoristas. Alguém ligou para a CEB, aguardou minutos pelas gravações disque isso e aquilo e depois a resposta foi a seguinte: Sem CEP e sem o número da inscrição, não é possível atender ao chamado.

 

Cara e ruim

» Apesar da seca, a água da Caesb distribuída no Condomínio Porto Seguro está cheia de barro.

 

Os Terríveis

» Houve um acidente na tesourinha que dá acesso ao Eixinho justamente no final da Asa Norte, onde os carros são desviados para o Eixão. Postado no local, um carro do Detran impedia os motoristas de seguir para o Eixão apesar de a área estar livre. Quando aparecem, não desburocratizam. Lia-se na atitude: Complicar é a nossa meta.

 

História de Brasília

Uma nota excelente de comportamento foi da Aeronáutica em todos os acontecimentos relacionados ao desastre do Caravelle. Ninguém deu entrevistas, mas as facilidades foram abertas aos jornalistas, que puderam, assim, em pouco tempo, dar a público tudo que se relacionou ao acidente. (Publicada em 1/10/1961)

A ponte dos privilegiados

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Caso a independência dos Poderes fosse, entre nós, uma realidade constitucional consumada e aceita, a sorte dos que se fiam no foro privilegiado há muito estaria condenada, sem choro, sem vela e sem traumas maiores. No Brasil, no entanto — onde a modalidade presidencialista de coalizão vem pervertendo a lógica do estado democrático de direito —, esse veredito pode ser alterado, dependendo apenas dos resultados das negociações que vêm sendo costuradas pessoalmente entre o chefe do Executivo e cada um dos políticos que compõe a bancada “argentarista” no atual Congresso.

A falta de sensibilidade para o momento de crise e para a situação de penúria a que a população foi empurrada não comove nenhum dos dois lados. O custo para livrar o pescoço áureo ainda não foi contabilizado, mas não é coisa pequena, ainda mais quando sacada daqueles que nada têm.

Jornais do mundo inteiro alertam para o fato de que a política de salvação — escancarando os cofres para barrar apenas a primeira de uma série de três denúncias que serão despachadas pela Procuradoria-Geral da República — acende o sinal vermelho na economia cambaleante. A elevação nos impostos que incidem sobre os combustíveis foi apenas o primeiro remendo feitos às pressas nas contas do governo, e suas consequências no processo de inflação ainda são uma incógnita.

De fato, a política da atualidade tem deixado de lado a função de governar. Os de foro privilegiado utilizam, sem remorsos, a máquina pública na busca da remissão dos pecados. Sabedores das agruras e da posição frágil em que se encontram, parlamentares, governo e empresários deitam e rolam com as facilidades oferecidas e avançam sobre as ofertas generosas.

O 5º artigo da Constituição da República é desconsiderado deliberadamente quando há o tratamento diferenciado para autoridades que cometem crime. Todos somos iguais perante a lei. Repousa no Senado o projeto que acaba com a prerrogativa do foro privilegiado, mas até agora não houve interesse em aprovação. Se o Congresso deixa de cumprir a obrigação, abre a guarda para o Supremo Tribunal Federal fazê-lo.

À luz do dia, emendas parlamentares e alívio de dívidas são negociados num grande saldão de inverno.

Perdulários de toda a ordem marcham para a capital em busca de negociações pra lá de vantajosas. O Refis, que arrecadaria para os cofres da União cerca de R$ 13 bilhões, poderá sofrer uma sangria de até R$ 12 bilhões. Para contrabalançar as contas no “Edifício Balança Mas Não Cai do Brasil”, o governo arrocha nos impostos diretos e no furado Programa de Demissão Voluntária, acenando com a dispensa de milhares de funcionários, iludindo a todos com as promessas de “cortar na carne”.

 

A frase que foi pronunciada

“Sou totalmente a favor do fim do foro privilegiado. É uma excrescência tipicamente brasileira. É uma racionalização da impunidade.”

Joaquim Barbosa

 

Tráfico de Pessoas

» Promovido pela Associação Brasileira de Estudos Populacionais, o Simpósio de Tráfico de Pessoas/DF — Lei de Tráfico e grupos vulneráveis teve como palestrante uma das maiores autoridades no assunto, o professor Hédel Torres. Além da teoria, grupos de trabalho delimitaram perfis mais vulneráveis a essa modalidade de crime e estruturaram os avanços legislativos sobre tema.

 

Contrapartida

» Justiça seja feita. No Hospital de Base, falta papel higiênico. No Hospital do Paranoá, os rolos acabavam tão rápido que agora o tubo é preso com cadeado.

 

Arte

» Festival de Esculturas Itinerantes começou no Museu Nacional da República. Artistas nacionais e estrangeiros mostram diferentes criações, organizadas pelo produtor de artes visuais carioca Paulo Branquinho. “A escultura é uma manifestação vista com olhos em segundo plano, dentro das artes. Então, é muito importante ter as esculturas expostas com esse festival. É admirável a coragem do Paulo Branquinho em ter essa iniciativa”, diz o nosso Sanagê.

 

Ano que vem

» Comerciantes garantem espaço para a próxima edição da Feira Rua 25 de março — Brasília 2018, que acontecerá entre 11 e 20 de maio, no Pavilhão de Exposição do Parque da cidade. Reúne expositores diversos para retratar cenograficamente um pedacinho de São Paulo, valorizando dois importantes símbolos comerciais paulistanos: a famosa Rua 25 de março e o tradicional Mercado municipal.

 

Interessante

» Julia Fank, fundadora da Escola de Escrita, faz a defesa das redes sociais quando o assunto é leitura. “Estamos lendo e escrevendo o tempo todo — e temos condições de nos manter bem informados e de ter contatos com textos bons mesmo no feed de notícias do Facebook”, diz. “A questão é que somos condicionados, a partir de algoritmos, a ler apenas aquilo que já lemos e consumir apenas aquilo que já consumimos culturalmente.”

Do escalpe dos servidores e da oneração no custo de vida da população, vai-se armando a “Ponte para o futuro” que permitirá a travessia de homens sós, abandonados pela população.

 

História de Brasília

A base dessas discussões políticas deve ser o bem-comum, e não o bem partidário, o bem pessoal. O povo já entende isto, e pode não aceitar decisões dessa maneira. (Publicada em 1º/10/1961)

Desenhando a própria forca

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Se for analisada de perto e pela lupa da razão, por certo que a crise cíclica que assola o país e particularmente os estados, tem, como alguns de seus componentes básicos e originários, a total falta de competência, preparo e disposição da maioria das autoridades responsáveis pela administração da máquina pública.

É certo que, ao se aliar a incompetência e o despreparo habituais de nossas lideranças políticas aos atributos nefastos da corrupção e da falta de ética — que rói por dentro os recursos que seriam destinados ao bem-estar — à seguridade e à segurança da sociedade, o que vemos e sentimos bem na nossa frente é um país mergulhado no mais absoluto caos.

Em outras palavras, o que temos no comando da administração pública de modo geral, com as exceções de praxe, são dirigentes subescolarizados. E o que é pior: coniventes com práticas desleais, para não dizer criminosas. A falta de preparo intelectual é, em nosso caso, substituída pela mais refinada esperteza, misturada com uma certa dose de malemolência, que faz da população presa fácil e dócil para a perpetuação dessas anomalias históricas.

De outra forma, como explicar que, sendo o quarto maior mercado de automóveis do mundo e o quinto produtor global desse bem econômico, ocupamos o primeiríssimo lugar do planeta no quesito preço alto dos carros? Como entender que, sendo o maior produtor mundial de proteína animal, com o maior rebanho bovino da Terra, os preços desse produto internamente são os mais altos e, portanto, mais inacessíveis à população?

Da mesma forma, como explicar que, sendo o Brasil um dos campeões globais na produção de grãos, persistimos com valores tão altos? Com 8,5 mil km de costa marinha, nosso peixe é o mais caro. O mesmo se repete com a extração e o refino do petróleo. No entanto, contamos com a gasolina e o diesel mais caros e de qualidades duvidosas do que países onde não se acha uma gota sequer de petróleo.

Uma das explicações que melhor nos aproxima da verdade dos fatos é que prosseguimos com uma das maiores e mais vorazes máquinas públicas do planeta. Operada e habitada por uma elite, na sua maior parte formada por pessoas oriundas de nossas escolas deficientes que insistem em manter o comportamento duvidoso e oscilante de seus ancestrais. E que, obviamente, só estão onde estão porque anseiam ser iguais aos seus antepassados, dentro da perspectiva de que “quem sai aos seus não degenera.”

É por motivos prosaicos como esses que chegamos ao ridículo de assistirmos impassíveis à publicação agora de um edital público oferecendo prêmios às melhores ideias para a geração de receitas extra-tributárias para o Governo do Distrito Federal, organizada pela Escola de Governo (EGOV). É o mesmo que sugerir aos enforcados que projetem um modelo inovador de força ou de guilhotina.

 

A frase que foi pronunciada

“O principal ‘veneno’ da educação dos filhos é a culpa. Culpa de trabalhar fora, quando pensa que devia estar com os filhos. Culpa de estar com os filhos, quando acha que devia estar trabalhando.”

Içami Tiba

 

Saúde

» Hospital Sirio-Libanês, unidade de Brasília, inicia uma campanha com a intenção de chamar a atenção da população da cidade para o câncer de cabeça e pescoço. Esse é o quinto tumor mais comum do mundo. Hoje é o Dia Mundial de combate às duas doenças. Sintomas como nódulos ou caroços no pescoço, feridas na boca que não cicatrizam, dificuldade para engolir ou respirar, e alterações persistentes na voz devem ser observados com atenção. Segundo o oncologista Igor Morbeck, é importante consultar-se regularmente com um dentista. “Geralmente, o dentista é o profissional habilitado para o diagnóstico precoce”, destaca.

 

Memória

» É sempre prazeroso encontrar alguém para rememorar Brasília nos primeiros tempos. De repente, atendo a ligação da dona do Mundo da Criança, única loja de brinquedos da cidade nos anos 1960. Dona Eunice Beze. Com uma memória prodigiosa, ela resolveu, para o bem da história da cidade, escrever um livro sobre tudo o que foi, segundo ela, visto, lido, ouvido e vivido na época. Aguardamos ansiosos pelo resultado.

 

Show

» Agnaldo Timóteo vem a Brasília em 25 de agosto. O nome do show é: “Obrigado, Cauby”. Os ingressso já estão à venda no Teatro dos Bancários ou nas lojas bilheteriadigital.com.

 

Decibéis

» Todas as lanchonetes, pizzarias e restaurantes que entregam em domicílio têm uma fila de motoqueiros aguardando a vez para trabalhar. Ao receber a encomenda, aceleram as motos, muitas com o escapamento furado, o que aumenta o barulho. O resultado disso são moradores com os nervos à flor da pele, não conseguindo dormir até que o comércio feche as portas. Fica a dica para o Ibram, Detran e quem mais de direito.

 

História de Brasília

Há uma revolta popular, de norte a sul, contra as barganhas eleitorais, ou em troca de “apoios”. A insistência do PSP em receber melhor parte do bolo para dar apoio ao primeiro-ministro, a barganha em torno da Prefeitura de Brasília, o escândalo em torno de eleição de atuais governadores por estados diferentes, tudo isso está irritando terrivelmente o povo, e seus líderes precisam tomar conhecimento disso. (Publicada em 01/10/1961)

Por Brasília

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Infelizmente, as heranças pesadas deixadas para Rollemberg por administrações passadas, quando os cofres públicos foram esvaziados pela incúria e pela corrupção, tiveram o efeito prolongado de contaminar seu mandato, provocando estragos e desconfianças no seio da população que ainda não foram totalmente sanados.

A sociedade brasiliense reclama, nestes tempos de tristes revelações feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, que, a partir de 2018, sejam adotadas novas fórmulas e novos métodos de governo, com o enxugamento radical da inchada máquina pública, com total transparência e eficiência. Obviamente, novo modelo de administração vai requerer, também, não apenas novos nomes, mas a indicação de pessoas totalmente ilibadas, sem máculas na Justiça e com notória experiência técnica e política.

Velhos conchavos e velhos arranjos, feitos apenas para turbinar chapas de ocasião, com currais eleitorais e interesseiros, representam, além de retrocesso a um tempo em que o governo era montado e organizado apenas para atender a gula desmedida dos dirigentes e seu grupo, uma aposta errada e arriscada.

A capital do país merece e reclama uma administração com nomes e modelos totalmente opostos a todos esses que até agora têm se insinuado e se apresentado como candidatos. Uma simples visita aos sites dos tribunais demonstra que a maioria dos nomes que aparecem à baila para disputar as próximas eleições no DF, em todos os cargos disponíveis, tem velhos rostos, com velhas propostas, e que, por várias vezes, demonstraram, na prática, os viciados e velhacos modelos de fazer política.

A insistência na escolha do que já foi testado e reprovado N vezes, por seus efeitos deletérios e pelos prejuízos que ainda provocam para a cidade, merece muito mais do que uma simples análise política, uma análise psicológica que explique certas tendências mórbidas por parte dos eleitores em repetir experiências mal-sucedidas.

 

A frase que foi pronunciada

“Deixemos entregues ao esquecimento e ao juízo da história os que não compreenderam e não amaram esta obra.”

Juscelino Kubitschek

 

Impunidade

» O foro privilegiado é fermento e instrumento da impunidade que nós temos hoje neste país. Há países, como Estados Unidos e França, que têm foro privilegiado para presidente e ministros, mas não têm para presidente do parlamento, para parlamentares, para governadores, para prefeitos; países como Alemanha e Itália, apenas para o presidente; a Inglaterra, a Argentina e o Chile não têm para ninguém. Parte do discurso de Reguffe pela aprovação do fim do foro privilegiado.

 

Ideia

» Divulgado pelo e-saude do Ministério da Saúde, um aplicativo em que os pacientes podem obter a informação do posto de saúde ou hospital mais próximo à residência. Melhor seria se a lista trouxesse os médicos de plantão, assim a população teria ferramentas para cobrar pelo atendimento.

 

Incoerência

» Enquanto a Agefis acaba com as pensões na W3 Sul com o argumento de que se trata de área residencial, o plano do GDF é liberar comércio nas residências do Lago Norte.

 

Resposta

» Anualmente, o Sebrae atende a pelo menos 2,5 milhões de pessoas, entre empresários e potenciais empreendedores. O Sebrae, portanto, considera um equívoco interpretar o registro de irrisórias 70 manifestações em um dos canais como sinal de declínio do atendimento da entidade.

 

Dados

» Ocorre que, depois de uma operação investigativa, o grupo Cascol sofreu intervenção do Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Houve o compromisso de que um quarto dos postos da cidade não participariam mais de cartel. Sobre o novo preço estipulado de surpresa, não foi obedecida a anterioridade nonagesimal.

 

Senado

» Senado anuncia para o fim do recesso quatro comissões de inquérito: duas sobre investigações do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social e empresas do grupo JBS. A CPI dos Maus-Tratos às Crianças, criada em abril, e a CPI da Previdência.

 

Infância

» Acontece nesta semana em São Luís, no Maranhão, o Encontro pela Infância do Estado. Secretários estaduais, prefeitos e Unicef, representado por Anyoli Sanabria López, chefe na Amazônia, discutindo estratégias

sobre como melhorar a vida das crianças maranhenses por meio da realização do Selo Unicef. As informações são de Ida Pietricovsky de Oliveira.

 

História de Brasília

Já que o assunto é Nordeste, o governo precisa ver que de lá surgirá o grande movimento de renovação social e precisa se enquadrar logo nesse movimento, respeitando-lhe as bases e podando as arestas dos arrivistas que surgirão fatalmente. (Publicada em 1/10/1961)

Personagens menores da República

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Num autêntico Estado Democrático de Direito, as instituições republicanas exercem papel fundamental e devem responder no âmbito de suas responsabilidades. Para tanto, esses organismos devem fazer por merecer a mais irrestrita e ampla confiança, de modo que os cidadãos percebam que, no comando do país, nos mais altos escalões da máquina pública, tomam assento os melhores nomes da nação. Ocupam altos cargos homens e mulheres, bem preparados tecnicamente e de comportamento ético irrepreensível. Obviamente, para atingir esse Olimpo, esses indivíduos especiais foram submetidos às mais duras provas, sendo selecionados entre o que o país tem de melhor em material humano. Quando alguns desses requisitos deixam de ser atendidos, o Estado começa a derivar para o caminho das incertezas, da falta de confiança e de apoio da população. A força dos que estão assentados em posição de mando e controle é, ao mesmo tempo, a sua maior fragilidade.

Expostos à vigilância diuturna da sociedade, num tempo de amplas comunicações, qualquer vacilo põe por terra reputações e currículo num piscar de olhos. Dessa forma, não se podem simplesmente deixar de lado, varrendo para baixo do tapete, as diversas revelações que vão vindo à tona com as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal acerca dos megaescândalos descobertos até o presente, principalmente no que diz respeito à extensa lista de nomes que aparecem nesses episódios.

Muito se tem falado sobre o envolvimento de políticos e personalidades famosas nos atos  sombrios. Os muitos inquéritos abertos e algumas poucas condenações havidas não tiveram ainda o condão de fazer com que os citados nesses casos rumorosos tenham tomado a iniciativa pessoal de se afastarem dos altos cargos que ocupam até a conclusão final da Justiça. Motiva alguns desses personagens a permanecerem no exercício das nobres funções a certeza da impunidade, a blindagem do foro de prerrogativa, a morosidade da Justiça e a pouca memória dos cidadãos.

Em todo caso, fica a certeza de que muitos desses personagens estão a léguas de distância de merecerem de fato a posição que ocupam. Falta, à maioria de nossas lideranças nesta República tão enxovalhada, o real sentido de nobreza e de desprendimento do cargo ou função e, quando pairam dúvidas sobre as condutas morais, escondem a cabeça num buraco, feito avestruzes assustados, ou se fingem de mortos, como se já não estivessem de fato aos olhos da nação.

 

A frase que foi pronunciada

“Vamos testando a paciência, primeiro aumentando o preço do combustível, que certamente cairá como o efeito dominó nos preços dos supermercados. Se der tudo certo, a população só bater panelas, votaremos o novo Código Penal à nossa moda.”

Diálogo imaginário da ópera de Jorge Antunes

Um governo para nenhum povo.

 

Piratas do Norte

» Mascarados no meio da noite invadem barcos no Rio Amazonas, atacam passageiros e roubam cargas. Quanto mais a população da Amazônia cresce, mais drogas e gangues vão loteando a região. Por enquanto, não há capacidade estrutural do governo de manter a segurança em barcos. Que funcione de dica proativa do policiamento lacustre em Brasília.

 

Administração

» Como é o caso do governador Rollemberg, quem vem depois da bandalheira tem o dobro de esforço para se equilibrar. Pedro Taques, que no Senado foi brilhante, pena como governador de Mato Grosso. Precisa retomar um projeto fraudulento pagando o dobro para salvar uma linha de BRT (com ônibus) no lugar do plano inicial com vagões de trem, que já foram adquiridos e estão parados.

 

Na final

» Levantamento do Congresso em Foco atesta que seis em cada 10 senadores são alvo de inquéritos. Por enquanto, isso quer dizer muito pouco. Depois da sentença é que se conhece a verdade.

 

Na gaveta

» O então deputado federal Expedito Neto estava de olho para autorizar o uso do bitcoin já cobrando taxas e impostos. A inteligência dessa moeda virtual está justamente na descentralização. Talvez taxassem o criador da internet, algum site ou, quem sabe, um algoritmo. A notícia foi publicada pela Agência Câmara.

 

Lá e cá

» Vou conversar com Claudia Lyra para saber sobre a viabilidade de adotar em Brasília a ideia da equipe do governador João Doria. Ele pensa em atrair as seguradoras de veículos para premiar motoristas que conseguirem um ano sem multas.

 

Proteste

» Com o aumento súbito dos combustíveis, a única forma de protestar é exigir a nota fiscal. Mas, para isso, precisaria haver a obrigação dos postos de entregar a nota em menos de dois minutos.

 

Quem?

» Por falarem em protesto, a iniciativa da Caesb de colocar hidrômetros individuais em salas comerciais foi inteligente e prejudicial. Contra a regra do Estatuto do Consumidor, mesmo que a quantidade de água do consumo mínimo não seja entregue, é devidamente paga. Algum deputado distrital tem coragem de apresentar projeto de lei a favor do consumidor?

 

História de Brasília

» Esta a razão pela qual os alojamentos ainda não foram inaugurados, já que são destinados a abrigar os funcionários da Novacap. (Publicada em 1/10/1961)

Problema de saúde pública

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2Depois de inúmeras tentativas para solucionar os problemas decorrentes da perigosa proximidade do canil do Centro de Zoonoses do DF/Dival do Hospital da Criança, a presidente da Confederação Brasileira de Defesa Animal, Confaos — Brasil, Carolina Mourão Albuquerque, protocolou representação judicial no GDF, para que a Secretaria de Saúde do Distrito Federal e os próprios responsáveis pelo canil adotem providências urgentes para a desativação total dessa unidade de descarte de animais.

A proximidade de 150 metros que separam o canil do hospital por si só já seria motivo mais do que suficiente para se constatarem perigos potenciais de contaminação por doenças infectocontagiosas, transmitidas dos animais para as crianças submetidas a delicados e complexos tratamentos oncológicos que, todos sabem, provocam baixas acentuadas no sistema imunológico dos pacientes.

O próprio relatório elaborado pela Polícia Ambiental do DF concluiu que os dejetos infectantes dos animais, sem controle, oferecem alto risco aos que estão, nas proximidades, em tratamento contra o câncer, especialmente os menores carentes. A destacar o elevado risco de contaminação a que as crianças estão expostas, com risco real de perda fatal a qualquer momento.

Há um perigo que pode passar sem que seja percebido. Trata-se do desnível do terreno do canil, construído de forma que favorece, no período de chuva, que o material infectante escorra para a área do hospital — fato que já pode ser um alerta em alto grau para a infecção das crianças. Os pais sabem da situação, mas nenhum quer tratar do assunto por causas óbvias de vulnerabilidade.

O que mais assusta quem deseja se aprofundar nesse assunto é que o canil acredita que a responsabilidade de recolher os animais mortos é da empresa que coleta lixo no DF, o que causa espanto, porque esse material infectante precisaria de incinerador apropriado. Também a Resolução nº 358, elaborada pelo pessoal do Conama, alerta: “Grande ameaça para o ser humano e para os animais, representando grande risco a quem manipula e tendo grande poder de transmissibilidade de um indivíduo para o outro, não existindo medidas preventivas e de tratamento para esses agentes”.

A demanda não é de agora. Há anos o descaso vem chamando a atenção da imprensa. Ratos no local, lixo infectado cheio d’água, galões com material biológico expostos são marcas da falta de interesse, da negligência, imprudência e imperícia para lidar com animais.

O Parque do Cortado, em Taguatinga, recebeu R$ 2 milhões para a reforma de um galpão que até hoje não foi entregue, enquanto, em Mogi das Cruzes, um complexo de tratamento animal foi erguido com R$ 600 mil. Certo é que, se o caso não for resolvido, a solução será arbítrio da Corte Internacional. Onde está a proteção dos direitos humanos quando uma criança vai dormir dizendo ao ouvir os uivos desesperados dos animais: “A gente morre aqui e os cachorrinhos ali”.

 

» A frase que foi pronunciada:

“Quanto melhor conheço os homens, mais amo os cães.”

Charles de Gaulle (ex-presidente da República Francesa)

 

Troféu CLDF

São R$ 240 mil disponíveis na Câmara Legislativa do DF para a escolha dos filmes brasilienses que vão concorrer no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A comissão julgadora fará o anúncio dos vencedores até o dia 9 de agosto.

 

Educação

RSS é um boletim atualizado constantemente para os leitores que gostam de acompanhar um assunto específico. Atenção, professor Júlio Gregório. O RSS da Secretaria de Educação está desativado por questão de segurança. Pelo menos é o que diz a página.

 

Fazer

Um grupo da Biblioteca do Senado visitou a Casa do Caminho, em Brazlândia. Pizza e refrigerante fizeram a festa da criançada. Além de momentos para contar histórias, o ponto alto foi a presença do Homem Aranha e da princesa Anna de Arendelle. As crianças foram ao delírio. Tão simples, tão fácil e necessária é essa participação social. Estiveram presentes no evento: Ciro Nunes, Giani Serwy, Pedro Américo, Sandra Claudia, Neide Saraiva, Pedro Mascarenhas (do Prodasen) e a diretora da Biblioteca, Dinamar Cristina.

 

Passado

Do próprio Noticiário da Rádio Vaticano vem a notícia de que, no Coral de Regensburg, 550 crianças foram abusadas e maltratadas entre 1945 e os anos 90. Foram 49 responsáveis pelos abusos devidamente registrados graças às denúncias das vítimas. Nunca se deve negligenciar a fala de uma criança.

 

Release

As autuações da Receita Federal na Lava-Jato já totalizam R$ 11,47 bilhões. Desse total, R$ 6,75 bilhões em créditos tributários, principal, multa e juros, foram constituídos após a deflagração da fase ostensiva das investigações. Mas, antes mesmo disso, a fiscalização já atuava nos casos que causaram prejuízo à Petrobrás, ao realizar autuação de R$ 4,72 bilhões no caso Schain, relativo à produção de plataformas.

 

Gratidão

Nossos agradecimentos pelas manifestações de carinho nas comemorações dos 90 anos deste colunista.

 

» História de Brasília

Nos dias da crise política, a Aeronáutica requisitou todos os colchões dos alojamentos da W4, pertencentes à Novacap. Já passou a crise e até agora nenhum colchão foi devolvido. (Publicada em 1/10/1961)

 

Instituto Hospital de Base tem futuro incerto

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Uma coisa é certa: a permanência do Hospital de Base sob novo formato de Instituto, conforme decisão do GDF que contou com a aprovação da Câmara Legislativa, dependerá muito de eventual reeleição do governador, Rodrigo Rollemberg, seu principal incentivador. Caso o Palácio do Buriti venha a ser ocupado por outro mandatário, principalmente de oposição, o futuro do IHB é incerto, podendo, até, ter os estatutos revistos ou simplesmente anulados.

Trata-se de uma incerteza que põe em risco qualquer ação mais precipitada no sentido de implantar um modelo a toque de caixa antes que as urnas de 2018 sejam abertas. A descontinuidade de projetos de governo é realidade na administração pública brasileira desde sempre. Sobretudo se os projetos e programas tiverem sido implementados por governos considerados de oposição. Quando a coordenação administrativa atravessa o interesse da comunidade, rejeita o esforço dos contribuintes e usa a instituição para fins políticos e não para os fins originários, constrói mais uma máquina de corrupção.

Obviamente quem perde com essas posições melindrosas são os cidadãos que bancaram os programas e correm o risco de ficar sem uma coisa nem outra. Um exemplo típico dessa descontinuidade de projetos e de ações que geram perdas e incertezas pode ser a construção, a custo bilionário, do novíssimo e inoperante Centro Administrativo do GDF, conhecido por Buritinga.

Erguido de forma voluntariosa por governos passados, esse complexo de prédios situados a uns 20 quilômetros do centro da cidade permanece desocupado e, o que é pior, gerando prejuízos seguidos. O mesmo risco corre o IHBDF, caso sua atual estrutura administrativa seja alterada de forma brusca, sem que outro modelo venha não só a ser implantado corretamente, mas apresente resultados no mínimo satisfatórios antes de 2018.

A instabilidade política, com partidos e candidatos sem programas e sem compromissos sérios, coloca em risco os investimentos recolhidos compulsoriamente da população. Agora mesmo, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e o Ministério Público de Contas do DF entraram com pedido de esclarecimentos, na Secretaria de Saúde, sobre o IHBDF, solicitando que o secretário de Saúde, Humberto Fonseca, anule a Portaria 345/2017, na qual é fixado que os servidores manifestem, num prazo de 45 dias, interesse ou não em migrar para o novo modelo hospitalar. Entendem os MPs que ainda não há estudos suficientes e planejamento claro para a criação do Instituto.

“Não há elementos mínimos de certeza que possam tornar viável a opção. Além disso, sem um estatuto, que marca a constituição legal do Instituto, os servidores não podem validamente manifestar suas opiniões”, diz a Notificação Recomendatória dos MPs. Nas avaliações dos MPs, os servidores não conhecem ainda os estatutos da nova entidade bem como sua futura forma de funcionamento e de financiamento, nem, ao menos, qual é a fonte de recursos que lhe tornará possível a existência e a manutenção.

Não restam dúvidas de que a criação do IHBDF é, na avaliação de muitos entendidos, uma excelente iniciativa. Mas, dadas as incertezas políticas que atravessamos e a exiguidade de tempo até as novas eleições, o que era uma boa ideia pode ficar apenas nas boas intenções e no papel.

 

A frase que não foi pronunciada

“De boas intenções as urnas eleitorais estão cheias.”

Eleitor arrependido

 

Pedestres

» Um urbanista passeando pela cidade pode ficar pasmo com a falta de qualidade das calçadas da capital. Desníveis constantes, buracos, postes no meio, sem rampas de acesso, ocupadas por automóveis. Por seu lado, o estacionamento coberto do Conjunto Nacional é um destaque. Apesar de ser voltado apenas para os carros, os pedestres têm um espaço próprio e seguro para circular.

 

705 Norte

» Prestação de serviços no comércio e atendimento são sofríveis em Brasília. Principalmente em tempos de crise. O consumidor é enganado quando abastece o carro, quando compra pela internet ou mesmo quando tem o cartão de crédito clonado. Conformado, anda a passos curtos em direção aos seus direitos. Por isso a coluna faz hoje um elogio merecido a uma loja honesta na cobrança do preço e competente na execução dos serviços. Stofcar, uma capotaria de primeira linha.

 

Incoerência

» Mudança drástica na linha de notícias radiofônicas. Nas primeiras horas da manhã, quem liga o rádio inicia o dia com matérias sobre morte, atropelamentos, acidentes de carro, assassinatos, estupros, assaltos, roubos e daí para pior. E depois desejam um bom-dia.

 

Queda

» No portal Reclame Aqui, o Sebrae recebeu 70 reclamações nos últimos 12 meses. A maioria por mau atendimento ou baixa qualidade dos serviços prestados. A instituição decaiu.

 

Sem médicos

» Nenhuma entrada no Hospital do Paranoá para atendimento normal. Não há médicos. A região que deveria ser atendida é extensa, mas os pacientes são forçados a se deslocar para a Asa Norte. Interessante é que faltam médicos, mas a folha de pagamento é honrada. É preciso administrar essa falha com competência.

 

História de Brasília

Esta nota vem a propósito de declarações do sr. Alencar Araripe, presidente do Banco do Nordeste, segundo o qual o Banco está “para fechar suas portas” e faz uma alegação que não chega a ser infantil, mas quase o é, para justificar suas palavras. (Publicada em 1/10/1961)