A independência de Galípolo

Publicado em ÍNTEGRA

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Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (iStock)

 

Analistas do cenário econômico, das mais diversas tendências políticas, concordam que, em 2027, o Brasil poderá reviver uma crise financeira e fiscal sem precedentes, por causa do desequilíbrio nas contas do governo. Num cenário dessa magnitude, a posição do presidente do Banco Central, Galípolo, passa a ser o alvo da atenção geral. Nesse ponto, ele pode oscilar entre o que quer um governo, às vésperas das eleições de 2026, o que deseja o mercado e o que anseia a sociedade. Caso abandone a realidade em benefício da ficção, o estrago pode ser ainda maior.

Galípolo sabe disso. O nome dele está no jogo, é bom lembrar. Talvez, nada disso o abale e tire o seu sono. Galípolo, por inércia política, é a figura do xeque-mate de uma crise já precificada. É também um profissional que, com afinco, conhece a matemática financeira, uma ciência exata, onde os desaforos aos números não são permitidos. Na posição de presidente do BC, Galípolo sabe que escalou o topo da carreira nessa área. E como tal é o comandante em chefe dessa nau Brasil desgovernada. Temos assim o script completo de um país à deriva em sua governança econômica, mas que, no leme, está agora o presidente do Banco Central.

Muitos o veem como uma figura-chave diante dos riscos de um colapso fiscal e financeiro de grande monta. Oscilar entre o que deseja o governo, o que exige o mercado e o que espera a sociedade, não é novidade, mas adquire uma dimensão crítica em períodos de instabilidade. Nessa encruzilhada, torna-se ainda mais evidente a necessidade de um Banco Central plenamente independente, blindado contra pressões políticas de curto prazo, especialmente em anos eleitorais como o de 2026.

A Lei Complementar nº 179, de 2021, que conferiu, ao Banco Central do Brasil, autonomia formal, foi um passo importante na institucionalização dessa independência. Porém, como indica o texto, na prática, essa autonomia é sempre desafiada quando o presidente da instituição se vê entre as engrenagens de interesses contraditórios. Galípolo, com formação sólida em economia e perfil técnico, representa a racionalidade diante da política fiscal, muitas vezes guiada por conveniências eleitorais. O risco de “abandonar a realidade em benefício da ficção” é um aviso contundente: o populismo econômico, disfarçado de programa político, tende a produzir distorções que não resistem à matemática dos juros, da dívida e do déficit. E aqui reside o valor estratégico da independência do BC: proteger a política monetária de aventuras irresponsáveis, sustentando credibilidade, combatendo a inflação e defendendo o real.

Quando se diz que Galípolo “é o xeque-mate de uma crise já precificada”, é possível entender também que, diante da iminência de desequilíbrios fiscais, a autoridade monetária é o último bastião da confiança. Se essa barreira for rompida por interferências políticas, os danos não serão apenas econômicos, mas institucionais. O país voltaria a um ciclo vicioso de descrença, fuga de capitais e deterioração macroeconômica. Por isso torna-se crucial reafirmar e preservar a independência do Banco Central.

Num Brasil onde os ciclos políticos são voláteis e a tentação de manipular variáveis econômicas para fins eleitorais é permanente, manter essa instituição técnica blindada é uma salvaguarda da própria democracia e da estabilidade econômica futura. No Brasil, entre os anos 80 e início dos 90, a coisa era mais preocupante. Antes da autonomia formal do Banco Central, o Brasil enfrentava hiperinflação, com picos como 84% ao mês em 1990. Governos usavam emissão de moeda e manipulação de juros para cobrir déficits públicos, uma prática desastrosa que corroía os salários e a confiança institucional. A estabilização só começou com o Plano Real (1994), quando o Banco Central passou a adotar uma postura mais técnica e coordenada com metas de inflação.

Aprovada em fevereiro de 2021, a Lei Complementar nº 179 conferiu ao Banco Central do Brasil autonomia formal, com os seguintes pilares de mandato fixo e não coincidente com o presidente da República (4 anos, renovável uma vez). Blindagem contra demissão sem justa causa; estabelecimento legal de metas de inflação como principal objetivo da política monetária e autonomia operacional para tomar decisões sobre taxa de juros (Selic), controle de liquidez e supervisão do sistema financeiro. Desde a autonomia, o Brasil tem conseguido manter a inflação dentro da meta em 2023-2024 (mesmo com pressões externas), e a política monetária tem sido mais previsível aos olhos dos investidores.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A economia de mercado é mais eficiente na seleção natural dos indivíduos do que a política ou a natureza.”

Ludwig Von Mises

Ludwig Von Mises. Foto: Divulgação

 

História de Brasília

O belo trabalho do sr. Geraldo Carneiro: o Banco do Brasil autorizou a instalação de uma agência em Taguatinga. (Publicada em 05.05.1962)

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