Por sobrevivência, governo vai acelerar novas medidas econômicas

Publicado em Economia

A forte reação positiva em relação à liberação dos saques de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) reforçou a convicção dentro do Palácio do Planalto de que a sobrevivência do governo está na economia. Não por acaso, o presidente Michel Temer pediu aos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, que acelerem a preparação de medidas para reforçar a retomada do crescimento, que começa a se desenhar no horizonte. A meta é, sobretudo, permitir que, até o fim do ano, dois nós sejam desatados: o do desemprego e o do endividamento. “São problemas que levam mais tempo para serem superados”, diz um ministro com trânsito livre no Planalto.

 

A equipe econômica tem monitorado diariamente os indicadores econômicos e boa parte deles, ainda que timidamente, vêm apontando para o fim da recessão. A mesma percepção é colhida em conversas de técnicos e do próprio Meirelles com agentes de mercado. Ninguém espera um sinal forte de recuperação da atividade neste primeiro semestre, até porque o desemprego ainda vai piorar um pouco mais e o excesso de dívidas das famílias segurará o consumo. A boa notícia é que, com a inflação e os juros em queda, os consumidores estão levando um pouco mais de produtos para casa.

 

A convicção dentro do governo é de que a melhora da economia é irreversível. O Planalto crê que os sinais mais frequentes de que o país está saindo do fundo do poço vão compensar as possíveis turbulências no campo da política. Por isso, daqui por diante, a equipe econômica usará o mantra de que 2017 será o ano da recuperação, com chance de reversão no desemprego e de melhora da renda. “O negócio está indo tão bem na economia que até o dólar, que todos acreditavam que explodiria com o (Donald) Trump (presidente dos Estados Unidos), está em queda”, reforça o mesmo ministro.

 

Trem nos trilhos

 

Os bons ventos que têm soprado na economia ajudarão, inclusive, o governo a aprovar as reformas trabalhista e da Previdência no Congresso dentro do prazo previsto — até junho próximo —, avalia o Planalto. “O presidente Temer está numa situação muito confortável para levar as reformas adiante. Tem maioria na Câmara e no Senado e uma situação econômica que está muito longe da observada durante o governo de Dilma Rousseff”, afirma um assessor presidencial. “O trem, agora, está embicando para cima, na direção correta, e não para o precipício. Deputados e senadores querem manter esse trem no trilho.”

 

O governo sabe, contudo, que está longe de levantar o troféu. “As incertezas são muitas. A batalha fiscal ainda está longe do fim. Os estados, em grande maioria, estão quebrados, e isso bate forte na União. Há uma crise pesadíssima na segurança pública e, claro, tem as delações do fim do mundo da Odebrecht”, ressalta o assessor. “Isso só aumenta a urgência de a economia dar certo”, emenda. “O presidente está totalmente fechado com Meirelles e Dyogo. Não há possibilidade de crise nessa seara. Não há fio desencapado na relação desses três”, garante.

 

Espírito animal

 

O governo acredita que a agenda positiva da economia será endossada por empresários e investidores. Por uma razão simples: eles precisam que a administração Temer dê certo. A perspectiva é de que projetos de expansão de negócios comecem a sair das gavetas, fazendo movimentar a máquina das contratações. Os empresários dizem estar dispostos a cooperar. Mas, antes de ampliar as fábricas, será preciso reduzir a capacidade ociosa. Em média, 30% dos parques produtivos estão parados. É muito. Fica difícil, então, esperar por anúncios de investimentos por agora.

 

Um cacique da indústria diz que o espírito animal dos empresários está começando a abrir os olhos depois de anos adormecido. “Esse espírito ainda precisa se espreguiçar, esticar os músculos, olhar para os lados, mapear o horizonte. Mas nada disso ocorre da noite para o dia. Faz parte do jogo o governo esperar uma ação do empresariado. Tem que entender, no entanto, que muita gente está machucada”, diz. Para o industrial, assim como as famílias, o setor produtivo está endividadíssimo. Há empresas que nem sequer conseguem gerar caixa para pagar salários e impostos.

 

“É fato que o governo está se esforçando para reconstruir as bases do crescimento. Mesmo com a política dando péssimas notícias, na economia, as coisas estão começando a andar. É um bom sinal”, complementa o industrial. Ele acredita que, se não houver nenhum terremoto em Brasília nos próximos meses, será possível o Produto Interno Bruto (PIB) crescer até 1% neste ano. “E o dinheiro liberado do FGTS terá papel importante nisso. Permitirá que muitos trabalhadores reduzam ou mesmo zerem dívidas, abram espaço para o consumo, o que, por tabela, favorecerá o comércio, que poderá desovar os estoques e reforçar as encomendas à indústria”, conclui.