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OIT: Recuperação do mercado de trabalho na América Latina é insuficiente e desigual

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

A crise provocada pela pandemia da covid-19 afetou o mercado de trabalho latino-americano de forma mais acentuada do que no resto do mundo e a recuperação ainda é “insuficiente”, de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).

 

Conforme os dados da nota técnica da OIT “Emprego e informalidade na América Latina e no Caribe: uma recuperação insuficiente e desigual ”, divulgada nesta quarta-feira (8/9), o tombo de 7% no Produto Interno Bruto (PIB), em 2020, provocou uma queda “sem precedentes” na história regional, reduzindo em 10% a taxa de ocupação e eliminando 26 milhões de empregos no ano passado. Contudo, as vagas que estão sendo criadas atualmente, de acordo com o estudo, são, em grande maioria, de má qualidade e informais. 

 

“Tivemos um custo de 43 milhões de empregos destruídos no pior momento da pandemia. Agora, a recuperação do mercado de trabalho desde a segunda metade de 2020 e o primeiro trimestre de 2021 é insipiente. A qualidade do emprego piorou na região, porque 70% das vagas geradas nesse processo são são informais e de baixa remuneração”, destacou o diretor da OIT para a América Latina e Caribe, Vinícius Pinheiro, durante apresentação a jornalistas por videoconferência. Conforme dados da entidade, a volta do mercado de trabalho para patamares pré-crise na região poderá demorar e só poderá ocorrer entre 2023 e 2024, pois, em 2022, isso está cada vez menos provável.

 

O executivo destacou que os elevados níveis de informalidade e a ausência de proteção social para os trabalhadores latino-americanos aumentaram durante a crise provocada pela covid-19 e as políticas adotadas pelo governo não atacam problemas anteriores à covid-19. “Queria dizer que, por mais que houve uma pequena recuperação, recuperado um pouco. Os postos de trabalho criados desde o início da recuperação estima-se que 70% desses empregos são informais e de baixos níveis salariais e de baixa qualidade. De certa forma, nos faz pensar que não aprendemos as lições da crise e estamos cometendo os mesmos erros do passado”, lamentou.

 

Pinheiro fez um alerta de que os países precisam melhorar as políticas de acesso ao mercado de trabalho voltadas para jovens e mulheres, os mais afetados pelo desemprego elevado na região, de 11%, atualmente, dado acima dos 9% registrados no fim de 2019. O desemprego entre as mulheres é bem maior, de 18%%, enquanto a taxa de desocupação dos homens é de 14%. Conforme dados da nota técnica elaborada pela a especialista em economia do trabalho da OIT, Roxana Maurizio, em 2020, 12 milhões de postos de trabalho feminino foram perdidos em 2020 o que fez a taxa de participação feminina no mercado de trabalho atingisse o “menor patamar nos últimos 15 anos”.

 

Segundo os dados da OIT, enquanto os homens recuperaram 77% das vagas perdidas, as mulheres tiveram recuperação de 58%. A entidade demonstrou preocupação com o fato de que, devido à quebradeira de muitas empresas, o processo de “retomada parcial” do emprego está ocorrendo por meio da informalidade.  “Nem a quantidade nem a qualidade dos empregos que esta região exige para fazer enfrentando as consequências de uma crise sem precedentes. O cenário de empregos é complexo e apresenta desafios grandes magnitudes ”, destacou Pinheiro.  Ele acrescentou que o estudo mostra uma “estreita ligação entre a informalidade do trabalho, a baixa renda e a desigualdade tornou-se ainda mais evidente neste contexto ”.

 

O documento analisa a dinâmica da informalidade registrada pela pandemia, destacando um comportamento atípico, pois ao contrário de outras crises, as ocupações informais não aumentaram ou eles ofereceram refúgio para aqueles que perderam empregos formais. Ao contrário, as medidas necessárias para enfrentar a crise de saúde foram correlacionadas a um forte impacto na destruição de ocupações informais e na perda de renda das pessoas que trabalhavam nessas condições, que se viam sem redes de proteção social, e sem o acesso a redução de horas ou programas de teletrabalho. Em muitos casos, isso até determinou a redução temporária das taxas de informalidade em alguns países.

 

De acordo com o estudo da OIT, antes da pandemia, a informalidade afetava 51% dos trabalhadores empregados na região. O documento destaca que a redução da ocupação, no pior momento da crise da covid-19, atingiu pouco mais de 43 milhões de empregos. “A recuperação subsequente daquela época até o primeiro trimestre de 2021 foi por volta de 29 milhões. Portanto, o aumento na ocupação não compensou totalmente a perda. anterior”, informou o relatório. Cerca de 30% dos empregos perdidos ainda não foram recuperados.

 

A OIT constatou também que a resposta à pandemia foi desigual e insuficiente, o que aprofundou a distância entre os países com altos e baixos níveis de renda e falhou em oferecer a proteção social tão necessária que todas as pessoas merecem. De acordo com os dados da entidade, no primeiro trimestre do ano em curso, a taxa de ocupação estava em 52,6% — a mais baixa em pelo menos uma década — e taxa de desocupação, de 11%, implica que cerca de 32 milhões de pessoas procuraram ativamente um emprego sem conseguir encontrá-lo. No mesmo intervalo de 2020, esses indicadores estavam em 56% e 9% respectivamente.

 

No Brasil, com taxa de desemprego, atualmente em 14,1% atinge 14,4 milhões de brasileiros, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa taxa, embora inferior aos 14,7% registrados no primeiro trimestre de 2021, ainda é superior à média atual de desocupação da região, de 11%, contabilizada pela OIT.