Governo: não há motivo para desespero com Odebrecht

Publicado em Economia

Quem esperava um fim de semana tranquilo, depois do feriado prolongado de carnaval, foi obrigado a botar as barbas de molho. O tiroteio provocado pelas declarações, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de Marcelo Odebrecht e de ex-executivos da construtora que liderou o processo de corrupção na Petrobras, deixou políticos dos principais partidos numa situação bastante difícil e ampliou a incerteza sobre o futuro do governo de Michel Temer. O sábado e o domingo serão regados à muita articulação. Qualquer nota desafinada poderá ser fatal.

 

Ainda que o Palácio do Planalto faça uma avaliação positiva em relação ao que disse Odebrecht, já que ele não associou Temer a nenhum pedido formal de recursos para campanhas políticas, há muitas delações pela frente. Dos 77 executivos da empreiteira que fizeram acordo com a Justiça para dizer o que sabem sobre o esquema que saqueou a Petrobras, conhece-se apenas detalhes de três depoimentos. Há muita coisa para ser revelada.

 

Faz parte do jogo o governo tentar blindar Temer. Mas, entre os assessores mais próximos do presidente da República, quase todos reconhecem que ele está em uma situação delicada. Mesmo que não haja denúncias pesadas contra ele, o risco de o TSE cassar a chapa na qual o peemedebista foi vice de Dilma Rousseff aumentou muito. “A situação está bastante complicada, e o presidente sabe disso. Mas a ordem é não se desesperar. Vamos manter o discurso positivo, focar em pontos que possam trazer retorno para o governo”, destaca um dos assessores.

 

Donos do dinheiro

 

A estratégia de sobrevivência de Temer inclui uma força-tarefa para aprovar, o mais rapidamente possível e sem grande alterações no projeto original, a reforma da Previdência. A ofensiva tem uma explicação relevante: o Planalto acredita que, ao se mostrar ativo em temas que o mercado considera importantes, conseguirá manter o apoio que vem recebendo de investidores e empresários. O governo precisa convencer os donos do dinheiro que, mesmo abalado pelas delações da Odebrecht, continua com força suficiente no Congresso para aprovar propostas relevantes para o país.

 

O Planalto, inclusive, vai usar toda as moedas que tem para entregar o que prometeu. Emissários de Temer deram início ontem a uma ofensiva junto aos aliados políticos. O recado que está sendo passado a parlamentares é o de que perderão todos os cargos na administração pública se não votarem em linha com o que deseja o governo. As boquinhas são muitas e importantes para que os políticos reforcem presença em suas bases de origem. “No quadro atual, não há espaço para meio-termo. Ou os que se dizem aliados estão com o governo, ou estão fora”, diz um ministro muito ligado ao presidente.

 

Temer ouviu do grupo que o cerca que o pior, neste momento, é dar sinais de fragilidade. Seria um baque na economia, que tem sido o esteio do governo. Os conselheiros presidenciais dizem que foi o discurso coerente do peemedebista em relação às reformas da Previdência e trabalhista que permitiu a criação de um clima positivo entre os agentes econômicos. A recessão começa a dar adeus, a inflação está em queda livre e o Banco Central avisou que pode acelerar o corte na taxa básica de juros (Selic). “Não podemos abrir mão do apoio do mercado. Isso exige pressa nas reformas”, destaca o ministro.

 

Pontos fechados

 

Para tentar se contrapôr à onda de más notícias que virão das delações da Odebrecht — mais dois delatores vão depôr nesta segunda-feira, deste vez, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) —, o Planalto escalou a equipe econômica para difundir o discurso de que o pior da crise ficou para trás. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, intensificará suas declarações públicas, ao mesmo tempo em que será um dos lideres da tropa de choque para a aprovação da reforma da Previdência.

 

Na conversa que teve ontem com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o ministro foi enfático: o governo não abre mão da idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres, do regime de transição, no qual homens com mais de 50 anos e mulheres com mais de 45 terão que pagar um pedágio para se retirar do mercado de trabalho, e da proibição de se receber dois benefícios (pensão e aposentadoria). Esse discurso será replicado para os parlamentares que vêm se posicionando contra as mudanças no sistema previdenciário, mas se dizem da base aliada.

 

“Vamos para o tudo ou nada. No ponto em que chegamos, com o mundo político devastado pelas delações da Odebrecht, o governo não pode titubear”, assinala um assessor do Planalto. Para ele, se o governo conseguir se manter de pé, mesmo obrigado a abrir mão de ministros como Eliseu Padilha, da Casa Civil, já será um feito e tanto. “O que não pode é difundir a visão de que estamos diante de um presidente acuado, sem força política. Isso não existe. Temer está disposto a levar seu governo até o final e entregar tudo o que prometeu”, complementa. Os dias que estão por vir serão decisivos.

 

Brasília, 08h10min