Na visão dos investidores, as reformas constitucionais, como a da Previdência Social, deveriam dominar os debates na disputa pela Presidência da República. Mas poucos acreditam que os candidatos que forem sacramentados pelas convenções partidárias vão destinar o curto tempo das campanhas a assuntos tão impopulares. O discurso deverá se centrar, sobretudo, no combate à corrupção e em programas de segurança, ante a onda de violência que assusta o país.
Os candidatos estão cientes de que os eleitores perderam a paciência para falsas promessas. Muito da radicalização que se vê hoje decorre do descontentamento em relação ao Brasil. Pesquisas mostram que apenas 5% dos brasileiros estão satisfeitos com os rumos do país. Portanto, a maioria descontente tenderá a optar pelos extremos. Levantamento feito por um dos maiores bancos de investimentos do mundo aponta que, em 22 eleições realizadas nos últimos dois anos, os vencedores ou eram de partidos de extrema direita ou de extrema esquerda. Uma das poucas exceções foi a França.
Esse quadro de radicalismo tende a se agravar quando os índices de abstenção e de votos brancos e nulos são muito altos, como indicam as pesquisas de intenção de voto. Quase 60% dos brasileiros dizem que não votarão em ninguém. Como os eleitores mais radicais não abrem mão de comparecer às urnas, são os candidatos desses grupos que despontam como prováveis vencedores.
Não por acaso, parte do mercado acredita que os dois prováveis finalistas da disputa serão o deputado Jair Bolsonaro (PSL), com sua posição radical de que bandido bom é bandido morto, e o indicado pelo PT, provavelmente o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Ciro Gomes correria por fora no caso de o PT insistir em Lula, que está preso e é considerado ficha-suja, e acabar não registrando ninguém, algo improvável em se tratando do partido.
Prenúncio de decepção
A probabilidade de uma radicalização dos eleitores nas urnas é tão alta, que várias instituições financeiras passaram a se basear em pesquisas diárias para montar suas operações. Num quadro de incerteza, o risco de perdas é muito elevado, e ninguém quer ser surpreendido. Os números mostram que, mesmo isolado, sem alianças e com apenas oito segundos de tempo na tevê, Bolsonaro tem resistido bem. A maior parte de seus eleitores está consolidada. Isso, porém, não pode ser visto como um sinal claro de vitória. A campanha de verdade só começa a partir de 15 de agosto.
Uma coisa, porém, os investidores dão como certa: a pequena renovação do Congresso. Há um acordão para priorizar os velhos políticos, que só têm duas opções, ou um mandato ou a prisão. A tão propalada renovação do Legislativo ficará para depois, infelizmente. Resta saber se o próximo presidente dará apoio à continuidade à Lava-Jato. Quem acompanha os bastidores de Brasília sabe dos movimentos que vêm sendo feitos por caciques dos maiores partidos para livrar todo mundo da cadeia. Essa negociação passa pela libertação de Lula.
Diante disso, o prenúncio é de decepção. Como alerta um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o futuro comandante do país assumirá com a faca no pescoço, podendo sofrer um impeachment. Se não construir um amplo apoio no Congresso e se não seguir à risca a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), irá para casa bem antes do previsto. Tempos complicados estão por vir. Por isso, é bom que os eleitores tenham muito juízo.
Brasília, 06h54min