Correio Econômico: Para onde vão os votos de Marina

Publicado em Economia

Diante dos riscos trazidos pelas eleições, os investidores estão esmiuçando todos os números das pesquisas eleitorais. A determinação nas mesas de operações de bancos e corretoras é de não deixar passar um dado sequer que possa resultar em prejuízos. Com projeções nas mãos, os analistas dizem que são muito pequenas as chances de Jair Bolsonaro, do PSL, vencer a disputa no primeiro turno, como vêm alardeando seus aliados. Para que isso ocorresse, ele teria que conquistar mais 15,8 milhões de votos, um aumento de 62% sobre o total que as pesquisas dizem que ele já tem.

 

Para um candidato com índices de rejeição acima de 40%, é muito difícil agregar tantos votos num curto espaço de tempo. Faltam pouco mais de três semanas para os eleitores depositarem os votos nas urnas. A onda Bolsonaro, iniciada depois do atentado em que ele foi esfaqueado, já produziu a maior parte do efeito positivo esperado por seus estrategistas. Agora, a tendência é de estagnação ou mesmo de perda de votos, pois a comoção tenderá a passar. E os concorrentes estão partindo com tudo para cima do capitão reformado do Exército, ressaltando o discurso radical ostentado por ele.

 

“Nos cálculos dos investidores, Bolsonaro precisa de 15,8 milhões de votos para vencer no primeiro turno, o que é impossível de ser conquistado em tempo tão curto. Todos querem saber para onde irão os eleitores da candidata da Rede”

 

Em meio às dezenas de planilhas com análises e projeções, a grande pergunta que atormenta os analistas tem a ver com Marina Silva, da Rede. A candidata começou a campanha com chances de ir para o segundo turno das eleições, mas vem derretendo. O que todos querem saber é para onde irão os votos de Marina, que, segundo as pesquisas, oscila entre 11% e 13% da preferência do eleitorado. Se o desmanche da candidata da Rede continuar, seus eleitores — mais moderados — tenderão a ir para Ciro Gomes, do PDT, que vem se fortalecendo, para Fernando Haddad, do PT, agora, efetivado como cabeça de chapa, ou para Geraldo Alckmin, do PSDB, que não decola, mesmo tendo quase a metade do tempo da propaganda de rádio e tevê?

 

Marina não conseguiu emplacar uma campanha consistente. Com pouquíssimo tempo de tevê, por não ter feito alianças mais amplas, perdeu o discurso. Ela contou, de início, com o recall de eleições passadas. Contudo, numa disputa tão acirrada como a atual, em que os extremos estão prevalecendo, perdeu brilho. Será o seu pior desempenho nas três disputas pela Presidência das quais participou. Mesmo menor, terá seu apoio requisitado em um segundo turno. Não há a menor chance de ela se juntar a Bolsonaro. Também ficará complicado para ela estender a mão a Haddad, depois de chamar Lula de corrupto e de ter apoiado, abertamente, o impeachment de Dilma Rousseff.

 

Sem constrangimento

 

Os donos do dinheiro sempre sonharam com Alckmin no Palácio do Planalto, mas estão convencidos de que o tucano perdeu o bonde. Ele vinha prometendo deslanchar nas pesquisas depois do início da propaganda no rádio e na tevê. Subiu alguns pontos na preferência do eleitorado, mas não o suficiente para empolgar seus aliados. Alguns, inclusive, já jogaram a toalha e estão se concentrando nas disputas estaduais. Diante desse quadro, é possível que o Centrão, grupo que reúne os partidos mais fisiológicos do Congresso, libere o desembarque da campanha de Alckmin sem qualquer constrangimento.

 

Para os investidores, Alckmin seria a garantia de que o Brasil conseguiria fazer uma travessia mais tranquila pelos próximos quatro anos. Há desafios enormes que precisam ser enfrentados, que tanto a extrema direita quanto a esquerda mais radical não estão dispostas a encarar, até por falta de entendimento da gravidade da situação. Com o tucano estagnado nas pesquisas e o tempo correndo, o mercado está se apegando ao que considera o menos pior do ponto de vista econômico. “A torcida é para que os brasileiros caiam na real a tempo e se deem conta do alto risco de eleger um dos extremos. Hoje, infelizmente, não vejo possibilidade de mudança de posição. Porém, não se pode descartar o voto útil de última hora”, diz um executivo de um banco estrangeiro.

 

No quadro mais sombrio traçado pelos investidores, está no horizonte a possibilidade de o próximo presidente não terminar o mandato. Bolsonaro diz que governará sem o Congresso. Haddad e Ciro pregam medidas semelhantes às adotadas por Dilma Rousseff e que empurraram o Brasil para uma das mais severas recessões da história. Ou seja, as eleições estão carregadas de riscos para o país. Portanto, quanto mais conscientes da situação os eleitores estiverem quando forem às urnas, menores serão as chances de um desastre se consumar mais à frente. Ainda dá tempo de evitar o pior.

 

Brasília, 06h54min