Com Selic acima de 8,5% ao ano, correção da poupança volta para a regra antiga

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Após o Comitê de Política Monetária (Copom), elevar a taxa básica da economia (Selic), de 7,75% para 9,25% ao ano, o rendimento da caderneta poupança será um só e todos os depósitos serão corrigidos pela regra antiga, que foi alterada em maio de 2012.

 

Pelo regramento atual, sempre que a Selic fica abaixo de 8,50% ao ano, a correção da poupança para os depósitos feitos a partir de maio de 2012 corresponde a 70% da taxa básica. Enquanto, isso, os depósitos anteriores a maio de 2021, seguem a regra antiga da caderneta — que paga 0,50% ao mês mais a Taxa referencial (TR), atualmente zerada, ou seja, 6,17% ao ano mais TR.

 

Assim, a partir deste mês, em vez de ter um rendimento de 6,47% ao ano, a poupança nova passará a ter o mesmo rendimento da a poupança velha, de 6,17% ao ano mais TR. “A regra da poupança mudou quando a Selic ficou abaixo de 8,50%, porque a caderneta acabou ficando mais atrativa do que os fundos de renda fixa, que financiam grande parte da dívida pública. E, para tornar esse fundos mais competitivos do que a caderneta, o governo acabou mudando a regra”, destacou Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). De acordo com ele, apesar de perder para a inflação, que está acima de 10% ao ano, a poupança ainda é um investimento mais rentável do que as aplicações fundos de renda fixa com taxas de administração acima de 1% ao ano, com prazos de resgate superiores a seis meses.

 

O economista Ecio Costa, professor de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), lembrou que a caderneta é a “porta de entrada” para as famílias de baixa renda e pequenos investidores que não têm um conhecimento sobre investimentos e precisam guardar dinheiro. “Com a Selic voltando a subir, a poupança fica menos atrativa ainda e continua perdendo para a inflação. É bom procurar outro tipo de aplicação que tenha um rendimento mais próximo da taxa básica  para uma reserva emergencial de seis meses de gasto”, orientou. “Para o longo e médio prazos, o investidor tem que ir para a renda variável para conseguir retornos maiores”, acrescentou.

 

Retiradas de R$ 12,4 bi

 

A rentabilidade abaixo da inflação de dois dígitos e o fim do pagamento emergencial aceleraram os saques da poupança em novembro. Conforme dados do Banco Central divulgados no início da semana, os saques da caderneta superaram os depósitos em R$ 12,4 bilhões. Foi a segunda maior retirada líquida desse tipo de aplicação no ano, atrás apenas do mês de janeiro, quando a saída líquida de recursos somou R$ 18,1 bilhões, o pior resultado em 26 anos.

 

No mês passado, os brasileiros sacaram R$ 294,1 bilhões da caderneta e depositaram R$ 281,7 bilhões. No acumulado do ano, a captação líquida da poupança está negativa em R$ 43 bilhões, de acordo com os números da autoridade monetária.

 

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem afirmado, nas últimas semanas, que há estudos para mudar novamente a regra da poupança a fim de torná-la mais atrativa, mas ele ainda não deu uma data de quando isso poderá ocorrer.