Coluna no Correio: Horizonte nebuloso

Publicado em Economia

ANTONIO TEMÓTEO

 

A renúncia do deputado tucano Bruno Araújo (PE) do Ministério das Cidades animou parte do mercado na segunda-feira. Alguns analistas avaliaram que a decisão do parlamentar poderia apressar o desembarque do PSDB do governo e facilitar as negociações para aprovar uma reforma da Previdência mais robusta. Entretanto, as apostas dos analistas estão divididas. A evolução positiva da economia dos Estados Unidos tem pressionado os fluxos de capitais para emergentes.

 

O sócio da Vokin Investimentos, Guilherme Macedo, explica que o mercado precificava uma reforma mais robusta e, nas últimas semanas, ficou claro que não será possível. Ele explicou que a medida teve reflexo imediato na curva de juros futuros, que subiu mais do que a queda da bolsa de valores. “Estava mais otimista havia um mês e acreditava que a bolsa bateria 80 mil pontos. O que ficou claro é que o próximo presidente terá de endereçar o tema, senão teremos inflação alta novamente”, disse.

 

As reformas em debate no Congresso Nacional são essenciais para que o Brasil saia da beira do precipício, mas os desafios para que o país volte a crescer e gerar empregos são enormes. Alterar as regras para concessão de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com a imposição de idade mínima para aposentadoria, além de modernizar as normas trabalhistas, são apenas algumas das medidas necessárias para que a economia saia do atoleiro e volte a atrair investidores.

 

Enquanto sindicatos, associações de classe e figuras públicas têm esperneado contra as mudanças debatidas pelo Legislativo, afirmado que os direitos dos trabalhadores serão extintos e reclamado da falta de emprego, omitem uma parte significativa do problema. Sem as reformas, a recuperação será dada a passos lentos ou pode até não ocorrer. E os investimentos, essenciais para geração de postos de trabalho, continuarão minguando.

 

Com o agravamento da crise fiscal, o setor público deixou de investir, restando ao setor privado ocupar essa lacuna. Entretanto, o desequilíbrio nas contas públicas se somou a um escândalo de corrupção que comprometeu todo o governo e afugentou empresários e investidores. Com isso, as taxas de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) não param de minguar. Os problemas da economia brasileira não são novos. O debate para que reformas sejam costuradas para reduzir o crescimento das despesas públicas é debatido desde o início dos anos 2000. Entretanto, as mudanças só ocorrem quando estamos à beira do precipício ou com a corda no pescoço.

 

Estragos

 

Para estancar a trajetória de crescimento da dívida pública, o ajuste fiscal, sem reformas, teria de corresponder a 6,5% do PIB até 2025. Mesmo com a reforma da Previdência, entretanto, o percentual seria alto, de 5% do PIB. Daí a importância de que mudanças para melhorar o ambiente de negócios sejam aprovadas. O próximo governante terá a missão de tornar o Brasil um país mais atrativo. A primeira mudança deve ser a tributária.

 

O custo para entender a complexidade dos impostos brasileiros diminui a produtividade das companhias e traz sérios danos para a geração de riquezas no país. Sem essas medidas, o país demorará para receber novamente o selo de bom pagador das agências de classificação de risco. Com isso, deixamos de ser destino de bilhões de dólares de investidores institucionais que são obrigados a aplicar apenas em nações que possuem rating.