Banco Mundial faz alerta sobre o baixo crescimento da América Latina

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Apesar de apresentarem crescimento abaixo da média global no cenário pós-pandemia, as economias da América Latina e do Caribe têm se mostrado relativamente resilientes diante do aumento do estresse da dívida, da inflação e do aumento da incerteza global, de acordo com dados do Banco Mundial (Bird). Contudo, o crescimento continua fraco e abaixo da média global e das economias mais ricas do planeta.

 

O órgão multilateral prevê crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) da região, neste ano, taxa que deverá passar para 2,4% nos dois anos seguintes, patamares considerados ainda muito baixos para a redução da pobreza dos países latino-americano no relatório “O Potencial da Integração, Oportunidades Numa Economia Global em Transformação” divulgado nesta terça-feira (4/4). O Brasil, contudo, deverá apresentar expansão menor ainda, de 0,8%, neste ano, passando para 2%, em 2024 e em 2025, pelas projeções do Bird. 

 

“Essas projeções para o PIB da região até 2025 são basicamente os mesmos números que tivemos na década de 2010, o que implica que temos fortes fatores estruturais que precisam de atenção. Essas taxas são claramente muito baixas para reduzir significativamente a pobreza e reduzir as tensões sociais”, alertou William Malone, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, durante a apresentação do estudo para jornalistas, de forma virtual. Ele lembrou que a região cresce menos do que a média global e menos do que a média dos países da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos ricos.

 

Pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) de janeiro, o PIB global deverá crescer 2,9%. E, recentemente, a OCDE elevou de 2,2% para 2,6% a previsão de crescimento do PIB.  “Temos uma grande grande agenda pela frente para aumentar essas taxas de crescimento”, acrescentou Bill Malone. Ele lembrou que o emprego na região se recuperou aos patamares pré-pandemia, mas houve perda na qualidade da mão de obra.

 

Para ampliar essas taxas de crescimento, na avaliação de Malone, os países da região precisarão preservar a resiliência e ter uma estratégia para aproveitar as oportunidades que a tendência mundial oferecem, como o nearshoring (aproximar a cadeia produtiva dos mercados domésticos) e a indústria verde. Além disso, melhorar a qualificação da mão de obra, nesse sentido, será fundamental, segundo ele.  

 

No relatório, a instituição também faz um alerta para obstáculos para a retomada do crescimento regional, como o aumento da pobreza na região pós-pandemia, a desaceleração dos preços das commodities, que atrapalha o crescimento da maioria dos países que dependem da exportação desses produtos e da taxa de juros mais alta nos países desenvolvidos. Além disso, uma recuperação instável da China deverá piorar as perspectivas para a economia da região, de acordo com o estudo do Bird. 

 

Malone destacou durante a apresentação do relatório que o Brasil, com seus programas de transferências de renda “muito generosos” conseguiu de fato reduzir a pobreza durante a pandemia, mas ela já voltou para os patamares anteriores à covid-19. “Enquanto isso, o resto da região aumentou substancialmente a pobreza. Estamos, agora, mais ou menos onde estávamos, há cinco anos, em termos de pobreza, mas está voltando aos níveis anteriores”, lamentou.

 

De acordo com Malone, os mercados permanecem relativamente calmos e cautelosamente otimistas sobre a região e “a luta contra a inflação na região tem sido boa pelos padrões históricos e globais”. Em 2022, enfrentamos as taxas de inflação na América Latina e Caribe ficou em torno de 7,9%, e, neste ano, o Bird prevê recuo dessa taxa para 5%, excluindo a Argentina e a Venezuela. Em média, o desequilíbrio fiscal permanece elevado na região e é projetado para 2,7% do PIB, neste ano, segundo os dados do Bird.  

 

O Banco destacou ainda que a média dos níveis da dívida dos países latino-americanos mostra-se um pouco mais baixa em 2022, passando de 66,3% para 64,7%. O Brasil, contudo, continua com taxas acima dessa média. Conforme os dados do Banco Central, em fevereiro, a dívida pública bruta voltou a crescer e chegou a 73% do PIB.  Para Malone, a situação fiscal na região “continua difícil, mas controlada”. “A maioria dos países conseguiu aumentar seus superávits primários, mas o aumento do serviço da dívida, proveniente do aumento das taxas de juros compensou parcialmente isso”, acrescentou.

 

O Bird faz um alerta de que esse quadro pode piorar. “As recentes falências de bancos nos EUA e na Europa trazem mais incertezas. Ainda veremos as consequências no sistema bancário e fluxo de capital na América Latina”, alertou o documento de 92 páginas do órgão multilateral.  

 

Em busca da estabilidade macroeconômica, o relatório deixa um recado sobre os indicadores de longo prazo que estão “escorregando” e podem afugentar investidores: “Não há nenhuma recomendação de política óbvia para estabelecer tal estabilidade – exceto, talvez, abordar tensões sociais antigas. Porém, isso pesa fortemente sobre investidores estrangeiros e nacionais cujos projetos podem ter gestações medidas em décadas.”