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Artigo: Volta com esperança de paz

Publicado em Economia

Por LUIZ RECENA GRASSI, de Portugal

 

Depois de alguns dias de visita oficial à Rússia, a primeira de um terceiro mandato presidencial consecutivo, o chinês Xi Jinping volta à proteção nas suas muralhas em Pequim, certo de que, se não venceu, leva de volta para casa alguns bons trunfos. Ninguém se ofereceu para vender armas às escâncaras; também não houve qualquer gesto aos olhos do público para adquirir material de guerra. Resta o título de principal fiador da paz nesses dias.

 

Rússia e China ficaram na neutralidade bélica. Não quer dizer que alma viva ofereça um pedaço de cano, duas asas e uma espoleta disparadora. Os dois países contam com aliados poderosos e saem ainda mais fortes do encontro em Moscou. A China conta com máquinas e apoio dos drones do Irã e bastante dinheiro por parte da Arábia Saudita, que pode emprestar e também vender alguma coisa. Esses três fazem o tripé de apoio de que tanto requer a Rússia de Vladimir Putin.

 

Xi investe no crescimento do orçamento para equipará-lo ao dos Estados Unidos. Na outra margem do rio, o quadro não seria assim tão favorável: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e parceiros sugerem créditos, armas não. Parceiros da União Europeia seguem igual: uns tanques velhos aqui, drones ucranianos ali, muita mão de obra a ser ensinada. Alemães, polacos, outros. Sobra gente para ensinar. E todos têm questões domésticas a resolver, desde confusões de rua até o abafamento de manifestações pelas polícias, equipadas e sem dó na repressão.

 

Todos gostariam de receber dinheiro extra, para treinamentos, para venda de armas às forças de Volodimir Zelenski. O turco Recep Erdogan tenta restabelecer o abastecimento de cereais, o que significa dinheiro em caixa. Sobrou para o Brasil, que venderia grãos para a China em troca de inserção no mapa turístico chines e da liberação da carne brasleira. É coisa boa. A ideia de Kiev é outra, possível televídeoconferência com Xi Jinping e o governo dele. Não marcada, muito menos confirmada.

Do outro lado mundo também há problemas. Desde a vida política de Donald Trump até a eleições internas, com Joe Biden candidato a reeleição. A oposição cresce. Felizmente, para o governo ianque, armas novas não há. Na guerra, o maior impasse se mantém. Bakhmut está parada, sem vantagens. Prevalece a ideia russa de desviar um pedaço do conflito para Zaporijia, no limite: eram 14 mil pessoas, agora, são menos de cinco mil. O plano pode ser bom, mas falta apoio operacional. O líder Medvedev fala em isolar o conflito. É muita ratoeira junto e não deve avançar. Ao perder no front político, sempre haverá saídas práticas para os EUA e aliados. Xi vence na diplomacia. Só isso.

 

O CORREIO SABE PORQUE VIU

 

Estava lá. Em belo e ensolarado sábado as pequenas ruas e os parquezinhos de Moscou estavam cheios. Quem estava de plantão aproveitou para esticar a pernas depois de um lanche no McDonald’s. Filas pequenas ajudavam. Depois, algum álcool fresco, comprado em quiosque de esquina. E o piquenique do plantão estava em pleno vapor. Na conversa o sucesso ou a desgraça. Os tristes mantinham-se irados contra o governo. Na opinião deles, a União Soviética tinha perdido, e eles, muito mais. Na outra banda os alegres, felizes porque a mudança trazia dinheiro novo e mais empregos, em moeda forte. Quem tinha, tinha; quem não dispunha, chupar o dedo era sempre uma saída. “Vocês ganharam, mas irão perder, com o tempo”.

 

A russinha brava prometia vingança. O tema está de volta. Para vencer. Nas ruas, o sentimento era igual, aos russos, antigos e imperialistas, a aposta de retorno sempre esteve, a propósito, a mão. Quem sabe não eram premonitórios. A vitória estaria perto. E a URSS não precisaria de melhores seleções para continuar ganhando medalhas Olímpicas. Tudo isso poderia ser feito com outros parceiros, inclusive chineses, mais importante que os EUA. Quem sabe?