Guedes1 Foto: Sérgio Lima/ AFP

“Agenda econômica de Paulo Guedes é deletéria”, diz signatário de dossiê a Biden

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Assim como o governo Jair Bolsonaro é cheio de retrocessos, a agenda econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, também não deixa de ser criticada por acadêmicos de grandes universidades dos Estados Unidos que assinaram um dossiê enviado, nesta terça-feira (04/02), para o presidente norte-americano, Joe Biden, e para várias autoridades do governo democrata.

 

“Acreditamos que a agenda econômica representada pelo ministro Paulo Guedes é deletéria para a maioria da população. O fato é que milhões de brasileiros precisam de um estado ativo, engajado, moderno e a serviço dos cidadãos”, afirmou André Pagliarini, professor do Programa de Estudos Latino-Americanos do Dartmouth College, universidade localizada na cidade de Hanover, no estado de New Hampshire (EUA).

 

Pagliarini, junto com centenas de professores de universidades norte-americanas é um dos signatários do documento de 31 páginas encaminhado à Casa Branca, elaborado pela Rede nos Estados Unidos pela Democracia no Brasil (U.S Network for Democracy in Brazil – USNDB). O relatório aponta retrocessos no governo Bolsonaro, que está virando um grande inimigo global e faz recomendações de congelamento de acordos e de negociações com o Brasil realizadas pelo antecessor, o republicano Donald Trump.

 

Em entrevista ao Correio e ao Blog, o historiador defendeu uma política de gastos públicos mais voltada ao bem-estar social como forma de estimular a economia e, nesse sentido, não poupou críticas à falta de controle nos gastos públicos, uma vez que não há critérios sobre as verdadeiras prioridades do país. Ele lembrou que, ao mesmo que o Poder Executivo chega a gastar mais de R$ 15 milhões com a compra de leite condensado em 2020, os investimentos em pesquisa científica estimada no Orçamento deste ano destinada ao CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) é de R$ 22 milhões.

 

“A ideia da equipe econômica de cortar gastos e de privatizar não considera o papel variado do gasto público. O governo Biden tem a oportunidade de dar o exemplo de como gastos sociais robustos, ao invés da austeridade orçamentária, podem e devem ser usados para impulsionar a recuperação em todo o mundo. Essa atitude do governo americano dificultará os esforços de políticos e de ministros brasileiros de justificarem os cortes na área do bem-estar social e de outros gastos cruciais em nome das supostas necessidades do mercado”, destacou o professor da universidade norte-americana que faz parte da Ivy League, tradicional confederação de oito universidades dos EUA listadas como as melhores do mundo.

 

Pagliarini demonstrou preocupação com os riscos de haver mais retrocessos a partir da vitória dos candidatos apoiados por Bolsonaro às presidências das duas Casas do Congresso. “O governo Bolsonaro encarna o atraso social. Com a vitória de seus aliados nas presidências da Câmara e do Senado, ele dá sinais de querer avançar na chamada ‘pauta de costumes’, exatamente as questões pelas quais ele se tornou notório nos olhos do mundo mesmo antes de ser eleito”, destacou. Ele citou a importância de olhar para a agenda para LGBTQ+, porte de armas e nas proteções para minorias do atual governo. “Essas pautas podem parecer secundárias, mas não são. Elas são um barômetro para a saúde da democracia brasileira. Na medida em que a homofobia, a misoginia, o racismo do Bolsonaro foi acatada pela população e pelas instâncias governamentais, as garantias democráticas vão se esvaziando”, lamentou.

 

De acordo com Pagliarini, o governo de Joe Biden vem sinalizando de forma bem clara de  que a questão ambiental vai ser prioridade. “Isso aponta um embate com o governo Bolsonaro que nega qualquer problema real na Amazônia, por exemplo. Sobre a importância da democracia, de direitos humanos, proteções para minorias, etc., o novo governo americano deve ser menos direto mas não menos comprometido. É certo que a dinâmica entre Brasília e Washington mudou. Resta ver a dimensão da mudança”, completou.