Até hoje lamento o dia em que soube que torresmo faz mal à saúde. Além de ajudar a entupir as coronárias, agora sei que aquela delícia aumenta em 19% o risco de câncer no pâncreas. E que o croquete velho de guerra prejudica o trabalho do intestino, engarrafando a saída, além de maltratar o coração.
Também já sei que a gente deve passar longe de batata frita, mesmo a servida no Silvio’s (114 norte) e que está entre as sete maravilhas dos botecos da cidade. Fui saber porque – mesmo fazendo mal – a fritura atrai tanto: ela ressalta as propriedades organolépticas, aquelas que são percebidas pelos sentidos. Literalmente, uma tentação.
A conclusão é óbvia: viver bem faz mal à saúde.
Outro dia fiquei namorando a vitrine-estufa do Bar do Luisão (no comércio do Pão de Açúcar do Lago Norte) para ver se alguma coisa ali era recomendável para petiscar sem afrontar demais a compleição de carne, nervos e ossos que me carrega. Escolhi – e recomendo – o repolho recheado, digno de homenagens, mas logo me apareceu um estraga-prazeres dizendo para não exagerar.
Pelo andar da carruagem vou ter que limitar a petiscagem – se é que isso existe – ao talo de couve com azeite e (pouco) sal que é bom mas, pelo que eu saiba, nunca ganhou prêmio nesses concursos de boteco.
Sigo um conselho do meu avô João: tem coisa que é melhor não saber. É o que dizia sempre que eu perguntava como era feita aquela linguiça preta e de maus bofes, frita na hora, que ele saboreava com tanto gosto. Hoje eu sei como é feito um choriço, mas finjo que não sei e como com prazer.
Agora mesmo ando temeroso com uma decisão judicial que obriga as cervejarias a informar todos os ingredientes usados na fabricação da bebida. Não sei se quero saber tudo o que é fervido no caldeirão de onde sai a Serra Malte. Aliás, se alguém souber não me conte.
Nos rótulos de algumas cervejas vem escrito que na composição da fórmula entram cereais não maltados, mas o juiz acha que isso não basta, que é preciso determinar quais são esses cereais. Milho? Arroz? Sorgo? Aveia?
Acho que eu ia me sentir um nelore se soubesse que tem sorgo no meu copo – mal comparando, é a mesma sensação de quando cai uma mosca no copo. Aveia me lembra a infância e aquele sujeito de chapéu preto no rótulo, mas cerveja não é para menores; nem para quakers, que não bebem álcool. Não teria problema com milho e arroz.
Na Alemanha – desde 1516, quando o duque Wilhelm IV teve uma ressaca monstruosa – vale a lei da pureza, que determina que a cerveja só pode ter três ingredientes: malte, lúpulo e água. Mas a verdade é que alguma das melhores cervejas do mundo são fabricadas com outros cereais, inclusive na Alemanha, onde se usa milho (que elimina o aspecto opaco do líquido) e trigo (presente também nas witbiers belgas).
Seja como for, vou continuar sem ler os rótulos.
Publicado no Correio Braziliense em 13 de abril de 2018