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Nascida em Boston, uma das cidades mais literárias dos Estados Unidos, terra de Edgar Allan Poe, Ralph Aldo Emerson e Sylvia Plath, Otessa Moshfegh ganhou da crítica literária a etiqueta de voz de uma geração, mas acha a classificação estranha. “Passei a maior parte da minha vida jovem intrigada pelo comportamento humano, enquanto meus colegas e amigos pareciam não se incomodar. Eu não os entendia, e eles não me entendiam. Então, como eu poderia acabar sendo uma voz para qualquer um além de mim mesma é algo milagroso”, pondera, embora reconheça que toda uma geração se identifique facilmente com seus personagens por conta da carga de tédio e alienação que carregam.
A escrita ligeira e certeira de Santiago Nazarian em “Veado assassino”
Depois de cinco anos escrevendo o que chama de “livro-pesquisa”, Santiago Nazarian resolveu mergulhar em um projeto, digamos, ligeiro. Para tal, criou um personagem muito específico e uma trama nada convencional. Em Veado assassino, 13º romance do autor, um adolescente não binário assassina um presidente de extrema direita. A ação já ocorreu quando tem início a narrativa. Na verdade, o livro apresenta uma conversa entre o protagonista e um interlocutor cuja profissão não está explícita. Pode ser um jornalista, um psicanalista ou outro profissional.
Um episódio real e chocante despertou no português Miguel Sousa Tavares a urgência de escrever o romance Último olhar. Durante a pandemia, o autor leu em um jornal a história de um ônibus apedrejado na Espanha ao transportar idosos infectados com o novo coronavírus. “Tropecei nessa história de um ônibus dos velhos, no sul da Espanha, que estavam sendo mudados para uma espécie de sanatório e foram apedrejados. Como se fazia na idade média. Hoje essa história é tão impressionante que, de repente, me pus a pensar quem seriam os velhos que iam no carro, aquela gente que parecia normal. E comecei a congeminar toda uma história grande à volta do assunto”, conta. “É um livro escrito por causa e durante a pandemia, quando eu estava isolado numa casa de campo fazendo uma espécie de diário sobre o que acontecia em Portugal e no mundo, coisas que achava que devia guardar para memória futura e que mais tarde podíamos não lembrar.”
Diorama é uma cena reconstituída com detalhes que a tornam muito realística em um cenário com personagens tridimensionais. Costuma ser usada em museus, especialmente os de história natural, para representar como viviam os ancestrais do homem e quais eram as aparências da fauna e da flora que os rodeavam. Muitas vezes, nessas reconstituições, usa-se animais empalhados que podem conferir um […]
Novo livro de Bernardo Carvalho imagina o mundo pós-pandemia
O último gozo do mundo começou a tomar forma como uma novela curta feita sob encomenda. O escritor Bernardo Carvalho estava em casa, isolado por causa da pandemia, e topou a encomenda de um produtor de cinema para escrever uma história que se passasse logo após a quarentena. O combinado era o produtor pagar uma quantia mensal em troca do trabalho do autor. O contrato não seguiu adiante, mas o livro, sim. O romance que chega às livrarias pela Companhia das Letras é descrito como uma distopia, mas é tão próximo da realidade atual que pode ser lido como uma visão catastrófica para o que nos espera após a pandemia, caso ela acabe.
Houellebecq cria personagem trágico e comovente em ‘Serotonina’
Desilusão, pessimismo, ironia e sexo formam cartilha inevitável quando se trata dos romances de Michel Houellebecq, mas essa combinação está especialmente provocativa e quase sentimental em Serotonina, o sétimo romance do autor francês. Aqui, essa mistura resulta em um livro comovente, embora essa definição possa soar estranha quando se trata do enfant terrible da literatura contemporânea francesa. Mas Florent-Claude Labrouste — que não gosta do próprio nome por achá-lo delicado demais para a virilidade de sua aparência — é comovente na sua miséria e endossa um paradoxo sempre presente na obra do francês: a possibilidade do amor e da felicidade como algo confinado ao plano da fantasia e ao fracasso certo.
O quarto branco não é uma biografia, mas não se pode descolar a história de Glória da de Gabriela Aguerre. Muito da experiência da autora, sobretudo no que diz respeito ao deslocamento e à busca da identidade, está nesse primeiro romance, que é para ser lido em isolamento e com atenção especial para a delicadeza com a qual as palavras são organizadas. O quarto branco é um livro sobre os sentimentos, sobre como lidar com o que a vida apresenta quando não se tem os instrumentos para fazer de um limão uma limonada.