Um ano após o tetra, analista de desempenho do técnico Joachim Löw responde: qual é a melhor Alemanha de todos os tempos?

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Alemanha campeã da Euro 1972: um dos times que fizeram história

Foto: Divulgação/Uefa

Não é só brasileiro que tem mania de comparar uma seleção que acaba de ser campeã com outra vitoriosa no passado.  Há exatamente um ano, depois do gol de Götze, de o capitão Lahm  erguer o troféu da Alemanha e da volta olímpica, entrei no elevador do Maracanã a caminho da sala de imprensa e escutei um debate quente entre jornalistas alemães. Não falo o idioma deles, mas conhecia um dos colegas, com quem desci conversando, e ele traduziu para o inglês. “Estamos discutindo se o time de Joachim Löw é melhor que os de 1990, 1974 e 1954”. A Alemanha acabava de ser tetra vencendo Portugal, do número 1 Cristiano Ronaldo; a França, nas quartas; o Brasil com os 7 x 1 na semi; e a Argentina, de Messi, na decisão. Isso tudo aqui aqui dentro do ex-país do futebol.

Não me envolvi no debate, mas, no mês passado, conversei com o analista de desempenho da Alemanha, Christofer Clemens. No bate-papo, lembrei-me do quebra-pau sobre a melhor Alemanha de todos os tempos e perguntei a ele, um dos braços direito do técnico Joachim Löw, se era a campeã de 2014. A resposta de Christofer colocaria ordem no barraco do elevador rapidinho. “Eu considero a Alemanha de 1972 a melhor de todos os tempos. A de 1990 também era um grande time”, disse, sem direito a réplica.

Minha idade só permite me lembrar das Alemanhas de 1990 — ainda era criança — e de 2014. A campeã da Copa da Itália tinha Brehme, Klinsmann, Völler, o maestro Matthäus, o goleiro Ilgner. Um timaço. A do ano passado dispensa apresentações. A de 1974, campeã em casa, nem se fala. E a do Milagre de Berna, heroica diante da fantástica Hungria de Puskas na final de 1954, na Suíça? Mas a Alemanha dos sonhos de Christopher Clemens é, mesmo, a da Euro-1972. E lá fui eu entrar na minha máquina do tempo para conhecer a trajetória da seleção de Helmut Schön.

Nas Eliminatórias da Euro-1972, a então Alemanha Ocidental teve de superar o timaço da Polônia, a Turquia e a Albânia. Nas quartas, eliminou a Inglaterra por 3 x 1 em jogos de ida e volta. Só havia sede fixa a partir das semifinais. Anfitriã, a Bélgica perdeu para a Alemanha, e a União Soviética desbancou a Hungria.

A final foi no histórico Estádio de Heysel. Aquele da tragédia de 1985 entre Liverpool e Juventus na final da Liga dos Campeões. Os dois gols de Gerd Müller e um de Wimmer na goleada por 3 x 0 sobre a União Soviética na final da Euro marcavam o início de uma nova era vitoriosa. A Alemanha encerrava 18 anos de jejum. Até então, só vivia do título da Copa de 1954. Dois anos depois da glória na Euro-1972, os germânicos seriam campeões do mundo, em casa, diante de uma das melhores seleções da história — a Holanda do carrossel, de Rinus Michels, de Cruyff.

A melhor Alemanha de todos os tempos — na opinião de Christofer Clemens — tinha Sepp Maier no gol, Beckenbauer e Breitner na zaga, Jupp Heynckes — aquele técnico que ganhou tudo à frente do Bayern de Munique em 2011/2012 — no meio de campo e um centroavante fora de série: Gerd Müller. Sob a batuta de Helmut Schön, foram duas finais de Copa (1966 e 1974), um terceiro lugar (1970) e duas decisões de Euro (1972 e 1976). O treinador revolucionou o estilo de jogo germânico. A técnica e a tática tornaram-se aliadas da força física. Dois anos depois, a Alemanha conquistava, em casa, a Copa de 1974.

Então tá bom, turma do barrado do elevador. Se o analista de desempenho do Joachim Löw elegeu a Alemanha de 1972 a melhor de todos os tempos, e não a de 2014, quem sou eu para discordar.

*Coluna publicada nesta segunda-feira no Correio Braziliense