53194819195_10bf1bbe94_c Rafinha abraça Calleri: peças-chave na vitória do São Paulo no Maracanã. Foto: Rubens Chiri/SPFC Rafinha abraça Calleri: peças-chave na vitória do São Paulo no Maracanã. Foto: Rubens Chiri/SPFC

Simplicidade tática do São Paulo mina futebol acéfalo do Flamengo

Publicado em Esporte

O São Paulo fez com um atacante o que o Flamengo não conseguiu com três no primeiro jogo da final da Copa do Brasil neste domingo, no Maracanã: gol. Dorival Júnior apostou na simplicidade tática, o velho feijão com arroz servido por ele mesmo no Flamengo, no ano passado, para superar o estilão gourmet de Jorge Sampaoli e levar a vantagem do empate ao Morumbi no duelo da próxima semana, às 16h, em São Paulo.

 

Mais engajado com trabalhos autorais, ou seja, o sucesso das próprias ideias mirabolantes, do que com a conquista de títulos, Sampaoli mais uma vez inventou uma escalação desconectada da realidade rubro-negra. Em vez de utilizar, por exemplo, o que havia funcionado na vitória contra o Botafogo no Brasileirão, ele preferiu mais uma vez reinventar a roda sem o mínimo de entrosamento entre os escolhidos para iniciar o jogo.

 

Bruno Henrique, Gabriel Barbosa e Pedro iniciaram uma partida juntos apenas duas vezes no histórico do trio com a camisa rubro-negra. Não é proibido usá-los, mas há necessidade de articulação para conectá-los. Impossível sem o lesionado Arrascaeta e Everton Ribeiro sentando no banco de reservas no primeiro tempo. Sobrecarregado na armação diante de uma péssima exibição de Victor Hugo, Gerson se desdobrou do início ao fim do confronto na tentativa de ser onipresente. Obviamente não conseguiu. Gabriel deslocava-se da direita para o meio na tentativa de auxiliá-lo, porém a péssima fase do camisa 10 não permitiu.

 

Inteligente na proposta de jogo, Dorival Júnior convidou o Flamengo para batalhas no setor em que o time rubro-negro era inferior — o meio de campo. Aos poucos, minou os donos da casa e silenciou a torcida rubro-negra. Temperado em um feijão com arroz no sistema 4-2-3-1, conseguiu bugar as ideias do comandante argentino. O desenho 4-3-3 alternado para 3-4-3 ofensivamente não funcionou por vários motivos: Pablo Maia e Alisson ganhavam os duelos no setor criativo. Rodrigo Nestor explorou as costas de Wesley. Consequentemente, Sampaoli era incapaz de espetar os laterais no apoio ao trio de ataque. Até mesmo a válvula de escape rubro-negra estava domada. Rafinha colocou Bruno Henrique no bolso.

 

O lance do gol de Calleri estava desenhado no primeiro tempo. O São Paulo partiu com a bola dominada mais de uma vez pela direita do ataque enquanto pelo menos dois jogadores pediam preferência no passe livres de marcação do outro lado do campo. Um deles era invariavelmente Rodrigo Nestor. O time tricolor trabalhava a bola na frente da área do Flamengo com extrema facilidade. Faltava um último toque caprichado para abrir o placar.

 

Acionado aberto na esquerda no fim do primeiro tempo, Rodrigo Nestor teve um latifúndio pela frente para dominar a bola, erguer a cabeça e cruzá-la na medida para Jonathan Calleri cabecear com perfeição no fundo da rede de Matheus Cunha. O goleiro e o lateral Ayrton Lucas foram mal no lance.

 

Por sinal, o dono das traves do Flamengo foi um dos personagens do primeiro tempo. Tocou na bola 27 vezes em 51 minutos. Na prática, o time acionou o dono das traves praticamente uma vez a cada dois minutos. A síntese de uma equipe sem saída de bola, acéfala no meio de campo e inofensiva na frente. Rafinha vigiava Bruno Henrique, Arboleda e Beraldo davam conta de Pedro e Gabriel Barbosa circulava muito distante da área tricolor.

 

O técnico do Flamengo tentou corrigir os erros no intervalo ao sacar Victor Hugo e inserir Everton Ribeiro no time. O meia pouco mudou o cenário. Não havia dinâmica de jogo capaz de fazer a bola chegar nos três atacantes. A posse de bola era trabalhada com cruzamentos em série para a área ou chutes desesperados de longa distância.

 

O São Paulo escolheu se encolher. Aguardava por um erro rubro-negro para contra-atacar. Dorival Júnior desperdiçou a oportunidade de resolver a partida no Maracanã. A desorganização do Flamengo e os nervos à flor da pele da torcida criaram um ambiente para que isso fosse possível. Aparentemente, o São Paulo cansou da forte marcação na etapa inicial. Trocou peças importantes como Lucas por Luciano. Bem posicionado, o São Paulo viu o tempo passar. Sofreu pouco. Pedro finalizou fraco em uma cabeçada. Cebolinha entrou no lugar do lesionado Gabriel, invadiu a área pela esquerda e se enrolou todo.

 

Bom para o São Paulo. No próximo domingo, o tricolor tem a vantagem do empate para finalmente colocar a Copa do Brasil na sala de troféus. Ao Flamengo, resta vencer por 1 x 0 para forçar a decisão nos pênaltis ou por dois para o título direto. Não basta fazer reunião a portas fechadas e muito menos oferecer metade da premiação pelo título da Copa do Brasil ao elenco. Sem futebol, o Flamengo sairá do Morumbi vice-campeão no próximo domingo.

 

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