Lembranças tão pequenas do cinquentão Romário

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Quando Papai do Céu olhou pra ele, em 29 de janeiro de 1966, disse:

“Romário de Souza Faria, você é o cara”

O cara que me fez sonhar, criancinha, com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul-1988.

Ah, aquele gol aos 30 minutos do primeiro tempo na final contra a União Soviética…

Malditos Dobrovolski e Savichev! Eles impediram que Romário fosse herói pela primeira vez.

Romário, o cara que fez uma criança — eu — torcer muito por ele na Copa América de 1989.

Ao menos dois jogos não saem na memória. Primeiro, aquele 2 x 0 diante da Argentina.

Depois, o gol do título diante do Uruguai, encerrando 40 anos de jejum de título do Brasil no torneio.

Romário, o cara que deixou uma criança triste a 16 dias de seu aniversário de 12 anos.

Atingido por um carrinho de Marco Gentile em um jogo do PSV no Campeonato Holandês, quase ficou fora da lista de Sebastião Lazaroni para a Copa do Mundo de 1990. Ele era figurinha carimbada do meu álbum da Copa.

Romário até foi para o Mundial da Itália, mas era melhor não ter ido. Estava meia bomba e foi reserva.

Romário, o cara que Carlos Alberto Parreira ousou deixar fora da Seleção nas Eliminatórias.

Mas que mostrou ser, mesmo, o cara, ao fazer os dois gols da classificação diante do Uruguai em 1993.

O cara que exorcizou o risco de o Brasil ficar fora da Copa do Mundo de 1994.

O cara que ganhou a Copa de 1994.

Foi o cara que fez aquele gol na vitória sobre a Rússia por 2 x 0.

O cara que finalizou com classe na partida contra Camarões depois daquele lançamento lindo do Dunga.

O cara que usou o bico da chuteira para impedir a derrota para a Suécia e vazar o goleiro Ravelli.

O cara que arrancou com a bola dominada no 4 de julho dos EUA, deu passe para Bebeto estragar o Independence Day, foi abraçado pelo melhor parceiro de ataque de sua carreira e ouviu: “Eu te amo”.

Romário, o cara que fez gol e encolheu o bumbum no chute de Branco contra a Holanda.

O cara que venceu os gigantes da Suécia na semifinal e usou a cabeça para levar o Brasil à final depois de 24 anos de espera.

O cara que acertou a trave na decisão por pênaltis contra a Itália e deu frio na minha barriga antes de a bola entrar no gol de Pagliuca.

O cara que banhou a taça de lágrimas na conquista do tetracampeonato…

Que abriu a janelinha do avião da Varig aqui em Brasília e balançou a bandeira do Brasil no início daquele inesquecível desfile dos tetracampeões pelas ruas da cidade.

O cara que se tornou, em 1994, o primeiro brasileiro eleito melhor do mundo pela Fifa.

E que depois deu as costas ao Barcelona para vestir a camisa do Flamengo no centenário do clube.

Romário, o cara do pior ataque do mundo ao lado de Sávio e Edmundo.

Romário, o cara que deixou o Brasil com o coração na mão antes da Copa de 1998.

Acordei triste com a notícia do corte do Baixinho lá na França.

Da dupla Ro-Ro, só sobrou Ronaldo, o Fenômeno, na campanha do vice.

Romário, o cara daquela histórica virada com a camisa do Vasco na Copa Mercosul.

O cara do inesperado abraço no desafeto Edmundo em uma exibição de gala da dupla contra o Manchester United no Mundial de Clubes.

O cara que parou o Brasil no milésimo gol da carreira, em São Januário, contra o Sport.

O cara que mereceu — e muito — aquela despedida da Seleção Brasileira contra a Guatemala, no Pacaembu.

O Peixe que tentou ser técnico, mas logo descobriu que aquela não era sua praia.

O cara que perdoou Zico e fez questão de jogar com Galinho no Maracanã no Jogo das Estrelas.

O cara que, sem saber, me deu a primeira viagem internacional da minha vida.

Em 29 de janeiro de 2006, publiquei uma matéria sobre os 40 anos de Romário.

Pesquisei e separei 40 parceiros de ataque do Baixinho. Deu um trabalho danado…

Mas valeu a pena. Publiquei, à época, no caderno Torcida do Jornal de Brasília.

No texto, brincava com a música Mulheres, de Martinho da Vila.

Ganhei um concurso de melhor matéria e uma passagem para os Estados Unidos.

Lá fui eu, como diria Romário, sentado na janelinha…

Dez anos depois, Romário vira cinquentão neste 29 de janeiro de 2016.

A criança virou jornalista esportivo. Um pouco por causa dele.

Hoje, só posso agradecer ao Baixinho por ter me feito gostar de futebol.

Por um dia torcer por ele e no outro entrevistá-lo como jornalista formado.

No dia em que eu escrever um livro, você, Romário, será um capítulo à parte.

O cara da quase medalha de ouro em Seul-1988.

O cara da Copa América de 1989.

O cara do tetra na Copa de 1994.

O cara que vi jogar naquela Copa dos Estados Unidos…

E que, 16 anos depois, me deu entrevista na garagem do Estádio Soccer City, na África do Sul, mesmo sem eu ser um dos seus peixes.

O garoto que torceu por você em 1994 estava lá cobrindo a Copa do Mundo de 2010 pelo Correio Braziliense. De cara com o ídolo.

Minhas pernas tremeram, mas consegui falar a sós com ele em Johannedburgo sem ser tiete.

O mito completa hoje meio século de vida.

Vida longa ao craque Romário. Valeu, cinquentão Baixinho!

O político são outros 50. Ou melhor, 500… Prefiro esperar.