Três das quatro decisões internacionais em quatro anos foram com Jesus. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo Três das quatro decisões internacionais nos últimos quatro anos foram com Jesus. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Quatro finais internacionais em quatro anos: como os feitos de Rueda e Jesus fortalecem a convicção do Flamengo na contratação de técnico estrangeiro

Publicado em Esporte

O Flamengo escolheu trilhar um caminho aparentemente sem volta. Começou a apostar em técnicos estrangeiros com o colombiano Reinaldo Rueda na gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Houve uma longa pausa para revezar a prancheta entre Paulo César Carpegiani, Maurício Barbieri, Dorival Júnior e Abel Braga. Veio a era Jorge Jesus. Agora, o clube procura outro gringo para suceder o Mister. Vou dar uma prova de que o clube mais popular do mundo deu as costas para o mercado nacional. Nos últimos 10 anos, sete técnicos brasileiros diferentes conquistaram a Série A. Quatro estão desempregados: Abel Braga, Marcelo Oliveira, Cuca e Luiz Felipe Scolari. Nenhum deles está cotado para assumir o melhor time do país.

O inquestionável sucesso nas contratações de Reinaldo Rueda e Jorge Jesus aliada aos resultados virou fórmula rubro-negra. Graças ao colombiano e ao português, o clube disputou quatro finais internacionais em quatro anos. Perdeu o título da Sul-Americana em 2017, conquistou a Libertadores em 2019, foi vice no Mundial de Clubes contra o Liverpool e ganhou a Recopa Sul-Americana no duelo com o Independiente del Valle. Antes disso, Carlos Alberto Torres havia sido o último a comandar o Flamengo numa decisão continental. Perdeu a Copa Mercosul de 2001 nos pênaltis para o San Lorenzo. Carlinhos havia brindado o clube com a conquista inédita da competição na edição de 1999.

Embora o vice de futebol Marcos Braz diga “que não há preconceito e os técnicos brasileiros são maravilhosos”, ele está de malas prontas para abrir negociação com estrangeiros. Não há nada de errado nisso. É a nova política do clube e deve ser respeitada. Cabe à vitoriosa escola brasileira discutir por que nenhum profissional nacional é cogitado para tocar o legado de Jesus. A análise exclui Muricy Ramalho (aposentado), Tite (Seleção) e Fábio Carille (Al-Ittihad).

Campeão brasileiro em 2012 à frente do milionário Fluminense da era Unimed, Abel Braga dificilmente voltará um dia ao Flamengo. Além de desperdiçar a oportunidade de comandar o elenco estelar no primeiro semestre do ano passado e de colecionar desavenças com os cartolas rubro-negros, Abel fez péssimos trabalhos no Cruzeiro e no Vasco. Virou persona no grata no clube. Ameaça processar até quem o indicou ao cargo no início da gestão de Rodolfo Landim.

 

Quatro técnicos brasileiros campeões da Série A nos últimos 10 anos estão disponíveis no mercado, mas passam longe da corrida pela sucessão de Jorge Jesus no Flamengo: Luiz Felipe Scolari (2018), Cuca (2016), Marcelo Oliveira (2014 e 2013) e Abel Braga (2012). Fábio Carille (2017) trabalha no Al-Ittihad, Tite (2015 e 2011) está na Seleção e Muricy Ramalho (2010) virou comentarista

 

Marcelo Oliveira é outro campeão brasileiro desempregado. Fez trabalho brilhante no bi do Cruzeiro em 2013 e 2014. Everton Ribeiro foi um dos símbolos daquele timaço. O encanto acabou de repente. O técnico levou o Palmeiras ao título da Copa do Brasil na base da sorte em 2015 contra o Santos. Na sequência, não foi bem no Atlético-MG, Coritiba e Fluminense.

Alexi Stival, o Cuca, é quem mais teria facilidade para de adaptação ao legado de Jorge Jesus. Ao contrário de invejosos colegas brasileiros, elogiou com sinceridade o trabalho de Jesus. “Tem uma filosofia de jogo e conseguiu dar harmonia aos jogadores do Flamengo. Ele conseguiu fazer com que os jogadores tenham ambição de buscar a bola o tempo todo no ataque”, afirmou. Assim como Abel, Cuca teve passagens polêmicas pelo clube. Numa delas, a saída dele parece ter feito bem ao elenco. Andrade assumiu e levou o time ao título brasileiro de 2009.

Luiz Felipe Scolari brindou a torcida com a conquista da Série A em 2018. Soube usar todo o potencial oferecido pelo clube. Arrematou a taça com extrema facilidade usando times mistos e até reservas na reta final da competição. Parecia outro Felipão quatro anos depois do fracasso na Copa de 2014, mas o treinador teve dificuldade para reinventar o time alviverde em 2019. Perdeu o emprego depois de uma derrota por 3 x 0 para o Flamengo de Jorge Jesus. Em tese, o estilo “paizão” faria bem ao elenco rubro-negro, mas a filosofia de jogo é contrária à de Jesus.

A turma que pensa fora da caixinha no futebol brasileiro está empregada e também tem alguns pontos contrários. Rogério Ceni (Fortaleza) não conseguiu gerenciar crises e problemas de relacionamento no Cruzeiro. Isso estourou dentro do campo. Fernando Diniz (São Paulo) é irregular. Dá pinta de que encaixou o tricolor, porém, precisa de mais rodagem. Há quem guarda mágoa da esnobada de Roger Machado (Bahia) ao Flamengo quando foi convidado para assumir o time. Na época, ele alegou que não aceitava emprego com a temporada em andamento. Colocou na cabeça que só assumiria novo compromisso no começo da temporada. E há Renato Gaúcho, caso de amor não correspondido. Quando um quer, o outro briga e vice-versa.

O mercado nacional mais desanima do que anima a política do Flamengo a investir o rico dinheirinho em um treinador brasileiro para a sucessão de Jorge Jesus. Questão de escolha. O caminho adotado pelo clube carioca prefere olhar para o que acontece lá fora.

 

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