Bola Presidente Jair Bolsonaro durante encontro com os presidentes da Fifa, Gianni Infantino, e da CBF, Rogério Caboclo, no Palácio do Planalto.

Não tem mocinho | Coluna deste sábado no Correio Braziliense

Publicado em Esporte

Não há mocinho nas relações promíscuas entre política e esporte. Foi assim nas eras Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer. Continua descaradamente no governo Bolsonaro. Citei presidentes da Nova República. No regime militar então…

A transferência da Copa América da Argentina e da Colômbia para o Brasil é mais um episódio. O mais grave. Estamos em pandemia. O Brasil contabiliza mais de 470 mil mortes. Se você ainda crê em mocinhos, senta que lá vem a história.

Em 1994, Itamar fez vistas grossas ao voo da muamba no retorno do Brasil ao país depois do tetra nos EUA. O ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira contou à CNN Brasil, no ano passado, que ninguém queria vir a Brasília depois do penta na Copa de 2002. FHC desejava surfar na onda de Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Cafu, Roberto Carlos…

Coube ao então governador do Ceará, Tasso Jereissati, a missão de adular o cartola da CBF e convencê-lo a levar a delegação ao Palácio do Planalto para beijar as mãos de FHC. Vampeta deitou e rolou na rampa.

O governo Lula também colou no futebol. O Palácio do Planalto era casa de festa de campeões como o Corinthians, time do coração do petista. O clube “ganhou” até estádio impagável financiado pela Caixa. Jorrou dinheiro também para Pan (2007), Copa das Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e Jogos Olímpicos do Rio (2016).

Bolsonaro usa o futebol para plantar sementes do mal. Dividir. Um dos esportes dele é jogar clube contra clube, cartola contra cartola. Domar a CBF. Bagunçar transmissões. Aliou-se ao Flamengo para apressar a volta do futebol na pandemia. Assinou a MP do Mandante. Incendiou o parque, saiu correndo, viu o texto caducar no Congresso e acena com nova MP.

Perambula por estádios vendo jogos. Sim, direito dele. Ridículo é apoderar-se do sucesso alheio. Em 2019, abraçou a taça da Copa América no gramado do Maracanã como se fosse um dos 23 jogadores do elenco. Forçou amizade e viu Tite deixá-lo no vácuo.

Eis que, agora, Bolsonaro, num lance mal-ensaiado com o presidente da CBF, Rogério Caboclo, dá asilo à Copa América e tumultua o ambiente da Seleção. Não é à toa. Astuto, sabe que Tite é contra ele. Desaprova o governo. Mas Bolsonaro tem Caboclo nas mãos.

 

*Coluna publicada na edição impressa de sábado (5/6/2021) do Correio Braziliense