Mario Bittencourt Mário Bittencourt em campanha num restaurante do Lago Sul. Foto: Márcia Uchôa Mário Bittencourt em campanha num restaurante do Lago Sul

Entrevista: Mário Bittencourt. Um bate-papo em Brasília com o candidato a presidente do Fluminense

Publicado em Esporte

Candidato a presidente do Fluminense, Mário Bittencourt aprendeu a amar o clube ouvindo rádio e indo ao Maracanã com o pai, que havia se separado da mãe quando o filho tinha apenas quatro anos. Sócio desde a adolescência, iniciou a vida no clube como estagiário do departamento jurídico. Na época, foi entrevistado pelo ex-mandatário do clube, Peter Siemsen. O tempo foi passando… Foi diretor, sentou-se na cadeira de vice-presidente e ganhou até status de super-herói da torcida ao defender o tricolor no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) em 2013 no badalado Caso Héverton — um julgamento de repercussão nacional envolvendo o time de Laranjeiras, a Portuguesa e o Flamengo. Chegou a virar meme nas redes sociais: quando um clube perde ou ganha no tapetão logo aparece a brincadeira “chamem o advogado do Fluminense”.

Depois da separação dos pais, Mário Bittencourt morou com avós e tios maternos, em Vila Isabel. A maioria rubro-negros. O menino resistiu graças a um primo e ao tricampeonato carioca do Fluminense em 1983, 1984 e 1985, com direito a título brasileiro contra o Vasco. O gol de barriga na conquista do Carioca de 1995 aumentou a paixão e impulsionou um sonho: assumir a presidente do Fluminense Football Club.

Na semana passada, o candidato esteve em campanha num restaurante do Lago Sul. Mais de 100 sócios conheceram o plano de governo durante três horas de “comício”. Nenhum deles arrastou o pé do salão. Democrático, o evento foi aberto a perguntas, terminou com distribuição de camisas de campanha, fotografia e até o hino do clube cantado à capela.

Depois do evento, Mário Bittencourt driblou o assédio dos fãs e conversou com o blog. Fá número 1 Fred, prometeu recontratar o centroavante e revelou que sonha com outros três ex-jogadores tricolores: Thiago Neves, amado por Celso Barros, candidato a vice na chapa dele; Thiago Silva e o lateral-esquerdo Marcelo. O discurso é que o Fluminense precisa resgatar os ídolos. No bate-papo, chegou a se render ao Flamengo e apontou em que o clube rubro-negro pode inspirar a administração dele em caso de vitória nas urnas.

 

Campanha em Brasília
O Fluminense é um dos clubes que abre a possibilidade de sócios-torcedores de fora do Rio votarem. Eu fiz campanha aqui em 2016, tive muitos votos aqui em Brasília, Espírito Santo, São Paulo. Óbvio que o maior colégio eleitoral é o Rio, mas Brasília tem uma boa representatividade também.

 

Colégio eleitoral
Talvez, Brasília seja a quarta cidade com mais sócios. Primeiro vem Rio, Niterói, Espírito Santo, São Paulo e Brasília. É por isso que a gente vem sempre aqui. O sócio de Brasília é muito engajado. São pessoas que vieram do Rio para cá a trabalho. Por isso, prestigiamos os tricolores aqui de Brasília.

 

Caça ao Flamengo
O potencial de crescimento do Fluminense está parelho com Botafogo e Vasco, mas, dos três, é o que mais tem condição de sobressair e encostar no Flamengo. Em termos financeiros não para comparar, hoje, com o Flamengo. O Fluminense tem uma história recente importante de títulos, vitórias. Temos potencial para assumir essa liderança.

 

Desenvolvimento do potencial
O principal ativo é o nosso torcedor. Quero fortalecer o programa de sócio-futebol. Isso vai fazer com que a gente tenha uma grande receita. Resumidamente, o sócio-futebol tem que ser hoje a nossa maior receita.

 

O potencial de crescimento do Fluminense está parelho com Botafogo e Vasco, mas, dos três, é o que mais tem condição de sobressair e encostar no Flamengo. Em termos financeiros não para comparar, hoje, com o Flamengo. O Fluminense tem uma história recente importante de títulos, vitórias. Temos potencial para assumir essa liderança.

 

Revolução tricolor
A gente precisa se organizar como empresa, fazer o básico. Implementar pilares de governança corporativa, transparência, compliance. Isso do ponto de vista administrativo. No futebol, voltar a montar time forte para atrair investidores, patrocinadores, especialmente para termos o torcedor de volta pagando a mensalidade do sócio futebol e enchendo os estádios. Então, é reforma administrativa do clube, modernizá-lo. A nossa administração é muito arcaica. No futebol, a gente precisa repatriar os ídolos para a gente voltar a ter o torcedor do nosso lado.

 

Casa cheia para ouvir a palestra do candidato a presidente. Foto: Roberto Silveira

 

Dívida de R$ 629 milhões
Assusta, mas eu estive lá por quase 20 anos fazendo meu serviço como advogado. Isso faz com que eu conheça o perfil das dívidas e tenha todos os meios para administrá-las, principalmente, hierarquizando, tendo a possibilidade de escolher o que é mais importante, urgente no momento.

 

Alternativas

Temos que reequacionar dívidas. Hoje, só se alguém chegasse e colocasse R$ 800 milhões no Fluminense. Isso não vai acontecer. Temos que reequacionar, ganhar fluxo de caixa e criar ferramentas para amortizá-la ao longo do tempo. Há projetos de lei aqui em Brasília sobre a transformação do futebol, ou seja , a S/A do futebol, uma coisa importante para ser discutida, podemos caminhar para isso.

 

Lição do Flamengo
Não podemos comparar receitas. A deles é muito maior. Isso faz com que eles tenham uma facilidade maior de colocar a casa em ordem. O que podemos pegar do Flamengo é a organização da parte administrativa e financeira. Eles fizeram um bom trabalho nisso e a gente precisa fazer também.

 

Cotas de televisão
Queremos brigar pelo aumento de cotas e a distribuição igualitária, mais igualitária do que é. Eu defendo o modelo da Premier League (Campeonato Inglês), ou seja, 50% dividido igualmente, 25% por tamanho de torcida e 25% por performance. Esse é o modelo mais justo para o futebol brasileiro. Temos 13 grandes entre os 20 que disputam a primeira divisão, então, pra mim, o melhor modelo seria esse, readequação da distribuição de cotas.

 

Presente para a torcida? Só pode ser um? Se eu tivesse que escolher um só seria o Fred no momento. Se eu pudesse trazer mais de um, eu e o Celso Barros gostamos do Fred, do Thiago Neves e do Thiago Silva. Gosto muito do Marcelo também. Bota os quatro (risos). Mas a maior vontade que eu tenho é o Fred

 

Reforços
Presente para a torcida? Só pode ser um? Se eu tivesse que escolher um só seria o Fred. Se eu pudesse trazer mais de um, eu e o Celso Barros gostamos do Fred, do Thiago Neves e do Thiago Silva. Gosto muito do Marcelo também. Bota os quatro (risos). Mas a maior vontade que eu tenho é o Fred.

 

Montagem do time

Não dá para montar uma máquina, mas também não podemos ter um time medíocre. Temos que encontrar o equilíbrio, um meio do caminho para ganhar títulos, criar ciclos, colocar o sócio futebol para dentro, pagar dívidas, fazer time, pagar dívidas, fazer time…

 

Maracanã: sociedade com o Flamengo
Acredito que vai dar certo. A nova diretoria que assumiu lá é bastante capacitada, entende o futebol como um negócio de todos os clubes. O Fla-Flu é o clássico mais tradicional e famoso do mundo. A gente ter o Maracanã juntos é muito bacana e eu espero contar com a parceria deles, obviamente tendo o Fluminense em igualdade de condição, inclusive, na maneira como se coloca não somente na parte da mídia, mas na relação com o governo.

 

Casa própria
A gente precisa falar sobre o que é urgente, não apenas sobre o que é importante. No futuro, é importante, sim, o Fluminense pensar na viabilidade de um projeto para ter um estádio, mas, hoje, a casa do Fluminense é o Maracanã. A revitalização das Laranjeiras seria importantes para jogos de menor porte.

 

Mário Bittencourt prometeu aos sócios do DF manter Fernando Diniz no Fluminense. Foto: Márcia Uchôa

 

Fernando Diniz e Paulo Angioni

Nós estamos extremamente satisfeitos com o trabalho de ambos. Estão conseguindo fazer dentro do pouco que o Fluminense tem um bom trabalho. A maioria pensa assim, entende isso. O Fernando Diniz é um treinador futurista realmente. Eu e o Celso Barros assistimos aos jogos juntos e gostamos muito. Como diz o Edmundo, que é meu amigo, não se faz omelete sem ovos. Ele não tendo um grande elenco não disputará na ponta do Campeonato Brasileiro por pontos corridos. Esperamos que o trabalho seja de longo prazo.

 

Plano de metas

O que eu acho que está errado no futebol é que não damos meta para os treinadores. A gente tem discutido isso. Vamos entrar, então vamos dar uma meta para o cara com as condições que ele tem. É perguntar para ele: com esse elenco você consegue chegar aonde? Ele tem que me dizer. A receita do futebol vem também de ganhar jogo e competições. Não adianta ignorar o fato de que o Fluminense foi eliminado pelo Avaí e perdeu oportunidade de ganhar R$ 70 milhões de prêmio. Temos que olhar o clube como administramos uma empresa. Se não estiver trazendo resultado, talvez, no futuro, a gente terá que mexer.

 

Centro de treinamento
Temos que concluir o centro de treinamento, modernizá-lo cada dia mais. É uma ferramenta muito importante para que o Fluminense possa evoluir. As portas estarão abertas não somente ao Pedro Antônio (investidor do CT), mas a qualquer tricolor que esteja disposto a contribuir com o Fluminense.

 

Presidente do Fluminense
Se eu ganhar a eleição, é um sonho que se realizará. Sou tricolor desde que nasci. Tenho fotos dentro de campo com o Paulo Victor, aos nove anos de idade. Então, é um sonho de criança, mas não de um aventureiro. Eu comecei lá dentro aos 19 anos como estagiário do departamento jurídico, já era sócio desde os 13. Estou prestes a fazer 41. Tenho mais da metade da minha vida dedicada ao Fluminense. Fui advogado por muitos anos e conheço o clube. Estou preparado para o desafio.

 

 

Futebol feminino

Hoje, é obrigatório por lei. Se você não tiver o futebol feminino é excluído dos parcelamentos fiscais. Tem que haver um esforço nacional. Não adianta só o Fluminense fomentar o futebol feminino. A Confederação Brasileira de Futebol também tem que fazer a parte dela para transformar isso num bom produto. Temos jogado nas Laranjeiras para 500, 600 pessoas. Com investimento forte podemos ter um time forte também nessa área.

 

Presidente-ídolo da torcida
O julgamento de 2013 do caso da Portuguesa, a escalação irregular do Héverton, foi transmitido para o Brasil inteiro e trouxe uma exposição naquele momento que fez com que a torcida pudesse ver o meu trabalho. Eu sempre fui um defensor da instituição, independentemente de ser advogado. Isso está incorporado em mim desde que nasci. O que eu percebo é que as pessoas esperam muito de mim essa defesa do clube. Podem ter certeza de que isso vai acontecer.

 

Chapa com Celso Barros
A gente havia sido candidato de oposição em 2016, eu com uma candidatura e ele com outra. A gente entendeu que tinha que estar junto. Nós temos uma história grande no Fluminense, pensamos muito parecido, principalmente em relação ao futebol. O que eu espero dele é que possa trazer toda a vasta experiência e relacionamento que ele tem no futebol para ajudar a gestão no carro-chefe, que é o futebol. Pode captar muita ajuda, patrocínio e o respeito do mercado ao Fluminense. Ele trará a credibilidade de volta.

 

 

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