52654449917_01672cb264_c Elenco do Palmeiras comemora título da Supercopa. Merecido por postura mais completa em campo - Foto: Cesar Greco/Palmeiras

Em final “padrão” Supercopa, Palmeiras faz comprometimento valer taça

Publicado em Esporte

Por Danilo Queiroz

Entregar pouco em emoção e disposição não é uma característica da Supercopa do Brasil. Desde a retomada da disputa, em 2020, o torneio de abertura da temporada nacional correspondeu ao tamanho da moral dos times em campo. Campeões em 2022, Palmeiras e Flamengo brindaram os torcedores brasilienses, no Estádio Nacional Mané Garrincha, com um 4 x 3 de tirar o fôlego. No fim, Abel Ferreira encontrou os melhores caminhos para manter o comprometimento da equipe e guiar o alviverde na direção do troféu.

Nem Palmeiras, nem Flamengo, foram tecnicamente perfeitos na primeira atuação de maior grau de exigência do ano. Paulistas e cariocas erraram, principalmente, em termos defensivos. Os dois campeões do país apresentaram equívocos de recomposição cruciais em momentos importantes de uma decisão. Mas o brasileiro, em termos geral, gosta mesmo de final movimentada e com quantidade de gols digna daquela pelada de fim de semana. Nesse quesito, os dois times entregaram bastante.

Depois de amargar dois vice-campeonatos em Brasília, em 2021 (a Supercopa, diante do mesmo Flamengo, e a Recopa Sul-Americana, contra o argentino Defensa y Justicia), o Palmeiras fez as pazes com a cidade, se utilizando do poder de hegemonia do campeão do Brasileirão sob o da Copa do Brasil. Em seis edições do torneio, cinco vezes o dono do título do principal torneio do futebol nacional começou a temporada comemorando um troféu.

No duelo tático de treinadores portugueses entre Abel Ferreira e Vitor Pereira, o alviverde levou vantagem durante a maior parte do duelo de ideias. Longe de mostrar um futebol primoroso. Porém, o alviverde estava mais intenso e coordenado. Encaixotou o poderoso ataque flamenguista e deu pouco espaço para as individualidades afloradas de armação de Everton Ribeiro, Gerson e Arrascaeta. Espaçado além do normal, o time carioca ficou incomodado e, consequentemente, menos perigoso em campo.

Prova disso foram as batidas de cabeça da defesa rubro-negra em saídas de bola, protagonizadas por Santos e Thiago Maia. A linha alta de marcação do Palmeiras trouxe nítidos problemas até Arrascaeta ser derrubado na grande área. O pênalti, aproveitado por Gabigol na habitual categoria, mudou o cenário por alguns minutos. O Flamengo aparentou mais tranquilidade para rodar a bola até uma precipitação de David Luiz ser crucial. O corte no chute de Dudu de fora da área não era tão necessário. Não havia perigo para o goleiro Santos.

Raphael Veiga não tinha nada com isso e, oportunista, devolveu o Palmeiras para a decisão. E também no viés psicológico, tão ressaltado por Abel Ferreira na semana antes da decisão. O camisa 23 do alviverde reforçou, ainda, um laço de sorte com o Brasília. Em duas finais de Supercopa contra o rubro-negro na cidade, colocou três bolas na rede. Nos acréscimos, Gabriel Menino deu a vantagem aos paulistas em chute potente. Merecido pela postura mais completa em campo.

No papel, Vitor Pereira tinha mais a oferecer no segundo tempo pela quantidade de opções para alterar a forma de jogo do Flamengo. A tática de retomada começou no intervalo com todos os reservas no vestiário, enquanto os palmeirenses aqueciam. Com o aprendizado do clássico zerado diante do São Paulo, Abel Ferreira tinha a missão de se virar com menos opções técnicas para não perder mais uma decisão no Mané Garrincha. Conhecedor do elenco, o português soube como fazer o serviço.

A rotação do Flamengo após o intervalo foi outra. O time reativou as combinações ofensiva gravadas na memória de cada um dos membros do ataque. Em uma delas, Everton Ribeiro viu Gabigol avançar no tempo certo. O empate veio em toque sutil de cobertura. No primeiro jogo no quintal de casa na carreira, o brasiliense Endrick cumpria mais função tática do que decisiva. A promessa teve um importante duelo particular interessante e de aprendizado contra o experiente David Luiz. Levou a melhor em algumas e foi facilmente desarmado em outras.

Sem o encalço de David, chapelou Everton Ribeiro na área em lance de técnica apurada e conseguiu pênalti com toque de mão desnecessário e afobado do camisa sete — o drible foi em direção contrária ao gol. Veiga cobrou bem, fez o segundo dele no jogo e o quarto na capital. Pouco depois, Pedro deu uma mostra do motivo de ser o melhor nove do país. O centroavante rubro-negro estava apagado em termos de oportunidade até tirar um toque de calcanhar da cartola para aproveitar e, novamente, deixar tudo igual no Mané Garrincha.

O movimentado 3 x 3 com o relógio avançado no segundo tempo deu a Vitor Pereira a falsa impressão de que a qualidade superior do elenco rubro-negro seria suficiente para conseguir o resultado a partir do cansaço alviverde. Ligado nas nuances do jogo, Abel Ferreira recompôs primeiro. Sacou Endrick e colocou Mayke para impedir os avanços rubro-negros pelo lado esquerdo com Ayrton Lucas. E viu o destino sorrir a seu favor quando Gabriel Menino consolidou a tarde mais artilheira da carreira ao marcar duas vezes no mesmo jogo pela primeira vez. No contexto da decisão, foi o gol do título.

Quando resolveu mexer, Vitor Pereira não fez diferença no jogo. Foram duas mudanças de recomposição de posição e outras duas na tentativa de colocar o time para frente. Abel, por outro lado, tinha uma questão menos densa para solucionar. Soube segurar o resultado ao, basicamente, reforçar e recomposição defensiva para não tomar nenhum susto de grande proporção ao título e, enfim, quebrar a sina de azar em Brasília. O português ainda foi expulso nos últimos minutos, mas teve muitos motivos para comemorar uma atuação onde entregou mais do que o adversário.