Da dor na Série D ao tri candango: como o Ceilândia curou Adelson de Almeida

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Adelson de Almeida pensou em largar o Ceilândia e a profissão depois da eliminação na Série D 2023. Foto: Ed Alves/CB.DA PRESS


A conversa aconteceu um dia depois da eliminação do Ceilândia nos pênaltis nas oitavas de final da Série D do  Campeonato Brasileiro do ano passado contra o Caxias-RS, no Abadião. O técnico Adelson de Almeida estava arrasado. O time tinha futebol para avançar às quartas de final, o penúltimo passo antes do acesso à Série C. O sonho ficou pelo caminho. Estava adiado. 

 

Perguntei ao Adelson de Almeida qual era o sentimento dele depois da eliminação contra o Caxias. A resposta foi forte. “Ainda tentando curar o luto da derrota e tentando descansar um pouco”, desabafou o técnico do Ceilândia. 

 

O baque foi grande. Adelson pensava em largar a prancheta. Dar um tempo. Desapontado, afirmou: “Foi uma fagulha de esperança. Nos encheu de alegria e esperança. Pretendo dar uma pausa. Entendo que um outro merece uma oportunidade. Eu já estou há muito tempo amadurecendo isso. É questão de ter contribuído de alguma forma com o futebol de Brasília. Não é só energia, é questão de motivação”, argumentou.

 

Homem de muita fé, Adelson condicionou a sequência do trabalho ao sobrenatural. Continuaria no cargo somente se alguém muito além dele determinasse. “Se meu corpo e meu coração não sentir falta é porque chegou a hora de dar adeus, mas os  planos de Deus são maiores que os meus”, ponderou o comandante alvinegro.

 

Ao que parece, Deus tinha um plano de restituição para Adelson. O técnico desistiu de desistir. Permaneceu no cargo em 2024. O Ceilândia não era favorito ao título, mas tinha casca grossa. A experiência de ter virado time copeiro. Eliminou Londrina e Avaí na Copa do Brasil de 2022. Duelou com Santos e Botafogo no mata-mata nacional. Foi goleado por 5 x 1 pelo Capital na primeira fase do Candangão neste ano, porém usou o resultado como terapia para a arrancada rumo ao tricampeonato.


O primeiro sinal de recuperação foi tomar o segundo lugar do Gama na fase classificatória. A vantagem de jogar a partida de volta no Abadião nas semifinais fez toda a diferença. O Ceilândia passou com autoridade pelo alviverde. Conseguiu vaga para Copa do Brasil, Copa Verde e Série D em 2025. Com calendário garantido, ficou leve para se concentrar na missão de deter o Capital na decisão do título.

 

Mesmo com orçamento menor e modelo de gestão associativo enquanto o Capital é uma SAF, o Ceilândia resistiu. Saiu atrás no placar na primeira partida, mas empatou e equilibrou a decisão para o segundo jogo. O Ceilândia aprendeu a enfrentar o Capital. O adversário preparou armadilhas como o 2-3-5 na etapa final, com inversões de posição em relação ao primeiro tempo. Humilde, o Ceilândia admitiu a inferioridade técnica em alguns setores e fez da defesa a maior virtude. Defendeu-se com uma linha de cinco e outra de quatro homes. Congestionava a área a fim de diminuir o poder ofensivo do Capital.

 

”Depois daquela derrota por 5 x 1 fiquei pensando se o resultado dizia muito do Capital em relação ao Ceilândia ou do Ceilandia em relação ao Capital. A nossa consistência defensiva fez com que eles perdessem um pouco  da força ofensiva. Quando você tem uma dessa que não leva gol, um time equilibrado, fica sempre mais perto da vitória. Baixamos as nossas linhas e fizemos jogos de igual para igual dentro das nossas possibilidades”, disse Adelson ao blog em um bate-papo tático depois da final.

 

Funcionou. O Ceilândia poderia ter decidido o jogo na chance inacreditável desperdiçada por Cabralzinho aos oito minutos do primeiro tempo, mas estava escrito: o tricampeonato viria nos pênaltis. O tempo foi passando e um trauma também. O Gato havia sido eliminado nas penalizes pelo Caxias na Série D e pelo Brasiliense na Copa Verde. Mas, como disse Adelson ao ponderar sobre a saída, Deus havia preparado um final feliz para ele. O goleiro Thiago Santos virou anjo da guarda. Defendeu quatro cobranças no triunfo por 4 x 3! A última delas redimiu o técnico Adelson de Almeida. Lavou a alma de quem desistiu de desistir. Ele é tricampeão candango. O treinador do primeiro (2010), do segundo (2012) e do terceiro título do Ceilândia (2024). Uma linda história digna de um livro. Parabéns, Adelson. Parabéns, Ceilândia e Capital pelas belas campanhas. Jogando limpo.

 

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