52260106930_4bf4cfce4d_c Gabi comemora sétimo gol em 17 jogos contra o Corinthians. Foto: Marcelo Cortes/Flamengo Gabi comemora sétimo gol em 17 jogos contra o Corinthians. Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Como os remanescentes do bi em 2019 construíram a vantagem do Flamengo contra o Corinthians

Publicado em Esporte

O Flamengo venceu o Corinthians por 2 x 0, em São Paulo, no primeiro jogo das quartas de final da Libertadores, com quatro jogadores remanescentes da escalação de gala da conquista do bicampeonato continental, em 2019: o lateral-esquerdo Filipe Luís, os meias Everton Ribeiro e Arrascaeta e o atacante Gabriel Barbosa. Se Paulo Sousa reclamava da falta de apetite do elenco, o técnico Dorival Júnior recuperou não somente a fome, mas a vontade de degustar vitórias e voltar a saborear títulos  dos quatro personagens imprescindíveis para a construção da vantagem nesta terça, na Neo Química Arena. 

 

O Corinthians começou a partida formando blocos compactos de marcação. Dificultou a saída de bola. Obrigava David Luiz e Léo Pereira a tocar a bola entre eles e especulava que um deles erraria em algum momento. Léo falhou, Mosquito finalizou, mas o goleiro Santos estava ligado no lance e evitou o gol alvinegro. Os muros construídos pelo técnico Vítor Pereira minavam o lado direito do ataque rubro-negro e obrigava o time a inverter muitas bolas em busca do lateral-esquerdo Filipe Luís. Como ainda não há dinâmica de jogo consolidada daquele lado, o time de Dorival Júnior sofria com lançamentos errados que se perdiam pela linha lateral ou com a falta de apoio devido ao jogo concentrado na direita. 

 

A tática “ninguém solta a mão de ninguém” do Corinthians foi cansando. Quem não tem a posse de bola também fica exausto. Correr atrás desgasta e as brechas apareceram. A mente brilhante de Arrascaeta fez a leitura de jogo. Explorou as costas dos volantes e os espaços começaram a aparecer. Ironicamente, o primeiro gol saiu em um lance construído no lado esquerdo, onde estavam João Gomes e Arrascaeta — autor de um belíssimo chute no ângulo. Um detalhe diferencia os craques. O meia uruguaio estava de costas na hora do arremate, mas sabia exatamente onde estava e consciente do desfecho da finalização. 

 

Enquanto Arrascaeta levava o plano de jogo de Vítor Pereira ao chão, Everton Ribeiro pisava nos entulhos do muro com a bola grudada no pé. A marcação do Corinthians não conseguiu mais encontrá-lo. O meia partia em velocidade e dava muita intensidade ao Flamengo nas ações ofensivas. Paralelamente, auxiliava muito nos botes ao Corinthians para a retomada da bola. Uma prova de que entendeu e comprou os conceitos de Dorival. 

 

Há quem insista em sacar Everton Ribeiro do time. Cada louco com sua mania. Acho o camisa 7 muito acima da média. Joga para o time. Era o menos badalado nos tempos do quarteto formado com Bruno Henrique, Gabigol e Arrascaeta, mas não tinha uma gota de vaidade e nenhum complexo por carregar o piano e ser o menos badalado. Foi para o sacrifício na passagem de Paulo Sousa pelo clube, colocou em risco a ida à Copa ao tolerar o papel de ala-esquerdo, e agora é premiado por Dorival Júnior em uma função que devolve a possibilidade de ser chamado por Tite para fazer parte da lista final de 26 jogadores.

 

Mais dedicado ao time do que a si faz tempo na versão Gabriel Barbosa, o camisa 9 ativou o modo Gabigol no início do segundo tempo auxiliado pelo passe de Rodinei e a trapalhada de Balbuena. Lá da tribuna de honra, Tite, que certamente foi ao estádio avaliar o centroavante Pedro, viu o concorrente Gabi partir da direita para o meio, ajeitar a bola para a perna esquerda — a preferida — e acertar o canto direito do goleiro Cássio.

 

Arrascaeta, Everton Ribeiro e Gabigol apareciam e Filipe Luís carregava o piano ali no cantinho esquerdo acertando a saída de bola. Segundo dados do SofaScore, ele acertou 95,8% dos passes. Foi eficiente em quatro de cinco lançamentos longos, sofreu três faltas e fez quatro desarmes. Protegido por Thiago Maia e João Gomes e pela recomposição dos demais colegas, Filipe Luís voltou a ser uma peça fundamental no desafogo. É a válvula de escape quando o time está com dificuldade para fazer a saída de bola a três.

 

A tendência é que o futebol de Filipe Luís cresça à medida em que Everton Cebolinha for conquistando espaço entre os titulares. Vale lembrar que ambos fizeram duelo na esquerda em alguns trechos da Copa América de 2019, no Brasil. Alex Sandro era o titular de Tite, mas Filipe Luís treinou com Cebolinha naquele corredor e conhece os movimentos do atacante recém-contratado. Logo, o setor pode passar em breve por um upgrade. Pior para os adversários. Para eles, bom seria que o Flamengo continuasse escravo do lado direito. 

 

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