Conselho Rogério Caboclo: "Vocês estão f... se parar o campeonato", disse aos clubes. Foto: Lucas Figueiredo/CBF Rogério Caboclo: "Vocês estão f... se parar o campeonato", disse aos clubes. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Ao humilhar clubes, Caboclo dá passe milimétrico para criação da liga. Mas cadê o líder da revolução?

Publicado em Esporte

O vídeo obtido pelo colega Venê Casagrande publicado em “O Dia” com trecho da reunião virtual do último dia 10 de março é um passe na medida para os clubes, enfim, se unirem, e transformarem o Campeonato Brasileiro em algo bem mais interessante, uma liga nacional nos moldes de La Liga (Espanha), Bundesliga (Alemanha), Ligue 1 (França), Premier League (Inglaterra), Serie A (Itália), Eredivisie (Holanda), Primeira Liga (Portugal) ou até mesmo da vizinha Superliga Argentina de Futebol. Falo de uma liga séria, não daquela de 1987, a famigerada Copa União. Muito menos da desprestigiada e falida Primeira Liga.

Algum cartola um pouquinho mais perspicaz teria chamado a atenção dos seus pares para o pronome usado pelo presidente da CBF, Rogério Caboclo, ao referir-se ao perrengue dos clubes em meio à pandemia do novo coronavírus. “Se o futebol parar, vocês estão f…”.

Percebeu? Vocês e não nós.

Embora a Seleção tenha jogado quatro partidas desde o início da crise sanitária, a CBF segue faturando muito com ela explorando justamente o “pé de obra” dos clubes de fora e daqui. Enquanto isso, o caixa da entidade está confortável. O dos times, obviamente, passar por aperto. Até mesmo o cofre do rico e laureado Flamengo — campeão sete vezes nas últimas duas temporadas — pede socorro. Abriu mão de recontratar Rafinha por falta de dinheiro.

Por que os clubes não desapegam da CBF e vivem a aventura da liga?

A resposta é simples: alguns times e cartolas do futebol brasileiro são mais vaidosos do que a própria CBF. Não conseguem dar a mão ao vizinho pelo crescimento do grupo. Cada um escolhe o rumo que bem entende. Portanto, difícil acreditar em uma revolução.

Há, também, uma claríssima falta de liderança. Não existe, hoje, um presidente capaz de agregar a turma para o bem o para o mal. Antigamente, Eurico Miranda e Fábio Koff, por exemplo, assumiam esse papel no extinto Clube dos 13. Alexandre Kalil, Andrés Sanchez e Eduardo Bandeira de Mello tentaram preencher essa lacuna em vão recentemente.

Em vez de reagir, os clubes são cada vez mais pusilânimes, subservientes, cordeirinhos. Com a mudança no Estatuto da CBF, não têm força sequer para eleger presidente. Hoje, o colégio eleitora funciona assim: as 27 federações têm peso três, ou seja, 81 votos. Os 20 clubes da Série peso 2, 40 votos. Os 20 da B peso 1, 20 votos. Juntos os times têm 60 votos contra 81 das federações. As entidades estaduais dificilmente saem do trilho da CBF.

Os clubes também são hipócritas. Flamengo e Vasco tomaram pau dos coirmãos quando foram até o Palácio do Planalto e pressionaram pela volta do futebol naquela visita bizarra ao presidente Jair Bolsonaro. Alguns dirigentes, como Carlos Augusto Montenegro, chamaram Rodolfo Landim e Alexandre Campello de “homicidas”. Um ano depois, no momento mais dramático da pandemia no Brasil, todos concordam com a CBF de que o futebol não pode parar. Quem falava em salvar vidas, agora querem jogar para sobreviver.

No fim das contas, eles se merecem!

 

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