Zé Ricardo deixa o cargo com um título: o Campeonato Carioca. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

10 pitacos sobre o futebol candango, brasileiro e internacional no fim de semana dos títulos estaduais

Publicado em Esporte
  1. Título estadual é parâmetro para o Brasileirão?

Não. Nem deve. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Na era dos pontos corridos, apenas  quatro vezes um clube campeão do Estadual conquistou, no mesmo ano, o Campeonato Brasileiro. O Cruzeiro foi o primeiro em 2003, na tríplice coroa. O time celeste repetiu a dose em 2014. Em 2009, o Flamengo ganhou o Carioca sob o comando de Cuca e o Brasileiro com Andrade. Em 2012, o Fluminense também ganhou os dois. Em 2016, dos três rebaixados para a Série B, três eram campeões estaduais: Inter, Santa Cruz e América-MG.

No Rio, muitas reclamações sobre o fato de o Flamengo ser campeão carioca sem ter conquistado nenhum dos dois turnos — as taças Guanabara e Rio. Em primeiro lugar, isso já aconteceu na história do Carioca. Com o próprio Fluminense, inclusive. Em 1984, o Flamengo conquistou a Taça Guanabara. O Vasco faturou a Taça Rio. Houve um triangular final e o campeão estadual foi… o Fluminense. O tricolor entrou na disputar por ter, ao lado do Flamengo, o maior número de pontos na soma dos dois turnos. E foi campeão justamente em cima do Flamengo, por 1 x 0.

Aconteceu de novo, agora a favor do Flamengo, por culpa de quem aprovou um regulamento esdrúxulo. Apesar da bizarrice assinada pelos clubes da primeira divisão, criticada ao longo de todo o campeonato neste espaço, a conquista rubro-negra é justa. Mas justo, justo mesmo, seria o Campeonato Carioca retomar o regulamento simples de antigamente, que dá para explicar em duas linhas: campeão da Taça Guanabara contra o campeão da Taça Rio. Se o vencedor dois dois turnos for o mesmo, é campeão estadual por antecipação.

Em São Paulo, o título do Corinthians é o primeiro depois da dourada era Tite. Em tese, Fabio Carille mostra que há vida sem o técnico da Seleção Brasileira. Em Minas Gerais, Fred, Robinho e Elias provaram que “panela velha” continua fazendo comida boa na conquista sobre o Cruzeiro. Mas as melhores histórias do capítulo final estão no interior da Região Sul. O título inédito do Novo Hamburgo no Campeonato Gaúcho lembra a conquista do Leicester na temporada passada do Campeonato Inglês. O técnico Beto Campos lembra Tite, último treinador campeão estadual à frente de um time do interior, em 2000, com o Caxias. A festa mais emocionante é a da Chapecoense, pouco mais de cinco meses, para ser exato, 159 dias depois da tragédia.

 

  1. Trintões decisivos

Paolo Guerrero abriu o caminho para o título do Flamengo no Campeonato Carioca. Idade: 33 anos. Robinho, 33, e Elias, 31, decretaram o título do Atlético no Mineiro. O goleiro Matheus, 30, foi um dos responsáveis pela conquista inédita do Novo Hamburgo no Gaúcho. Sem contar Jadson, 33, e Jô, 30, os caras da goleada por 3 x 0 sobre a Ponte Preta no primeiro jogo da decisão.  A experiência pesou nas finais e os trintões fizeram a diferença.

 

  1. Heróis e vilões estrangeiros

O peruano Paolo Guerrero deu ao Flamengo 34º título carioca na história do clube, o sexto invicto, ao empatar o Fla-Flu. De forma irregular, é verdade. Houve, sim, falta de Réver em Henrique. O paraguaio Romero anotou o gol do Corinthians no empate por 1 x 1 que confirmou a conquista da 20ª taça do Corinthians no Paulistão. No Campeonato Gaúcho, os estrangeiros foram vilões. Os três pênaltis desperdiçado pelo Internacional saíram dos pés de jogadores importados:  o ídolo D’Alessandro, Cuesta e Nico López. Na decisão do Mineiro, Ábila até balançou a rede pelo Cruzeiro, mas o troféu ficou com o Atlético-MG.

 

  1. Campeão da Copinha e do Estadual

Bacana a conquista do técnico Zé Ricardo. Motivo: o cara foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2016. Um ano depois, fatura o Carioca à frente do elenco profissional. Neste século, apenas um treinador conseguiu esse feito: Enderson Moreira ganhou a Copinha com o Cruzeiro, em 2007. Cinco anos depois, ganhava a primeira taça como treinador de um time principal pelo Goiás. Faturou mais dois pelo esmeraldino em 2013 e 2016 e um título da Série B do Campeonato Brasileiro em 2012.

 

  1. Onde ser interino significa poder

Na edição deste domingo do Correio Braziliense, escrevi uma matéria mostrando que cinco treinadores que começaram como interinos em seus clubes poderiam ser campeões estaduais. Eles conseguiram.  Zé Ricardo ganhou o Carioca no Flamengo. Fabio Carille é campeão do Paulistão no Corinthians. Pachequinho brindou o Coritiba com o Paranaense.  Silvio Criciúma levou o Goiás à conquista do Goiano.  Wesley Carvalho faturou o Baiano pelo Vitória. Por falar em técnico, os quatro principais estaduais do país têm técnicos campeões estaduais pela primeira vez na vida. Além dos citados Zé Ricardo e Fabio Carille, Roger Machado (Atético) no Campeonato Mineiro e o excelente Beto Campos (Novo Hamburgo) no Gaúcho).

 

Brasileiro gosta é de final…

O público nas principais decisões deste domingo

Flamengo 2 x 1 Fluminense

Público: 68.165 presentes

Corinthians 1 x 1 Ponte Preta

Público: 46.462 presentes

Coritiba 0 x 0 Atlético-PR

Público: 36.457 presentes

Paysandu 2 x 1 Remo

Público: 34.320 presentes

Vitória 0 x 0 Bahia

Público: 30.288 presentes

Atlético-MG 2 x 1 Cruzeiro

Público: 22.411 presentes

 

  1. Geração Diego e Robinho

É curioso olhar para o currículo de dois jogadores que despontaram naquele Santos de 2002 e observar que juntos eles têm apenas quatro títulos estaduais. Acredite se quiser: o primeiro título estadual da carreira do Diego é o Campeonato Carioca de 2017. Robinho foi bi do Paulistão, em 2010 e 2015. Neste domingo, fez até gol de título pelo Atlético-MG. Ambos marcaram o início de uma geração de jogadores que, no início dos anos 2000, começou a sair cada vez mais cedo do país e praticamente não sentiu o gostinho de um título estadual.

 

  1. Enfim, campeões depois da Copa de 2014

Três anos depois do fiasco na Copa de 2014, os centroavantes da Seleção Brasileira no último Mundial voltam a conquistar título jogando. Fred ganhou a Primeira Liga, é verdade, mas foi suspenso no primeiro jogo e deixou o Fluminense na mão no restante do torneio. Nem sequer jogou a decisão contra o Atlético-PR. O centroavante termina o Campeonato Mineiro campeão, artilheiro e autor da assistência para o gol de Robinho. Jô foi o artilheiro dos clássicos na campanha do título do Corinthians. Ressuscitou. Amarelinha neles? Não!

 

  1. Mas não era para ajudar?

Não foi legal a estreia do uso de árbitro de vídeo na primeira partida da final do Campeonato Pernambucano entre Sport e Salgueiro. No lance crucial da partida, o árbitro José Washington consultou o Péricles Bassols, que tinha sete câmeras à sua frente, para saber se havia sido pênalti ou não a favor do Salgueiro. Na minha opinião, não foi pênalti. Além de não ter sido, a dúvida demorou cinco minutos para ser tirada. Não pode ser assim. Estraga o jogo. A primeira impressão foi muito ruim. Está claro que ainda é necessário muito treinamento.

 

  1. Vivendo perigosamente

Pegou muito mal a presença do técnico do Vasco, Milton Mendes, no meio da torcida no Maracanã. Não deveria se expor assim. Como treinador, ele tem vaga fácil na tribuna de honra do Maracanã. Foi assim com Tite na semana passada, no primeiro jogo da final do Estadual. Reconhecido pelos torcedores do Flamengo, Milton Mendes caiu nas redes sociais. Apesar da polêmica, a presença do treinador no meio da torcida não é novidade. Ele fez o mesmo antes da semifinal da Taça Rio ao bisbilhotar a vitória do Fluminense por 3 x 0 sobre o Goiás.

 

  1. A emocionante Chapecoense

Para mim, o título mais emocionante dos Estaduais é o da Chapecoense. Pouco mais de cinco meses, 159 dias depois do acidente aéreo, o técnico Vagner Mancini reconstruiu um elenco do zero e o levou ao bicampeonato catarinense. Simplesmente brilhante. Mancini já foi campeão até da Copa do Brasil com o modesto Paulista, de Jundiaí, em 2005, mas ouso afirmar que esse é o título que o treinador vai guardar com muito carinho no currículo. Na quarta-feira, o clube pode conquistar a Recopa Sul-Americana diante do Atlético Nacional, em Medellín, onde disputaria, em 30 de novembro do ano passado, a Copa Sul-Americana.

 

  1. Acréscimos

Não, eu não esqueci da final do Candangão. A resenha completa da vitória do Brasiliense sobre o Ceilândia por 3 x 2 no último sábado saiu no dia do jogo.  Com a final dos estaduais de Norte a Sul do país, excepcionalmente não falarei de futebol internacional nos pitacos deste fim de semana.

 

 

Campeões estaduais em 2017

Alagoas: CRB

Bahia: Vitória

Ceará: Ceará

Distrito Federal: Brasiliense

Espírito Santo: Atético Itapemirim

Goiás: Goiás

Minas Gerais: Atético-MG

Mato Grosso: Cuiabá

Mato Grosso do Sul: Corumbaense

Pará: Paysandu

Paraíba: Botafogo

Paraná: Coritiba

Rio de Janeiro: Flamengo

Rio Grande do Norte: ABC

Rio Grande do Sul: Novo Hamburgo

São Paulo: Corinthians

Santa Catarina: Chapecoense

Sergipe: Confiança